Siga a folha

Índia censura documentário da BBC sobre premiê Modi

Série, classificada pelo governo de 'peça de propaganda', aborda papel de primeiro-ministro em distúrbios de 2002 no país

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A Índia censurou um documentário da rede britânica BBC que questiona o papel do hoje premiê Narendra Modi nos distúrbios de Gujarat em 2002. Compartilhar trechos em redes sociais também foi proibido.

A primeira das duas partes de "Índia: A Questão Modi" foi lançada em 17 de janeiro e aborda o início da vida política do primeiro-ministro. Ele era governador do estado de Gujarat, no oeste da Índia, quando tumultos entre comunidades locais deixaram mais de mil mortos —em sua maioria, muçulmanos.

A violência começou após um trem com peregrinos hindus ser incendiado, matando 59 pessoas.

O primeiro-ministro Narendra Modi durante entrevista coletiva após sessão de abertura do Parlamento, em Nova Déli - Sajjad Hussain - 7.dez.22/AFP

Organizações de direitos humanos estimam que o número de mortos nos distúrbios foi pelo menos o dobro do contabilizado oficialmente. À época, a condução do episódio foi criticada por nações ocidentais, e Modi foi posteriormente questionado por uma suposta cumplicidade com a violência.

De acordo com o documentário da BBC, consta em um documento do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido que Modi pediu à polícia para não intervir em agressões contra grupos muçulmanos. "A campanha sistemática de violência tem todas as características de uma limpeza étnica", diz o papel.

De acordo com o ministro indiano de Informação e Radiodifusão, Kanchan Gupta, em post no Twitter no sábado (21), o governo usou leis de emergência para censurar o documentário. A BBC ainda não havia lançado a produção no país, mas o vídeo estava disponível em alguns canais no YouTube.

As normas, em vigor desde 2021, permitem o bloqueio de informação em caso de emergência.

O governo determinou que o Twitter banisse mais de 50 posts com links para a série, e o YouTube foi instruído a bloquear publicações com o vídeo. As plataformas, segundo Gupta, cumpriram as ordens.

Modi nega as acusações de que se omitiu. Em 2012, uma equipe indicada pela Suprema Corte para apurar o papel do então governador na violência chegou à conclusão, em um relatório de 541 páginas, que não há evidências para processar o atual primeiro-ministro. No ano seguinte, Modi foi escolhido candidato a premiê de seu partido, o nacionalista hindu Bharatiya Janata. Ele venceu as eleições de 2014 e 2019.

Na semana passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Arindam Bagchi, classificou o documentário da BBC de uma "peça de propaganda" criada para promover uma "narrativa mentirosa".

"O viés, a falta de objetividade e a contínua mentalidade colonial são visíveis. Esse filme ou documentário é um reflexo da agência e dos indivíduos que estão vendendo essa narrativa novamente", afirmou.

Mais de 300 ex-juízes, veteranos e burocratas indianos fizeram uma declaração contra o documentário. A série, afirmam, é uma "acusação visivelmente motivada contra nosso líder, um compatriota indiano e um patriota". "Outra vez o preconceito implacável da BBC contra a Índia ressurgiu na forma de um documentário."

Segundo o Guardian, a BBC afirmou que o tema da produção foi "rigorosamente pesquisado de acordo com os mais altos padrões editoriais". Na última quinta (19), o parlamentar trabalhista britânico Imran Hussain perguntou ao primeiro-ministro Rishi Sunak se ele concordava com o documento que responsabilizava Modi pelos atos de violência. "É claro que não toleramos perseguição em lugar algum, mas não estou certo de que concordo totalmente com a caracterização que o senhor fez", respondeu o político conservador.

A oposição na Índia também reagiu. A parlamentar Mahua Moitra publicou neste domingo (22) o link do documentário no Twitter e pediu aos seus seguidores para assistirem à série enquanto puderem.

"Não fui eleita para representar a maior democracia no mundo para aceitar censura", afirmou. "O que a BBC prova ou não cabe aos telespectadores decidir. Mas as raivosas ações de censura do governo da Índia são inaceitáveis", acrescentou ela, em outra publicação, horas depois.

Com Reuters

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas