Ucrânia quer zona desmilitarizada em usina após troca de acusações sobre ataques
Tensão aumenta em Zaporíjia, e chefe da ONU afirma que bombardeios são ação suicida
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A situação na usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, voltou a se agravar nesta segunda-feira (8). Tropas da Rússia, que ocupam o local no sudeste da Ucrânia, acusaram Kiev de atacar o complexo da era soviética durante a madrugada, danificando linhas de alta tensão.
Os dois países em guerra têm trocado acusações diárias sobre ataques à usina, e organizações internacionais já manifestaram preocupação com um potencial incidente. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse, após o mais recente episódio, que qualquer ação contra uma central nuclear configura um ataque suicida.
O português, que viajou ao Japão para o marco de 77 anos do ataque com bomba nuclear a Hiroshima, voltou a pedir que a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), liderada pelo argentino Rafael Grossi, possa ter acesso a Zaporíjia para avaliar a situação.
A Ucrânia negou que tenha realizado o ataque e pediu que forças de paz sejam destacadas para o local —que, apesar de ocupado por tropas russas, ainda é operado por funcionários ucranianos— e que uma zona desmilitarizada seja formada no entorno.
"Pedimos a todos os nossos parceiros que retirem os invasores do território da usina", disse Petro Kotin, chefe de Energoatom, a empresa estatal de energia nuclear. "A presença de forças da paz nessa zona e a retomada do controle para o lado ucraniano resolveriam o problema."
Kotin afirmou que o principal perigo consiste em um projétil atingir contêineres de combustível nuclear altamente radioativo e disse que, se isso ocorrer, seria impossível avaliar a dimensão da catástrofe.
A situação preocupa, entre outros fatores, pelo histórico regional com acidentes nucleares. Foi na Ucrânia soviética que o acidente na usina de Tchernóbil, em 1986, relegou consequências por décadas.
Moscou também afirma reconhecer o potencial "extremamente perigoso" —nas palavras do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov— de ataques a Zaporíjia. A jornalistas ele cobrou que o Ocidente assuma um papel. "Esperamos que países que têm influência sobre a Ucrânia usem isso para fazê-los parar com os bombardeios."
O Kremlin, segundo informou a agência RIA, se disse pronto para receber uma equipe da Aiea no local, mas alega que Kiev está interessada em não permitir a entrada de uma delegação independente. Em outras oportunidades, a Ucrânia reforçou que um movimento assim legitimaria a presença russa.
A usina foi tomada por tropas russas em 4 de março, poucos dias após o início da guerra. A conquista se deu depois de um ataque iniciar um incêndio no local. A administração da usina negou que houvesse risco de contaminação nuclear, mas o episódio foi marcado por ampla desinformação, ecoada inclusive por autoridades ucranianas.
Construído entre 1985 e 1989, Zaporíjia é o maior complexo do tipo na Europa. Tem seis reatores do tipo VVER, modelos considerados mais seguros do que os RMBK usados em Tchernóbil, mas não é desenhado para receber tiros ou bombas. Cerca de 25% da energia do país vem dali.
Recentemente, os EUA acusaram a Rússia de usar a usina como uma espécie de escudo nuclear, de forma a inibir que soldados ucranianos respondam aos ataques por temerem um acidente de alto risco.
Ainda nesta segunda, o líder designado por Moscou para comandar a ocupação na região de Zaporíjia, Ievguêni Balitski, assinou um decreto para organizar um referendo de anexação à Rússia, informou a agência de notícias RIA.
"Com base no princípio da livre escolha, declaramos nossa intenção de realizar um referendo sobre a entrada na Federação Russa; somos um só povo e estaremos juntos", diz um comunicado citado pela agência.
Com Reuters e AFP
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