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Eleição presidencial dos EUA não terminou após atentado contra Trump

Grupo de eleitores indecisos é pequeno, e ataque contra republicano pode ter pouco efeito em um país tão polarizado

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Gideon Rachman
Financial Times

Uma das declarações mais famosas de Donald Trump foi feita em 2016: "Eu poderia estar no meio da Quinta Avenida e atirar em alguém, e não perderia nenhum eleitor".

Essa piada tem um traço de verdade. Os apoiadores principais de Trump são incrivelmente leais, permanecendo ao lado de seu herói apesar de ele ter sido indiciado com 91 acusações criminais e ter feito inúmeras declarações violentas ou vulgares que teriam encerrado a carreira de políticos mais convencionais.

O candidato à Presidência dos EUA Donald Trump é retirado do placo de um comício por agentes do Serviço Secreto depois de ser atingido por um tiro na cidade de Butler, na Pensilvânia - Rebecca Droke - 13.

Mas enquanto atirar em alguém pode não fazer com que os eleitores de Trump o abandonem, já há especulações de que ser alvo de tiros, e levemente ferido, pode virar decisivamente a eleição presidencial a seu favor. Após a tentativa de assassinato deste fim de semana, os mercados de apostas se moveram a favor de Trump. Nate Silver, especialista em análise de pesquisas, acredita que "isso, no mínimo, torna Trump muito mais simpático" aos eleitores. Ele acredita que o grande número de americanos que não gostam de nenhum dos candidatos "pode achar mais fácil agora votar em Trump".

Um político normal poderia mesmo esperar ganhar um voto de simpatia significativo após sobreviver a uma tentativa de assassinato. Mas Trump é uma figura altamente polarizante. Milhões de eleitores "nunca Trump" provavelmente não se tornarão trumpistas, por mais chocados que estejam com a vil tentativa de assassinato. Portanto, o medo expresso em particular por alguns membros do Partido Democrata de que a eleição tenha acabado é muito fatalista.

O grupo de eleitores indecisos nos EUA é pequeno. Alguns podem se sentir inspirados pela bravata com a qual Trump superou um atentado contra sua vida. Mas outros podem ficar perturbados se houver muita raiva na convenção republicana desta semana em Milwaukee, onde Trump deve aceitar a nomeação de seu partido.

Muito dependerá de como o próprio Trump conduzir as coisas em seu discurso de aceitação. Sua primeira resposta nas redes sociais foi pedir calma e unidade nacional. Manter essa mensagem seria uma jogada inteligente para sua campanha e para o país. Se Trump se entregar ao seu gosto por retórica polêmica sobre vingança, ele inflamará paixões e poderá afastar alguns eleitores indecisos.

A campanha de Trump certamente usará a tentativa de assassinato para reforçar dois temas-chave da campanha: força e vitimização. No entanto, a vingança também é um tema favorito de Trump, um que ele acha difícil resistir. No ano passado, ele disse em um comício: "Eu sou seu guerreiro. Eu sou sua justiça. E para aqueles que foram prejudicados e traídos, eu sou sua retaliação".

Os apoiadores de Trump já estão culpando os democratas pelo atentado. O senador J.D. Vance de Ohio, agora companheiro de chapa de Trump, acusou a campanha de Biden de criar um clima político tóxico que "levou diretamente à tentativa de assassinato do presidente Trump".

O sentimento de vitimização entre os republicanos é provavelmente sincero em alguns aspectos. Ex-assessores de Trump como Steve Bannon e Peter Navarro estão cumprindo penas de prisão por se recusarem a testemunhar perante o Congresso. Trump ainda aguarda sentença por pagar dinheiro para silenciar uma estrela pornô.

Mas a declaração republicana de que os democratas encorajaram a violência política também é um esforço calculado para neutralizar o principal tema da campanha de Biden —que Trump é um ditador em potencial e uma ameaça à democracia americana.

Essa tática pode colocar os democratas em uma posição defensiva por um tempo. A equipe de Biden retirou seus anúncios de campanha imediatamente após o tiroteio. No entanto, não seria realista esperar que os democratas abandonassem seu argumento central pelo resto da campanha. O fato de alguém ter tentado matar Trump não significa que sua tentativa de subverter a eleição presidencial de 2020 nunca aconteceu, ou que agora seria injusto mencionar a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021.

Na verdade, é crucial entender as diferenças entre os eventos de 6 de janeiro e a tentativa de assassinato de Trump no último fim de semana. Pessoas inocentes foram mortas em ambas as ocasiões. Mas em 6 de janeiro, a multidão que atacou o Capitólio foi encorajada pelo próprio Trump. Em contraste, Biden e sua equipe nunca incitaram a violência ou se recusaram a aceitar o resultado de uma eleição.

A maioria dos americanos já tomou sua decisão sobre a invasão do Capitólio e sobre Trump. A tentativa de assassinato no fim de semana não deve alterar esses julgamentos.

Por outro lado, o debate televisivo do mês passado entre Trump e Biden apresentou informações novas para milhões de eleitores. O desempenho caótico de Biden ressaltou questões sobre sua capacidade para mais quatro anos no cargo. Biden, encorajado por sua família, está resistindo às pressões para se afastar em favor de um candidato mais jovem e afiado.

Essas pressões estavam aumentando antes do atentado contra Trump. A tentativa de substituir Biden como candidato democrata pode perder força agora, já que o presidente e seus apoiadores argumentam que este não é o momento de causar mais um choque no sistema americano. Mas o tempo está se esgotando para os democratas e eles não podem se dar ao luxo de abandonar a questão. Faltam apenas cinco semanas para a sua própria convenção em Chicago.

A fragilidade de Biden, e não a tentativa de matar Trump, ainda parece ser o fator mais capaz de mudar o jogo nas eleições de 2024.

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