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Em sinal ao Ocidente, Rússia faz maior exercício militar desde a Guerra Fria

China também participará da mobilização, que terá 300 mil homens, um terço das forças russas

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São Paulo

A Rússia anunciou que fará o maior exercício militar desde 1981, quando ainda era o principal país da União Soviética e vivia um dos auges da tensão geopolítica com o Ocidente.

Tanques russos durante o exercício militar Zapad (Ocidente), realizado no ano passado - Serguei Gapon - 20.set.2017/AFP

A motivação agora é a mesma. “A capacidade de defesa na atual situação internacional, que é frequentemente agressiva e hostil a nosso país, justifica [o exercício]”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, nesta terça (28).

Segundo a agência russa Tass, o Ministério da Defesa estipulou em aproximadamente 300 mil o número de homens destacados para a manobra Vostok-2018 (Leste-2018). Isso equivale a um terço de todos os contingentes à disposição de Moscou.

É a maior mobilização desde o Zapad-81 (Oeste-81), ocorrido num momento crucial da Guerra Fria, quando a estagnação soviética levou sua liderança a achar que o confronto com os Estados Unidos era inevitável.

Para adicionar peso simbólico, a rival americana China participará com um número elevado de tropas, 3.200 soldados, além de 900 peças de artilharia e 30 aeronaves. Forças mongóis também devem se unir às potências.

Os jogos de guerra ocorrerão na região siberiana de Zabaikalski, uma área no leste russo que faz fronteira com os dois vizinhos.

A aproximação entre Moscou e Pequim é um balé que ressurgiu a partir do isolamento russo a partir de 2008, quando Vladimir Putin travou a primeira guerra contra a influência ocidental perto de suas fronteiras, na Geórgia.

Os chineses têm investido pesadamente em projetos energéticos no vizinho, sedentos por sua riqueza em hidrocarbonetos.

Os presidentes Putin e Xi Jinping se encontram frequentemente, e têm estreitado também colaboração militar. Pequim é antigo cliente de armas russas, apesar de estar acelerando o desenvolvimento de modelos próprios.

A Rússia, por sua vez, precisa de dinheiro cada vez menos disponível devido às sanções a que está submetida. Elas são decorrentes da anexação da Crimeia da Ucrânia, em 2014. É uma aliança de ocasião, já que o Kremlin vê com suspeita os interesses chineses no seu desabitado Extremo Oriente, mas que foi reforçada pelo isolacionismo dos EUA sob Donald Trump.

As forças russas serão apoiadas por nada menos que 1.000 aeronaves e 36 mil blindados. Ainda não foi divulgado qual simulação ocorrerá.

Peskov disse que mesmo a crise econômica e a discussão sobre a reforma previdenciária no país não devem impedir o exercício, marcado para ocorrer de 11 a 15 de setembro. “Não há alternativa”, afirmou.

Putin está sob pressão nessa frente. Desde que o governo propôs a redução da idade mínima de aposentadoria, em junho, sua popularidade caiu da casa dos 80% para a dos 65%.

O Kremlin anunciou que Putin falará nesta quarta (29) em rede de TV sobre o assunto, a primeira vez que o fará desta forma. Deverá dizer que a discussão será “cautelosa”.

Nesse sentido, os exercícios militares podem ser vistos como um diversionismo, mas a escala e a participação chinesa não permitem a analistas ocidentais achar apenas isso.

No ano passado, a Rússia despertou suspeitas no Ocidente por fazer a versão 2017 do Zapad. Promoveu manobras perto das sensíveis e hoje reforçadas fronteiras dos países bálticos e sugeria um ataque com forças irregulares a um estado soberano —justamente o que acusam Moscou de planejar na região.

Estônia, Letônia e Lituânia, que foram repúblicas soviéticas e hoje integram a Otan (aliança militar ocidental), e estão em constante alerta. Temem, basicamente, ações militares russas análogas às ocorridas na Ucrânia.

Ao fim, a crise anunciada não se consumou. Monitores ocidentais reportaram que o número de soldados deve ter ficado nos 12.700 anunciados então, mas relataram também testes de várias táticas integradas de combate.

Agora, como o número de tropas supera os 13 mil que obrigam notificação compulsória à Organização para Segurança e Cooperação da Europa, integrada por Moscou, a entidade foi avisada.

A Otan também já foi notificada, o que acalmou ânimos, ao menos parcialmente. A Rússia convidou observadores militares da aliança para acompanhar parte dos exercícios, como é praxe.

Segundo disse a agências de notícia o porta-voz da entidade, Dylan White, o tamanho maciço da manobra evidencia de toda forma a “assertividade russa” ao flexionar sua musculatura militar.

Em outra frente correlata, o jornal russo Izvestia relatou que Moscou está enviando dez navios e dois submarinos para o Mediterrâneo, uma das maiores ações navais desde que interveio na guerra civil da Síria, em 2015.

A frota poderá apoiar ofensiva do ditador Bashar al-Assad, aliado de Putin, contra a região rebelde de Idibl. Assad foi salvo pela ação russa, e Moscou, Teerã e Ancara debatem como encerrar a guerra que já matou talvez meio milhão de pessoas desde 2011.

Xi Jinping e Vladimir Putin se cumprimentam durante encontro na África do Sul - Li Tao - 26.jul.2018/Xinhua
 

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