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Ataque que deixou cem mortos no Níger é pior massacre contra civis na região

Ataque não teve autoria reivindicada; país está na linha de fogo dos grupos Boko Haram, Al Qaeda e Estado Islâmico

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Niamei (Níger) | AFP

O ataque a duas aldeias no Níger que deixou cem mortos no sábado (2), na região oeste do Sahel —faixa de clima semi-árido abaixo do deserto do Saara e acima da floresta tropical africana—, foi o maior massacre cometido por jihadistas contra civis, segundo a ONG Acled, que documenta ataques na região.

Os terroristas chegaram em motocicletas às aldeias de Tchombangou e Zaroumadereye, de acordo com Almou Hassane, prefeito da comuna rural de Tondkiwindi, que administra a região. Em um pronunciamento na TV, o primeiro-ministro do país, Brigi Rafini, confirmou que cem pessoas morreram.

O país está na linha de fogo dos grupos terrorristas Boko Haram, Al Qaeda e Estado Islâmico, e a situação é instável. Atentados na região da fronteira com o Mali e Burkina Fasso, no oeste do país, e com a Nigéria, no sul, já haviam deixado centenas de mortos no ano passado.

Soldado do Níger patrulha local de votação antes da chegada do atual presidente do país, Mahamadou Issoufou - Issouf Sanogo - 27.dez.20/AFP

O ataque de sábado, que ainda não foi reivindicado por nenhuma das facções terroristas que atuam na região, mostra que os civis estão "especialmente vulneráveis à violência dos grupos armados e à resposta dos exércitos", disse Ousmane Diallo, da ONG Anistia Internacional.

O massacre também ocorreu no mesmo dia do anúncio do resultado provisório do primeiro turno da eleição presidencial do país, realizada em 27 de dezembro.

Segundo a Comissão Eleitoral, a segunda rodada deve ser disputada em 21 de fevereiro por Mohamed Bazoum, candidato do partido atualmente no poder, e pelo ex-presidente Mahamane Ousmane.

Os resultados, que deram 39,33% a Bazoum e 17% a Ousmane, ainda precisam ser validados pela Corte Constitucional do país, que analisará eventuais recursos apresentados. Ministro do Interior, Bazoum é tido como braço direito do atual presidente, Mahamadou Issoufu, e esperava uma vitória em primeiro turno.

O Níger passou por instabilidade no ano passado após um golpe militar no Mali que levou à renúncia e à prisão do então presidente, Ibrahim Boubacar Keita. A crise preocupou os líderes locais, pois poderia afetar o combate ao terrorismo na região.

Após os atentados a várias bases militares no Níger e no Mali, em 2019 e 2020, a presença militar diminuiu na área, apesar dos esforços dos exércitos nacionais e aliados, incluindo a França.

A violência também agravou antigas tensões na fronteira entre Mali e Níger, local de disputas entre comunidades pelo controle da região, segundo o International Crisis Group (ICG).

A comuna Tondkiwindi, onde ficam as aldeias onde ocorreu o atentado mais recente, é habitada por diversos grupos étnicos: os zarmas, os nômades peuls e os árabes daoussahak. A pressão aumentou nas últimas semanas entre zarmas e peuls, deixando "alguns mortos antes do ataque de sábado", segundo uma pessoa familiarizada com o assunto e que não quis se identificar.

No final de dezembro, um grupo de zarmas matou vários civis peuls (pelo menos dois em Tchombangou, em 23 e 24 de dezembro, e outros em Zaroumadareye, em 30 de dezembro).

Yavn Guichaoua, pesquisador da Universidade de Kent, afirma que o ataque "diz muito sobre o grau de ressentimento de alguns membros de comunidades nômades, recrutados por jihadistas, em relação a outras comunidades muitas vezes vistas como cúmplices do estado".

No domingo (3), o primeiro-ministro do país prometeu "investigações para que esses crimes não fiquem impunes". Ele afirmou ainda que “muito em breve o governo tomará medidas para que as populações destas cidades estejam em segurança e nas melhores condições”.

O presidente dirige nesta segunda-feira (4) um conselho extraordinário de segurança nacional.

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