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Saiba quem foi Ismail Haniyeh, o líder morto do Hamas

Chefe do grupo terrorista palestino vivia em um exílio luxuoso no Qatar desde 2019

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São Paulo

Filho do grande campo de refugiados de Al-Shati, no norte da Faixa de Gaza, o líder assassinado do Hamas, Ismail Haniyeh, combinava pragmatismo e moderação com uma retórica inflamada contra Israel.

Morreu às 2h desta quarta (31, 19h30 de terça em Brasília) como viveu, em uma condição provisória de abrigo. Segundo a Guarda Revolucionária do Irã, ele estava em uma casa discreta que abriga veteranos da guerra do país com o Iraque, nos anos 90, no norte de Teerã.

Haniyeh ajuda o xeque Ahmed Iassin, então líder espiritual do Hamas, a falar ao telefone em Gaza, em 2003 - Reuters

Melhor alojamento ele tinha em sua casa, no Qatar, onde vivia um exílio luxuoso bancado pela monarquia local e, segundo os serviços de segurança israelenses, negócios imobiliários rentáveis de sua família na Faixa de Gaza.

Ele mudou definitivamente para o país do golfo Pérsico em 2019, dois anos depois de assumir a chefia da ala política do Hamas. Ele era seu principal líder, mas não o único: as decisões da guerra contra Israel em Gaza são tomadas na prática pelo linha-dura Yahya Sinwar, por exemplo.

Com isso, era visto como um moderado, dentro do que é possível chamar de moderação no grupo terrorista fundamentalista islâmico, nascido em 1987 com a revolta palestina conhecida como intifada.

De todo modo, era recebido frequentemente em Moscou e Ancara, para ficar em dois aliados regionais do Hamas que não têm uma agenda comum. Amparou sua fama episódios como seu papel na libertação de um repórter da BBC que havia sido sequestrado por islamistas em Gaza, em 2007.

Haniyeh ingressou no Hamas no mesmo ano da fundação do grupo, quando formou-se em literatura árabe na Universidade Islâmica de Gaza. Lá, havia se envolvido com a política anti-israelense influenciada pela Irmandade Muçulmana, a organização surgida no Egito que desde 1928 inspira grupos radicais islâmicos mundo afora, como os terroristas da Al Qaeda.

Aproximou-se do líder do Hamas, o frágil xeque Ahmad Iassin, de quem tornou-se protegido e uma espécie de secretário particular. É famosa uma fotografia de 2003 em que ele segurava o telefone para o xeque, que era cego e tetraplégico.

O religioso, popular entre os moradores de Gaza por seu trabalho social que acabou confundido com o Hamas em si, foi morto em um ataque israelense no ano seguinte. Haniyeh tornou-se o principal líder do grupo desde então,

Em 2006, ele foi eleito premiê palestino, iniciando o processo de divisão que opôs o Hamas ao Fatah, a principal facção palestina, que comanda a Autoridade Nacional reconhecida na ONU como embrião de um eventual Estado.

No ano seguinte, ele rompeu com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, que lutava para consolidar seu poder após a morte do fundador da causa, Iasser Arafat, em 2004. Ao fim, o Hamas tomou a Faixa de Gaza para si, deixando a Cisjordânia para o Fatah.

Apesar de ser um grupo sunita, a denominação majoritária do islamismo, o Hamas aproximou-se do Irã, centro do xiismo, ramo minoritário da religião. O ódio comum a Israel uniu os parceiros e, em 2022, Haniyeh disse à rede qatari Al Jazeera que sua organização recebia US$ 70 milhões anuais de Teerã.

Com isso e uma política leniente do governo de Binyamin Netanyahu, que via no fortalecimento do Hamas uma forma de dividir e enfraquecer os palestinos, o grupo armou-se fortemente.

Não chega a ser um Hezbollah, o grupo xiita libanês também apoiado pelo Irã que tem status de força regional, mas capaz o suficiente de lançar o mais mortífero ataque da história de Israel, em 7 de outubro do ano passado.

Além dos 1.200 mortos e 255 reféns, a ação ousada legou uma guerra que devastou Gaza, matando quase 40 mil palestinos no processo, segundo as contas do Hamas. Apesar de ter declarado que acabaria com o grupo, Netanyahu até aqui não havia o dobrado totalmente militarmente.

O conflito acabou aumentando a divisão entre Haniyeh, que buscava negociações que permitissem a sobrevivência política do Hamas, e Sinwar. Isolado em Gaza, o líder militar tem a última palavra nas ações em solo e, em vários momentos, cortou comunicações com o aliado no Qatar.

A guerra cobrou preço pessoal do líder agora morto. Em 10 de abril, três de seus filhos e quatro netos foram mortos em um ataque aéreo de Israel em Gaza. Ele se manteve desafiador: "Todo nosso povo e todas as famílias de Gaza pagam um preço alto em sangue, e eu sou um deles", afirmou.

Haniyeh é considerado um terrorista desde 2018 pelos Estados Unidos, devido à morte de pelo menos 17 americanos em ataques atribuídos ao Hamas. Nota de rodapé da complexidade das relações no Oriente Médio, o mesmo Qatar que abrigava o líder é sede de uma das principais bases da Força Aérea dos EUA na região.

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