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Descrição de chapéu The New York Times Reino Unido

Como distúrbios anti-imigrantes explodiram no Reino Unido

Movimento de extrema direita, alimentado por desinformação, trouxe medo e violência para cidades no país

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Nader Ibrahim Peter Robins
Londres | The New York Times

Após mais de uma semana de violência esporádica de extrema direita, a febre pareceu diminuir na Grã-Bretanha na noite de quarta-feira (7). Uma lista não confirmada de mais de 30 locais associados ao sistema de migração, amplamente divulgada online, atraiu poucos potenciais vândalos, mas provocou uma forte presença policial e grandes multidões de manifestantes contrários à extrema direita.

Durante os dias anteriores, tumultos racistas e anti-imigrantes explodiram em mais de uma dúzia de cidades em toda a Inglaterra e Irlanda do Norte. Mais de 400 pessoas foram presas, de acordo com um grupo de chefes de polícia. Muitos já compareceram a tribunais. Alguns já estão começando a cumprir penas de prisão.

A faísca para os tumultos foi a raiva por um ataque com faca que matou três meninas jovens e notícias falsas que se espalharam na internet sobre o criminoso responsável.

Manifestantes seguram cartazes que dizem "Sem espaço para o racismo" durante uma contramanifestação contra um protesto anti-imigração convocado por ativistas de extrema direita no subúrbio de Walthamstow, em Londres - Benjamin Cremel - 7.ago.24/AFP

Aqueles que participaram dos tumultos permanecem uma minoria pequena e impopular, da qual até mesmo políticos que buscam canalizar preocupações públicas mais amplas sobre imigração tentaram se distanciar. Mas isso não tornou fácil acabar com a violência.

Aqui está uma linha do tempo de como a agitação se desenvolveu:

Segunda-feira, 29 de julho

Um ataque a facadas que chocou o país

Um agressor armado com faca invadiu uma aula de dança e confecção de pulseiras para jovens fãs de Taylor Swift em Southport, uma cidade costeira no noroeste da Inglaterra. Seu ataque matou três meninas: Alice Dasilva Aguiar, 9 anos; Elsie Dot Stancombe, 7 anos; e Bebe King, 6 anos. Outras oito crianças e dois adultos ficaram gravemente feridos.

Policiais protegem o escritório da 'Waltham Forest Immigration', que presta serviços para imigrantes residentes no Reino Unido, no subúrbio de Walthamstow, em Londres. Grupos de extrema direita convocaram manifestação no local - Benjamin Cremel - 29.jul.24/AFP

A polícia prendeu um adolescente da cidade vizinha de Banks. Com regras rígidas de privacidade para suspeitos com menos de 18 anos, as autoridades inicialmente o identificaram apenas por sua idade e onde morava, acrescentando logo depois que ele havia nascido em Cardiff, País de Gales. Relatos de notícias britânicas posteriores indicaram que seus pais haviam vindo para o país de Ruanda e que a família frequentava a igreja regularmente.

Horas após o ataque, contas de extrema direita nas redes sociais começaram a espalhar um nome fictício de origem árabe para o assassino, alegando que ele era um solicitante de asilo muçulmano que havia chegado ilegalmente ao país de barco.

Terça-feira, 30 de julho

Um tumulto em uma cidade de luto

Na noite seguinte, ativistas de extrema direita convocaram um ato em Southport após uma vigília pelas três meninas. O ato rapidamente se tornou violento, com centenas de vândalos atacando uma mesquita perto do local da facada. Eles atiraram tijolos, incendiaram carros e feriram mais de 50 policiais.

Incêndio iniciado por manifestantes anti-imigrantes enquanto a polícia de choque monta guarda após distúrbios perto da Mesquita da Sociedade Islâmica de Southport, noroeste da Inglaterra, um dia após o ataque - Rolando Lloyd Parry - 30.jul.24/AFP

Quarta-feira, 31 de julho

Um ato de extrema direita no coração de Londres

Outra reunião violenta de extrema direita aconteceu em Whitehall, no coração do distrito governamental de Londres, resultando em mais de 100 prisões. Assim como em Southport, os manifestantes adotaram o slogan "Chega". Eles tinham outro grito de guerra —"Parem os barcos", se referindo aos pequenos barcos usados por contrabandistas para transportar migrantes pelo Canal da Mancha e que foi popularizado pelo antigo governo conservador britânico.

Policiais detêm manifestante durante protesto contra imigração ilegal, em Londres - Hollie Adams - 31.jul.24/Reuters

Multidões enfurecidas se reuniram naquela noite em Manchester, no noroeste da Inglaterra, e na cidade do sul de Aldershot, perto de hotéis que acreditavam estar sendo usados para abrigar refugiados.

No dia seguinte, em uma audiência inicial no tribunal, um juiz tomou a medida incomum de flexibilizar as restrições de divulgação sobre o suspeito da facada, permitindo que seu nome fosse publicado. Se a esperança era interromper a violência, não pareceu funcionar.

Sexta-feira, 2 de agosto

Incêndios e manifestações contrárias

À medida que os distúrbios cresciam, organizações antirracistas e grupos religiosos e comunitários montaram uma resposta. Em Liverpool, grande cidade próxima a Southport, um chamamento por um ato de extrema direita na sexta-feira à noite fora de uma mesquita trouxe uma multidão muito maior de manifestantes para protegê-la.

Pessoas participam de um protesto em favor dos imigrantes do lado de fora de uma mesquita, em Liverpool - Hollie Adams - 2.ago.24/Reuters

Mas a violência continuou a explodir. Naquela noite em Sunderland, uma cidade portuária industrial no nordeste da Inglaterra, uma multidão de extrema direita atacou policiais, saqueou lojas, e incendiou prédios e um carro.

Sábado, 3 de agosto

As chamas se espalham

O fim de semana trouxe violência para uma dúzia de cidades em toda a Inglaterra e em Belfast, na Irlanda do Norte, à medida que atos de extrema direita enfrentavam tanto policiais do batalhão de choque, quanto manifestantes contrários.

Uma biblioteca e um banco de alimentos foram incendiados em Liverpool, enquanto grupos de extrema direita danificavam e saqueavam empresas, e em Hull, incêndios foram provocados e fachadas de lojas foram destruídas no centro da cidade.

Um proprietário de café em Belfast, Mohammed Idris, descreveu à BBC como os vândalos atacaram seu negócio —gritando: "Onde está Mohammed?" —e então o incendiaram. Alguns manifestantes contrários na cidade insultaram os vândalos, enquanto outros entoavam: "Refugiados são bem-vindos aqui."

Polícia de choque enfrenta manifestantes em Bristol, sul da Inglaterra, durante a manifestação anti-imigrantes realizada por grupos de extrema direita - Justin Tallis - 3.jul.24/AFP

Em Bristol, no sudoeste da Inglaterra, esses manifestantes formaram um cordão em torno de um hotel que ativistas de extrema direita haviam mirado na crença de que continha solicitantes de asilo.

Domingo, 4 de agosto

Vândalos invadem um hotel

No domingo, o primeiro-ministro Keir Starmer denunciou os tumultos como "vandalismo organizado e violento" e alertou que qualquer pessoa que participasse da violência enfrentaria "toda a força da lei". Horas depois, grupos de extrema direita na cidade do norte de Rotherham atacaram um hotel que havia sido usado para abrigar solicitantes de asilo, entrando em confronto com a polícia, ateando fogo e invadindo o prédio. Vídeos mostraram algumas pessoas olhando pelas janelas enquanto uma multidão de manifestantes cercava o hotel, com palavras de ordem como "tirem eles de lá".

Manifestante foge de um policial durante um protesto anti-imigração, em Rotherham, norte da Inglaterra - Hollie Adams - 4.jul.24/Reuters

Segunda-feira, 5 de agosto

Um memorial pacífico

Uma semana após o ataque com faca, pessoas em Southport realizaram uma vigília que dificilmente poderia ter sido mais diferente de algumas das cenas da terça-feira anterior. Mesmo com os tumultos continuando em outras partes do país, famílias e crianças se reuniram em torno das flores e brinquedos que se acumularam em homenagem às três meninas mortas. Ao cair da noite, eles sopraram bolhas juntos.

"É mandar beijos para aquelas meninas lá em cima", disse uma mulher presente à rádio local da BBC.

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