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Principal militar dos EUA pede desculpas por participação em jogo de cena de Trump

Mark Milley caminhou com presidente enquanto ato era reprimido para viabilizar sessão de fotos em frente a igreja

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Washington | The New York Times

A principal autoridade militar dos EUA pediu desculpas nesta quinta-feira (11) por ter participado da caminhada do presidente Donald Trump na Praça Lafayette para uma sessão de fotos, depois que forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para expulsar ativistas pacíficos do local.

"Eu não deveria estar lá", disse o general Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, em discurso em vídeo na Universidade de Defesa Nacional. "Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de que os militares participam da política interna."

Os primeiros comentários públicos de Milley desde a operação de Trump, em que autoridades federais atacaram manifestantes pacíficos para que o presidente posasse segurando uma Bíblia em frente à igreja de St. John, certamente irritarão a Casa Branca.

O presidente Donald Trump, à frente, de gravata azul, caminha junto com Mark A. Milley, de uniforme militar, à dir., em direção à igreja de St. John, em Washington - Brendan Smialowski - 1º.jun.20/AFP

Trump passou dias na sede do governo desde o assassinato pela polícia de George Floyd, em Minneapolis, assumindo posições cada vez mais duras contra o crescente movimento por mudanças em todo o país.

Na quarta, iniciou mais uma briga com os militares, criticando o Pentágono por pensar em rebatizar as bases do Exército que levam nomes de oficiais confederados que lutaram contra a União na Guerra Civil.

A hesitação entre Trump e o Pentágono nos últimos dias demonstra a divisão civil-militar mais profunda desde a Guerra do Vietnã —exceto que, desta vez, os líderes militares, depois de conter os passos no início, agora se posicionam firmemente com os cidadãos que pedem mudanças.

A caminhada de Trump pela Praça Lafayette, segundo líderes militares atuais e anteriores, provocou um momento crítico de reavaliação nas Forças Armadas.

"Como oficial comissionado, foi um erro com o qual aprendi", disse Milley. Ele disse que estava zangado com "o assassinato sem sentido e brutal de George Floyd" e repetiu sua oposição às sugestões de Trump de que tropas federais sejam mobilizadas em todo o país para reprimir protestos.

Amigos de Milley disseram que nos últimos dias ele ficou atormentado por ter aparecido —com o uniforme de combate que usa para trabalhar— atrás de Trump no percurso pela Praça Lafayette, ato que, segundo os críticos, deu um selo de aprovação militar às táticas linhas-duras usadas para expulsar os manifestantes.

O general diz que acreditava estar acompanhando Trump e sua comitiva para passar em revista as tropas da Guarda Nacional e outros agentes da lei fora da Praça Lafayette, segundo autoridades da Defesa.

Nos dias seguintes à sessão de fotos, Milley disse a Trump que estava irritado com o que havia acontecido. Os dois já tinham debatido em 1º de junho, quando Milley envolveu o presidente em uma discussão acalorada no Salão Oval sobre a possibilidade de enviar as Forças Armadas para as ruas.

Milley afirmou que incêndios ocasionais e saques em alguns lugares foram minimizados pelos protestos pacíficos e deveriam ser tratados pelos estados, que comandam o policiamento local.

Trump concordou, mas continuou ameaçando o envio de tropas para as ruas.

Na semana passada, o secretário da Defesa, Mark Esper, convocou uma entrevista coletiva para anunciar que também se opunha a invocar a Lei da Insurreição de 1807 para enviar tropas do Exército em todo o país para reprimir protestos, linha que vários oficiais militares dos EUA dizem que não cruzarão.

Segundo assessores, o presidente está furioso com Esper e Milley desde então.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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