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Equador: primeiras eleições de 2021 na América Latina

É inédito que 16 candidatos concorram à presidência

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César Ulloa

Cientista político e comunicador. Professor universitário da UDLA e doutor em ciências sociais pela FLACSO-Equador. Seus últimos livros: "No Olho do Furacão. Lei de Comunicação no Equador" (2020) e "Chávez, Correa e Morales: discurso e poder" (2020).

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O Equador é o primeiro país da América Latina a ir às urnas este ano, em 7 de fevereiro. São eleições gerais, onde serão eleitos –para os próximos quatro anos– um binômio presidencial, 137 membros da assembleia e cinco parlamentares andinos.

Caso nenhum candidato atinja a maioria absoluta ou 40% com uma distância de 10 pontos, será realizado um segundo turno. As eleições são marcadas por um governo desgastado, um novo surto de pandemia, um processo de vacinação em fase embrionária, crise econômica e fragmentação política.

Durante a campanha eleitoral foi inaugurada uma nova modalidade de fazer proselitismo e algo semelhante certamente acontecerá nas próximas eleições no Peru e no Chile. O precedente mais próximo já era a Bolívia. No Equador, os passeios, as caravanas e os comícios foram limitados devido às medidas de biossegurança determinadas pelo Governo.

Candidato presidencial Andrés Arauz, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, participa de debate televisionado em Guayaquil - Reuters

As estratégias de propaganda exacerbaram o uso de redes sociais, onde plataformas como TikTok transformaram os candidatos em comediantes de um filme, que possivelmente não pretendiam estrelar em formato digital.

Há dois aspectos que tornam esta eleição especial. A primeira é a importância do voto dos jovens, pois representa aproximadamente 44% dos registros eleitorais. Pessoas a partir dos 16 anos de idade são elegíveis para votar de maneira facultativa.

E o segundo é o número de candidatos para todos os cargos. É inédito que 16 candidatos concorram à presidência e que 283 organizações políticas, incluindo partidos e movimentos nacionais, locais, cantonais e paroquiais, também estão qualificados para a competição eleitoral. Há cinco ou seis vezes mais candidatos do que dignitários.

O número de aspirantes à primeira magistratura do Estado introduziu um cenário de fragmentação e dispersão.

Candidato presidencial pelo partido indígena Pachakutik, Yaku Pérez (centro), ao lado da esposa Manuela Picq e do líder indígena Salvador Quispe, durante campanha em Quito - Rodrigo Buendia/AFP

É muito possível que os candidatos com maiores possibilidades não aumentem o voto a seu favor, pois este poderia ser distribuído sem qualquer lógica entre tantos concorrentes, além do fato de que existem vários candidatos com a mesma tendência, apesar de ter sido uma constante na construção simbólica no discurso dos participantes se apresentar como apolítico. Parece que o uso da ideologia é funcional para os diferentes segmentos do eleitorado.

As pesquisas têm sido os grandes protagonistas, apesar da impossibilidade de coletar informações pessoalmente. Nunca houve antes um número tão grande de resultados circulando através das redes.

A maioria deles coincidiu em três candidatos com mais possibilidades (Andrés Arauz, Guillermo Lasso e Yaku Pérez), mas não na posição dos dois primeiros nem em sua diferença de votos. Entretanto, após uma semana, ainda há 40% que ainda não decidiram sua preferência. Estes dados são fundamentais, devido ao absenteísmo, à fragmentação e ao voto oculto.

Dicotomia na eleição

Nesta corrida estão em disputa duas grandes orientações políticas com seus projetos econômicos: uma que provém da Revolução Cidadã e próxima aos governos do Socialismo do século 21, sob a liderança do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) com seu candidato, Andrés Arauz, e a outra, que é contrária, mas com nuances diferentes em duas opções.

Por um lado, a versão mais liberal liderada pelo candidato banqueiro Guillermo Lasso e, por outro, o indigenismo que defende os direitos da natureza contra o extrativismo de Yaku Pérez por Pachakutik.

A eleição está presa na dicotomia correísmo versus anti-correísmo, porém, este último vai da extrema esquerda, passando por centro-direita e esquerda para a direita.

Ou seja, não é um confronto ideológico, mas um confronto contra a liderança do ex-presidente Correa e o que ela significou para a política: a constituição de um modelo hiperpresidencialista que está consagrado na Constituição de 2008, a configuração de um sistema partidário predominante, uma democracia delegativa que faz o presidente governar sem responsabilidade porque o povo confia nele.

Quanto à economia, as eleições abrem a discussão sobre três modelos por parte dos candidatos. Por um lado, há a economia centralizada com o protagonismo total do Estado proposto pela Revolução Cidadã.

Em segundo lugar, há a proposta de Guillermo Lasso de uma economia de livre mercado com vislumbres de ajuda social sem que isso o torne um social-democrata e a opção que se apresenta como radical à não utilização dos recursos naturais (mineração e petróleo), pois aposta na economia verde.

Agenda inevitável para os candidatos

As consequências da pandemia condicionaram as ofertas dos candidatos em dois fatos: a execução de um plano de vacinação em massa e a geração de empregos. A primeira se responde porque o Equador está localizado nos primeiros lugares em taxas de mortalidade no mundo e a segunda, porque no último ano cerca de 600.000 empregos foram perdidos de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC). As outras propostas ocupam um lugar residual, ainda que em terceiro lugar se exige enfrentar a insegurança e a violência.

Um tema que jogou sozinho na campanha e que teve um tratamento diferenciado por parte dos candidatos, ou seja, de maior e menor intensidade, é a luta contra a corrupção e a impunidade, especialmente para os processos judiciais que registram sentenças firmes contra um número significativo de ex-funcionários públicos que estiveram envolvidos nos casos da Odebrecht, que atravessaram a realidade política de vários países da América Latina. A oferta de vários tem sido a de recuperar o que foi roubado e fazer obras com ele.

As grandes questões são várias quando ao final desta análise há 40% de eleitores indecisos. A verdade é que nenhum candidato explicou como levar adiante suas propostas econômicas, devido ao imediatismo de suas mensagens e à falta de interesse dos cidadãos pela política diante da crise que a maioria da população está atravessando devido à pandemia.

*Tradução de Maria Isabel Santos Lima

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