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Descrição de chapéu Eleições EUA

Convenção republicana reúne ex-rivais e reforça domínio de Trump

No segundo dia do evento, nomes como Ron DeSantis e Nikki Haley discursam em apoio ao ex-presidente

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São Paulo

O segundo dia da convenção do Partido Republicano em Milwaukee, no estado de Wisconsin, serviu como uma vitrine da transformação radical pela qual a sigla passou desde que foi completamente tomada pela figura e ideologia do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

A relação de nomes que estavam previstos para discursar nesta terça-feira (16) era repleta de ex-rivais e detratores de Trump dentro do partido e que agora correm para apoiá-lo: o governador da Flórida, Ron DeSantis, que já disse que o ex-presidente prejudica os republicanos; a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley, que já chamou Trump de incapaz; o senador Marco Rubio, que já disse que o candidato à Casa Branca era um vigarista e acaba de ser preterido como vice da chapa, entre outras figuras de maior ou menor relevância no partido.

Participantes da convenção republicana seguram cartazes durante evento em Milwaukee, no estado de Wisconsin; no da esquerda, se lê 'América de Trump em primeiro lugar, América de Biden em último' - Angela Weiss - 16.jul.24/AFP

No seu discurso, Haley enfatizou a união, e afirmou que apoia a candidatura de Trump de maneira inequívoca. A ex-governadora, que disputou as primárias contra o ex-presidente enfatizando que ele traria caos, disse que o mundo era um lugar mais seguro durante a Presidência de Trump e que mais quatro anos de Joe Biden (ou mesmo um dia de Kamala Harris) seriam desastrosos para o país.

DeSantis também atacou Biden, que sofre pressão interna dos democratas por conta da sua idade, e ironizou: "Não podemos aguentar mais quatro anos de um presidente saído do filme 'Um Morto Muito Louco"'. O governador da Flórida afirmou que os democratas querem impor "ideologia de gênero" ao país e que não conseguem dizer o que é uma mulher —um ataque a pessoas trans.

Entretanto, tão reveladora quanto a fila de ex-adversários que agora carregam a bandeira do trumpismo é a lista dos ausentes. Não vão comparecer à convenção em Wisconsin políticos que já foram o centro de gravidade do partido e que, diferentemente dos presentes, continuam criticando Trump —uma posição que, atualmente, pode significar suicídio político para republicanos e ostracismo dentro do partido.

O senador Mitt Romney, que em 2012 conquistou a nomeação do partido para disputar a Casa Branca contra Barack Obama, perdendo por apenas dois estados, não estará em Milwaukee.

Romney sustenta que Trump é uma ameaça à democracia e votou com democratas a favor do impeachment do ex-presidente após a invasão do Capitólio em janeiro de 2021 —o Senado, controlado por republicanos, barrou o afastamento de Trump à época.

O distanciamento entre Romney e seu partido foi tamanho que o político anunciou, no ano passado, que não tentaria a reeleição ao Senado este ano.

Também não devem comparecer à convenção o ex-presidente George W. Bush, eleito para dois mandatos, e o ex-vice-presidente Mike Pence, que se afastou de Trump depois de ter recusado o pedido do então presidente para adiar a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.

Por essa decisão, o líder republicano chegou a defender manifestantes que gritaram "enforque Mike Pence" durante a invasão do Capitólio, em que apoiadores de Trump tentaram impedir a certificação.

Analistas ouvidos pela imprensa americana apontam que essa experiência pode ter ajudado Trump a escolher seu candidato a vice desta vez: o senador J.D. Vance já disse que, diferentemente de Pence, não certificaria os resultados da eleição de 2020. O congressista defende, sem provas, a narrativa de que o pleito foi fraudado.

A escolha de Vance como vice também reforça a percepção de que o controle de Trump sobre o Partido Republicano é tanto que ele não está mais preocupado em ampliar sua base interna. Os dois outros cotados, Marco Rubio e o governador da Dakota do Norte, Doug Burgum, dialogavam com outras alas da sigla —Rubio tem ascendência latina e fala espanhol, podendo ser uma ponte com esse eleitorado, enquanto Burgum é um nome tradicional do empresariado republicano e poderia acalmar possíveis preocupações de investidores.

Em vez disso, o ex-presidente escolheu Vance, representante da classe operária branca em regiões industriais empobrecidas e com posições à direita até mesmo de Trump em questões como a do aborto —o senador é a favor de uma lei federal que proíba a interrupção da gravidez em todo o país, derrubando a proteção ao procedimento em estados mais progressistas.

Em outras áreas, Vance ecoa as posições de Trump, inclusive neste que vem sendo um dos temas-chave das eleições presidenciais dos EUA: imigração. O senador já enfatizou que "as fronteiras abertas de Joe Biden" significam que "mais drogas ilegais e mais eleitores democratas estão invadindo o país".

A fala é uma alusão à ideia de que a entrada de imigrantes é tolerada pelo partido adversário porque essas pessoas, em tese, tendem a apoiar democratas.

Não por acaso, o tema do segundo dia da convenção republicana é "Make America Safe Again" (faça a América segura de novo), uma variação do slogan de campanha de Trump "faça a América grande de novo". O foco dos discursos de candidatos ao Senado e outro palestrantes é a criminalidade nos EUA, atrelada tanto por Trump quanto por seus apoiadores à imigração ilegal e à suposta ação de criminosos vindos da América Latina.

Estavam previstas falas que destacassem crimes violentos cometidos por imigrantes em situação irregular, como a morte da estudante de enfermagem Laken Riley em fevereiro. De acordo com a polícia, Riley foi assassinada por um imigrante venezuelano que havia recebido permissão para ficar nos EUA enquanto esperava uma decisão da Justiça sobre sua permanência.

Os palestrantes devem relacionar este e outros crimes ao governo Biden, que enfrenta um número recorde de imigrantes entrando nos EUA por dia, e apoiar as propostas de Trump para a questão. Se eleito, o ex-presidente pretende aumentar operações contra pessoas em situação irregular, realizar deportações em massa e até construir campos de detenção para imigrantes.

Assim como no primeiro dia do evento, Trump fez uma aparição para ouvir alguns dos discursos, mas não falou —isso deve acontecer na quinta (18), quando deve dar seu primeiro pronunciamento mais longo desde a tentativa de assassinato no sábado (13). O ex-presidente estava com um curativo na orelha direita, onde foi atingido de raspão por uma bala durante um comício na Pensilvânia, e foi recebido por apoiadores sob fortes aplausos.

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