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O que a Folha pensa Banco Central

Galípolo será teste para a autonomia do BC

Indicado terá de mostrar em atos que busca a meta de inflação sem ceder a pressões de Lula, que perderá bode expiatório

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Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central - Lula Marques/Agência Brasil

Desde meados do ano, Gabriel Galípolo procurava firmar de vez sua indicação ao comando do Banco Central, afinal confirmada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tornaram-se mais frequentes seus pronunciamentos e suas reuniões com representantes da finança e do mundo empresarial. Tratava-se de enfrentar a crise de confiança na política econômica do governo e dúvidas a respeito da conduta de um BC sob nova direção.

A partir de 2025, a cúpula do órgão terá sido majoritariamente nomeada pelo atual presidente da República, que fez insistentes ataques à autonomia da autoridade monetária, à política de juros e até às metas de inflação.

Galípolo mostrou alinhamento nas decisões colegiadas sobre juros, após uma divisão em maio; renovou o apoio ao programa fiscal do ministro Fernando Haddad, da Fazenda; reiterou compromissos rigorosos com o cumprimento das metas para o IPCA. Conseguiu, assim, afastar os temores mais imediatos quanto a sua escolha.

Seu trabalho começa em ambiente de risco elevado. Nos meses de transição, terá papel importante na condução da política monetária em momento de incertezas.

As taxas de juros de mercado apontam para uma alta da Selic, e as expectativas de inflação estão além dos 3% desejados. Há dúvidas sobre o ritmo de relaxamento do aperto financeiro nos EUA, e o real ainda não se recuperou da desvalorização. Não se sabe se o mercado de trabalho aquecido dificultará a política de juros.

Além de gerir expectativas agora, Galípolo terá de mostrar propósitos responsáveis e coerentes ao assumir o BC após a esperada aprovação pelo Senado. Convirá que possa influir na indicação de outros três dirigentes até o final do ano —entre eles, seu substituto na diretoria de Política Monetária.

Comunicações restritas e precisas, a reafirmação do compromisso com as metas e uma equipe qualificada vão mais do que reforçar a credibilidade de Galípolo. Devem permitir também um desafogo mais precoce dos juros altos.

Tal esforço não depende apenas do BC. Um reinício dos ataques do governo terá consequências graves, não importa a atitude que a instituição venha a adotar —de independência ou de rendição a desejos do presidente da República.

A tarefa é, pois, difícil, até por ser também inédita —a primeira transição de comando sob autonomia legal. Quanto mais rapidamente reforçar a credibilidade do Banco Central, maiores as chances de Galípolo contribuir para a estabilização econômica do país.

Lula ajudará se entender que agora faz ainda menos sentido usar o BC como bode expiatório para empecilhos impostos pela realidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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