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Versão de Galípolo combativa à inflação muda o jogo do Banco Central

Diretor tem nova atitude após ser indicado para a presidência da autarquia financeira

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Maria Eloisa Capurro
Bloomberg

A súbita conversão de Gabriel Galípolo num árduo defensor do combate à inflação, poucas semanas antes da sua confirmação como novo presidente do Banco Central, mudou as perspectivas para política monetária do Brasil.

Seja uma mudança de visão ou um movimento para ganhar credibilidade, o fato é que a nova postura "hawkish" (dura com a inflação) de Galípolo pegou os investidores de surpresa. Também encorajou as apostas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC começará a elevar a taxa Selic na quarta-feira (18), iniciando um ciclo de aperto ao mesmo tempo em que o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) deve cortar os juros.

Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do Banco Central e indicado para presidência da autarquia - Folhapress

É uma reviravolta notável para o diretor do BC, de 42 anos, que há apenas alguns meses era visto como um emissário de Luiz Inácio Lula da Silva, encarregado de implementar a flexibilização buscada pelo presidente desde o início de seu mandato.

O tom de Galípolo começou a mudar há pouco mais de cinco semanas, e ele prometeu repetidamente fazer o que for preciso para reduzir a inflação. Em 12 de agosto, ele deixou claro que um aumento da taxa estava na mesa.

"O que nos surpreendeu foi a postura dura do Galípolo", comentou Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, que foi uma das primeiras instituições a apostar em alta de juros a partir desta semana e projeta um ciclo de 1,25 ponto percentual. "O que mais nos pegou foi ele dizer que 3,2% é acima da meta, inequivocamente. Mudamos o nosso call da Selic por conta dessa declaração."

O Banco Central não quis comentar.

Galípolo ingressou no BC em 2023 como diretor de Política Monetária, depois de ter trabalhado como secretário-executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que como Lula tem pressionado por juros mais baixos.

Sua propensão inicial para uma política monetária mais "dovish" (ação mais suave com a taxa de juros) ficou clara na votação dividida de maio, quando não houve consenso no Copom sobre a entrega de um sétimo corte consecutivo de 0,50 ponto percentual ou uma redução mais cautelosa de 0,25 pp. Galípolo e todos os membros nomeados por Lula votaram para manter o ritmo de flexibilização, apesar das expectativas de inflação e dos gastos públicos em alta.

Mesmo após ter sido derrotado pela maioria liderada pelo presidente Roberto Campos Neto, a posição dos novos diretores gerou temores de que a instituição inevitavelmente se tornaria mais tolerante com a inflação quando Lula nomeasse um novo presidente e a maioria dos diretores até o fim do ano.

Logo após a reação negativa do mercado que se seguiu ao episódio —que fez o real despencar até 1,7% depois da decisão— Galípolo começou a trabalhar por consenso, dizendo que também havia considerado votar por um corte menor. Em junho, o Copom decidiu por unanimidade interromper o ciclo de flexibilização, pois a moeda mais fraca e o crescimento econômico ainda robusto alimentaram aumento de preços e das expectativas de inflação.

"SEM MEDO DE SANGUE"

Em agosto, ainda tentando se livrar da percepção de ser dovish, Galípolo comparou um banqueiro central que teme aumentos de juros a um estudante de medicina que tem medo de sangue. Mas o que finalmente convenceu os economistas de que ele está falando sério sobre o aperto da política monetária foi sua afirmação de que o BC está "desconfortável" com seus próprios modelos mostrando inflação futura "claramente" acima da meta.

A autoridade monetária prevê inflação anual de 3,2% no primeiro trimestre de 2026, um indicador que não está muito acima da meta de 3%. A novidade é que diferenças assim estreitas costumavam ser descritas em termos mais brandos, como "em torno da meta", mas Galípolo adotou uma postura mais dura.

Em vários discursos ao longo do mês passado, Galípolo deixou claro que a faixa de tolerância da meta de inflação —mais ou menos 1,5 ponto percentual— não é para diminuir o esforço do BC. Muitos investidores interpretaram seus comentários como um reconhecimento do Banco Central de que apenas manter as taxas estáveis não será suficiente para domar os preços.

Em privado, alguns economistas se perguntam se a postura de Galípolo mudará mais uma vez ou se ele sucumbirá aos apelos por flexibilização quando estiver no comando da autoridade monetária. Lula poderia redobrar a pressão sobre seu escolhido, já que a política monetária rígida causa um golpe maior na economia.

Embora Galípolo tenha dito que não gosta de ser rotulado, sua mudança de tom gerou memes nas redes sociais que o mostram como o novo falcão do Copom, visto com inveja pelo colega diretor Diogo Guillen, que tem votado a favor de taxas mais altas, e até pelo atual presidente Campos Neto.

"Galípolo está muito mais hawk do que alguns meses atrás, quando tínhamos ele próximo do extremo dovish", comentou Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil. "Houve uma curva de aprendizado ao longo desse processo de comunicação que tem um divisor de águas muito relevante no 5 a 4", afirmou, referindo-se ao placar dividido de maio.

CREDIBILIDADE

As mudanças de comando do Banco Central em geral levam a uma política monetária mais rígida, de acordo com um artigo de pesquisa de 2017 escrito por Carlos Viana, ex-diretor de Política Econômica do BC, entre outros. Embora essa não seja a única maneira de obter credibilidade, uma postura agressiva pode ser benéfica para um novo chefe de banco central, fazendo com que as expectativas de inflação caiam.

As apostas em alta da Selic estão totalmente precificadas, mas as expectativas de inflação permanecem acima da meta até 2027, uma realidade preocupante que sinaliza que muitos investidores continuam céticos de que ele será capaz de cumprir o mandato do banco.

O governo brasileiro agora espera um crescimento econômico acima de 3% neste ano, e Lula está avançando com planos para impulsionar o consumo aumentando os gastos públicos. O governo já recuou de sua promessa de atingir um superávit fiscal primário no ano que vem, optando, em vez disso, por um orçamento equilibrado.

Os investidores estarão totalmente atentos durante a sabatina de Galípolo no Senado em 8 de outubro. Operadores e alguns economistas já veem a Selic acima de 12% no início do ano que vem.

"O ganho de credibilidade é custoso, demora mais e a perda de credibilidade é muito rápida. É um processo", disse Hirakawa, da Buysidebrazil. "Ele tem que mostrar que o principal para o Banco Central vai ser a inflação, e não a atividade, não uma agenda de desenvolvimento."

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