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Itália ilustra dificuldade europeia em formar governos nos últimos dez anos

Países como Bélgica, Grécia, Espanha, Reino Unido e Alemanha viveram impasses semelhantes

Matteo Renzi, ex-premiê e líder do Partido Democrático, cuja aliança de centro-esquerda sofreu uma grave derrota nas últimas eleições - Andreas Solaro/AFP

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Três semanas se passaram desde as eleições italianas, e nenhum analista político ou a melhor vidente do mundo seriam capazes de prever quem ocupará o Palazzo Chigi, sede do governo italiano. 

O resultado das eleições evidenciou uma situação de quase empate, na qual a coalizão da centro-direita com a extrema-direita saiu em primeiro com 37% dos votos, e o Movimento Cinco Estrelas, em segundo (mas primeiro partido individual), com 32%. 

Na sequência, vem a centro-esquerda, com 22,9%. Portanto, nenhuma força possui apoio suficiente para formar um governo, e nenhuma dessas forças parece disposta a negociar uma coalizão. 

Em outras palavras, a Itália encontra-se em um impasse político cuja saída mais provável deveria ser a realização de novas eleições. Nada garante que nelas não se repita o cenário. Sendo assim, o país fica sem governo ativo.

Essa indefinição governamental parece, por certo, repetir-se no cenário político europeu como um todo. 
Nos últimos dez anos, a própria Itália experimentou, em 2013, uma situação parecida, bem como Bélgica (em 2010 e 2014), Grécia (2014-15),  Espanha (2016-17), Reino Unido (2010 e 2017) e Alemanha (2017-18), entre outros. 

Em alguns casos, como nos de Grécia e Espanha, foi necessária a repetição das eleições. Na Bélgica, em 2010, o processo de negociação durou quase um ano e meio, deixando o país sem governo em plena crise econômica.

Inclusive, nos casos nos quais o processo não foi tão demorado, como no Reino Unido e na Alemanha, o governo que emergiu se formou a contragosto dos interesses e vontades do eleitorado. 

Por exemplo, nas últimas eleições na Alemanha, a CDU e o SPD asseguraram durante a campanha que não voltariam a formar um governo de grande coalizão, e eis que três meses depois da votação eles se viram forçados a se juntarem novamente!

Todos esses casos constituem desafios cruciais à questão da prestação de contas, tão central para a democracia. 

A incapacidade crescente em identificar futuros governos torna imprevisível a ação do futuro governo, dificultando a responsividade do sistema político com a cidadania. 

Ao mesmo tempo, essa situação produz um esvaziamento da função primária da eleição, que consiste na seleção de um governo. 

Isso pode ter como efeito um desinteresse crescente dos cidadãos pelo processo eleitoral, ou incentivá-los a abraçar posturas mais radicais (mais identificáveis).

Em suma, o que esses casos têm em comum? Todos são sistemas parlamentares. Se esse regime é considerado como mais flexível na saída de crises, é bom lembrar que um mandato, ademais de um fim, precisa de um início.

ADRIÁN ALBALA é professor visitante na Universidade Federal do ABC

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