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Equador vai às urnas para decidir se segue sob influência de Rafael Correa

Candidato apadrinhado pelo ex-presidente, acusado de corrupção, aparece entre líderes nas pesquisas

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Quito

Treze milhões de equatorianos são esperados neste domingo (7) nos centros de votação para decidir se querem ou não voltar a estar sob a influência do ex-presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017) —no país, o voto é obrigatório.

Embora esteja impedido de ser candidato —tanto porque já governou por três mandatos como porque está condenado por corrupção e vive foragido na Bélgica—, Correa é o padrinho político de Andrés Arauz, um economista de 35 anos com trajetória curta na vida pública.

Em um sinal do certo improviso de sua candidatura, Arauz não poderá votar, pois tem domicílio eleitoral no México, onde faz mestrado

Correa espera que Arauz leve adiante suas políticas e que não rompa com ele, como fez o atual presidente, Lenín Moreno, apadrinhado pelo ex-mandatário na eleição de 2017. O racha entre os dois marcou a atual gestão e desgastou a imagem de Moreno, que tem 7% de popularidade e nem tentou se reeleger.

Apoiadores do candidato Andrés Arauz se reúnem antes de seu comício de campanha perto de uma fotografia do atual presidente do Equador, Lenín Moreno, que diz 'Lenín, tchau' - Johanna Alarcon - 4.fev.2021/Reuters

Favorecido pelo boom de commodities, Correa aumentou o gasto público em políticas de redistribuição de renda durante seu mandato, e ainda é lembrado com carinho e lealdade por um setor importante da sociedade.

Isso apesar dos casos de corrupção pelos quais foi condenado e pelo escândalo da Odebrecht —a empreiteira brasileira admitiu ter pago em caixa 2 e em subornos mais de US$ 33 milhões (R$ 177 milhões) durante a gestão de Correa.

Prova de sua popularidade ainda em alta é que Arauz surge como favorito nas pouco confiáveis pesquisas, embora elas apontem para um provável segundo turno.

Os levantamentos de opinião no Equador enfrentam uma dificuldade logística de ouvir amostras representativas em comunidades dos Andes e da região amazônica, sobretudo em tempos de pandemia. Soma-se a isso o fato de a maioria delas apontar para uma cifra grande 
de indecisos, de 40% a 50%.

Esses fatores tornam os resultados das eleições menos previsíveis. Segundo a sondagem mais recente, do instituto Cedatos, Arauz tem 21,8% das intenções de voto e o empresário e banqueiro Guillermo Lasso soma 21,2% —o que os deixa empatados dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Na sequência, aparece o líder indígena Yaku Pérez, com 14,5%.

As porcentagens são baixas, ainda, porque há outros 13 candidatos, mas nenhum tem mais de um dígito nas intenções de voto. No Equador, para ganhar no primeiro turno, o candidato precisa obter 50% dos votos válidos mais um, ou 40% com diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado. Caso isso não ocorra, a eleição pode ir para segundo turno, previsto para 11 de abril.

“A candidatura de Lasso se beneficia do fato de haver dois candidatos fortes na esquerda e que dividirão eleitores, que são Arauz e Pérez. Por outro lado, ele já demonstrou que seu reduto é limitado nas eleições anteriores”, afirma o analista político Simón Pachano.

Em 2017, Guillermo Lasso, 65, perdeu no segundo turno por uma diferença pequena de votos para Moreno (51,1% contra 48,8%). Não quis aceitar o resultado, alegou fraude e tentou levar a população às ruas para pressionar por uma recontagem. Não animou muito mais gente do que seus apoiadores e acabou tendo de jogar a toalha. Agora, tenta novamente, alavancado pelo apoio de Jaime Nebot, 
ex-prefeito de Guayaquil, popular entre os anticorreístas.

A novidade entre os que têm chances de ir ao segundo turno é Pérez, cuja candidatura ganhou força depois dos protestos de 2019 contra o governo de Moreno. O candidato 
almeja ser o primeiro presidente indígena do Equador.

A campanha tem sido marcada por uma disputa de promessas um pouco exageradas. Arauz a comanda, com o compromisso de distribuir US$ 1.000 (R$ 5.388) para 1 milhão de famílias logo de cara e criar um novo imposto à riqueza.

Lasso, embora defenda políticas de austeridade, também garantiu bônus e novas casas para os que perderam emprego durante a pandemia e afirmou que será capaz de 
criar 1 milhão de novos postos de trabalho em um ano.

Um dos problemas que o novo presidente terá de enfrentar é o alto endividamento do Equador, equivalente a 44% do PIB. Arauz culpa Moreno de ter aumentado a dívida e ameaça não pagar o FMI, que emprestou ao Equador U$$ 4,6 bilhões (cerca de R$ 24,8 bilhões). O candidato correísta afirma não querer pagá-la, e Lasso ameaça dizendo que isso desgastaria muito a imagem do país.

A crise do coronavírus, cuja curva de contágio está novamente em alta, promete deixar marcas fortes na economia. O PIB do país diminuiu 9% em 2020, e o desemprego dobrou nos últimos nove meses —está em 8,6%.

Outro assunto de importância será resolver a cisão social causada pelos protestos indígenas de 2019. Se por um lado os sindicatos do setor se fortaleceram e conseguiram evitar o aumento dos combustíveis, outras reclamações ficaram em suspenso.

Uma delas é a demanda de povos originários por mais participação política e reconhecimento cultural e de seus idiomas. Há cerca de 25% de indígenas ou descendentes de indígenas na população do país, que é 
de 17 milhões de habitantes.

O Equador também renovará seu parlamento unicameral, a Assembleia Nacional, com 137 integrantes e escolherá seus cinco representantes no Parlamento andino.


A eleição no Equador

260 observadores internacionais acompanham o pleito, além de 2.540 nacionais

13 milhões de equatorianos estão aptos a votar

2.036 zonas eleitorais estão instaladas no país, enquanto 101 estão no exterior

Quais cargos estão em jogo? 
Presidente, membros da Assembleia Nacional e integrantes equatorianos do Parlamento andino, que reúne 25 representantes de Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Chile.

Tem segundo turno? 
Sim. Se nenhum candidato obtiver 50% dos votos válidos mais um, ou 40% com diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado, haverá segundo turno, marcado para 11 de abril.

O voto é obrigatório? 
Sim para equatorianos com idade entre 18 e 65 anos, e há multa em caso de falta não justificada. Para aqueles com 16 e 17 ou mais de 65 anos, a participação no pleito é voluntária.

Há votação antecipada? 
Não, mas, neste ano, 653 equatorianos participaram do Voto em Casa, que permitiu a pessoas com mais de 50 anos e deficiência física que comprometa 75% ou mais de sua capacidade de locomoção a exercerem esse direito. O recolhimento desses votos foi realizado na sexta-feira (5), por Juntas Eleitorais.

O voto é eletrônico? 
Não, o voto é em papel, mas, neste ano, o Conselho Nacional Eleitoral realiza um teste com eleitores nos EUA, no Canadá e na Argentina para três formas de votação: telemático, em que se usa a internet para transmitir o voto, por meio de um sistema habilitado pelo CNE; eletrônico, mas, diferentemente do Brasil, a urna recebe a cédula, lê o voto e entrega um comprovante para então o eleitor confirmar se a escolha está correta; e por correspondência, com entrega antecipada das cédulas.

Quais as medidas para prevenção do coronavírus? 
O CNE dividiu a votação em faixas de horário de acordo com o último número da carteira de identidade. Quem tem o documento terminando em número par, deve ir votar entre 7h e 12h. Já para os de número ímpar, o horário é entre 12h e 17h. Há também medidas como ir sozinho ao local de votação, manter distanciamento e usar máscara, além da recomendação de levar caneta própria.

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