Siga a folha

Dólar e Bolsa caem na véspera de decisão sobre juros no Brasil e nos EUA

Investidores ainda repercutem dados de vendas no varejo americano e a questão fiscal brasileira

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

O dólar e a Bolsa apresentam queda nesta terça-feira (17), primeiro dia das reuniões de política monetária do Brasil e dos Estados Unidos.

Às 12h47, a moeda caía 0,13%, cotada a R$ 5,501, na contramão do exterior. Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário doméstico, perdia 0,35%, aos 134.637 pontos.

O BC (Banco Central) e o Fed (Federal Reserve, a autoridade americana) anunciarão suas decisões sobre juros amanhã, dia apelidado de "super quarta" pelos mercados.

Na segunda-feira, o dólar fechou em queda firme de 1,01%, aos R$ 5,509, e a Bolsa avançou 0,17%, aos 135.118 pontos - Getty Images via AFP

A expectativa é oposta nos dois países —e grande nos investidores. Por aqui, economistas esperam que o Copom (Comitê de Política Monetária) eleve a Selic para 10,75%, um aumento de 0,25 ponto percentual. Já nos EUA, a projeção é de corte na taxa, ainda que não haja consenso entre os operadores sobre o tamanho do afrouxamento.

O mercado está dividido: enquanto 65% das apostas apontam para um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, as 35% restantes indicam um menor, de 0,25 ponto, segundo a ferramenta FedWatch. Na semana passada, as proporções eram de 30% e 70%, respectivamente.

"O Fed certamente reduzirá suas taxas esta semana. Mas em quanto é a pergunta de US$ 1 milhão", afirmou a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank.

Desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a hora de reduzir os juros havia chegado, a dúvida sobre o ritmo dos cortes ditou o comportamento dos mercados, com sessões de alta volatilidade a cada nova bateria de dados macroeconômicos.


Os juros estão na faixa de 5,25% e 5,50% desde julho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas. Qualquer corte nesta reunião será o primeiro do banco central em mais de quatro anos.

Nesta sessão, os investidores se voltavam para a última divulgação dos EUA antes da decisão, em busca de sinais sobre o tamanho da redução.

De acordo com o Departamento do Comércio, as vendas no varejo americano cresceram 0,1% em agosto na base mensal, ante expectativa de queda de 0,2% de analistas consultados pela Reuters.

O resultado reduziu temores de que a demanda dos consumidores teria caído de forma acentuada. "Observa-se, sim, uma desaceleração da economia do país, em especial no mercado de trabalho, com um ritmo menor de criação de vagas, mas não dá para caracterizá-la como fraca", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso costuma levar operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

A leitura, no entanto, dava sustentação para os títulos ligados ao Tesouro dos EUA, chamados de treasuries, com a curva de juros refletindo a possibilidade de um afrouxamento mais gradual na quarta-feira. O treasury de dois anos —que indica apostas para o curto prazo— tinha alta de 0,04 ponto percentual, a 3,594%, o que fortalecia o dólar ante a maioria das moedas, fortes ou emergentes.

Para o real, porém, outro fator de relevância entra na conta: o possível novo ciclo de aperto na Selic.

Na reunião de julho, o Copom manteve a taxa básica de juros no atual patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva. Desde então, os dirigentes têm reiterado que novas altas estão à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

O mercado financeiro dá como certo que a Selic terá uma nova alta de 0,25 ponto nesta reunião. Dados indicam que a economia brasileira está aquecida e resiliente, o que tende a se traduzir em pressões inflacionárias nos meses seguintes.

As projeções de alta não arrefeceram nem mesmo com a leitura de agosto do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, que mostrou que a inflação teve queda de 0,02% em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, passou a registrar alta menor, de 4,24% —uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Essa perspectiva dava força ao real nesta terça, afirma Mattos, da StoneX. "[Ela tem ajudado na atração de capitais estrangeiros e pode ajudar a manter a taxa de câmbio brasileira em trajetória de queda."

A questão fiscal, no entanto, voltava a preocupar investidores. Na noite de segunda-feira, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que eventos extraordinários, como as queimadas em vários pontos do país e as enchentes do Rio Grande do Sul, "talvez deixem de ser tão extraordinários daqui para frente" por causa das mudanças climáticas.

Para o ministro, se eles se tornarem recorrentes, será necessário adequar o Orçamento para acomodá-los.

"Não penso que seja uma violação, mas se começar a ter a ocorrência cotidiana disso, se virar uma despesa recorrente, vai ter de ser feita uma adequação do Orçamento prevendo recursos. Seria o mesmo que exigir que a pandemia fosse enfrentada dentro das regras do antigo teto de gastos", afirmou.

No domingo (15), o ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a abrir créditos extraordinários para o combate às queimadas na Amazônia e no pantanal, realizando despesas fora do limite de gastos do arcabouço e da meta fiscal.

"Os contratos de juros futuros subiram em todos os vencimentos com intensidade mais forte na ponta longa, dadas as preocupações com o fiscal depois da decisão de Dino", disse o analista Kleber Detoni de Lima, da Necton, em relatório nesta manhã.

Com Reuters

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas