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Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Kamala é hábil em política externa, mas teve atuação tímida na gestão Biden, dizem especialistas

Participantes de centro de estudos apontam que atual vice não foi autorizada a se desviar da ortodoxia do Departamento de Estado

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São Paulo

É perfeitamente cabível especular qual seria a diplomacia da Casa Branca caso a presidente dos Estados Unidos se chame Kamala Harris. A hoje candidata democrata pode derrotar o republicano Donald Trump, que já foi presidente e é reconhecido pela truculência de sua política externa.

A especulação sobre Kamala partiu da Chatham House, centro de estudos britânico sobre relações internacionais. A instituição, em edição online, publicou um instrutivo podcast e ainda um ensaio de uma de suas especialistas em diplomacia americana sobre o tema.

Candidata democrata à presidência dos EUA, Kamala Harris, acena ao entrar no avião da vice-presidência, em São Francisco, na Califórnia - Julia Nikhinson - 11.ago.24/Reuters

O ensaio e o podcast atribuem boas qualificações à atual vice-presidente de Joe Biden. Ela é apontada como hábil em questões estrangeiras. Quando senadora pelo estado da Califórnia, Kamala integrou a comissão permanente sobre inteligência e espionagem e teve acesso a informações sigilosas sobre aliados e inimigos de seu país.

E como vice-presidente, fez 13 viagens ao exterior. Não levava na maleta uma diplomacia pessoal. Ela devia obediência ao presidente Biden e não estava autorizada a se desviar da ortodoxia do Departamento de Estado.

Tudo isso para dizer que a candidata democrata à sucessão presidencial americana é do ramo. Não será uma jejuna em questões internacionais. E tem desde já opiniões fortes, como um favorecimento militar maior à Ucrânia na guerra contra a Rússia e uma condenação que ela não expressa publicamente contra os excessos de Israel a civis palestinos na Faixa de Gaza.

Os participantes do podcast notaram que Kamala, ao disparar em 36 horas mais de cem telefonemas para obter apoio junto à burocracia democrata, demonstrou resiliência que favorece sua imagem pessoal.

Leslie Vinjamuri, diretora do departamento Estados Unidos da Chatham, diz que a determinação de Kamala em recolher apoios e neutralizar concorrentes deu ao partido uma forte impressão da qual a legenda necessitava, depois do ceticismo que a candidatura Biden inspirava.

"Tínhamos alguém de pulso forte" na guerra política para mais uma vez derrotar Donald Trump.

Dan Balz, correspondente do Washington Post em Londres, afirma que Kamala Harris é agressiva na defesa da legalidade do aborto, opondo-se a Trump e até mesmo, com as devidas proporções, ao próprio Joe Biden, um católico pouco à vontade na questão.

Pesquisas indicavam há 30 anos que o aborto dividia os americanos em duas fatias numericamente iguais. Hoje é diferente. Cerca de 60% são favoráveis, o que faz do tema um forte chamativo eleitoral.

Daniel Drezner, professor da Universidade Tufts, diz que em política externa o ponto fraco de Kamala é a imigração. Ela acumula pontos por ser filha de imigrantes, mas foi excessivamente tímida na missão que Biden lhe confiou em neutralizar a situação explosiva na fronteira com o México. É um tópico sobre o qual "Trump é demagógico e mentiroso". A candidata democrata entra nesse jogo em posição defensiva.

No ensaio que escreveu sobre ela, a pesquisadora Heather Hurtburt, dos quadros internos da Chatham, nota o quanto Kamala reflete a linguagem identitária do Partido Democrata. Ela é a candidata das minorias –negros, asiáticos, latinos– em razão de sua genealogia pessoal. E não é apenas uma pluralidade racial. É também um passaporte para as boas relações dos EUA, eventualmente governados por ela, com os países que trazem essas características nacionais.

Hurtburt lembra, para efeitos de galhofa, que há poucas décadas os presidentes americanos tinham a reputação de descenderem quase todos de irlandeses. John Kennedy foi um caso exemplar. Pois Barack Obama e Kamala Harris quebrariam essa sequência.

O engajamento da candidata em favor da Ucrânia, a exemplo da posição de Biden, traz uma profissão de fé na Otan, a aliança militar ocidental, da qual os ucranianos desejam fazer parte, o que é um dos motivos evocados pelo Kremlin para invadir o país vizinho e ocupar pedaços de seu território.

O texto de Heather Hurtburt nota que, mesmo filha de uma indiana, Kamala prestou pouca atenção à Ásia nas iniciativas de política externa como vice de Biden. É verdade que ela se encontrou com o dirigente chinês Xi Jinping.

Enquanto vice-presidente, Kamala Harris cumprimenta o dirigente da China, Xi Jinping, antes do Retiro dos Líderes da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) em Bangkok, Tailândia - 19.nov.22/Casa Branca/Reuters

Kamala Harris também esteve no Japão, na Coreia do Sul, na Indonésia e nas Filipinas. Não foi à Índia. E nesse conjunto de países repetiu os termos vagos da política americana: o desejo de boas relações comerciais e uma boa política de segurança para seus parceiros.

Mais uma vez, as palavras formais que ela pronunciou saíram de textos previamente redigidos sob a orientação de um outro ocupante da Casa Branca. Ela foi apenas disciplinada, o que não será o caso se for a anfitriã da residência presidencial.

Kamala Harris would bring greater foreign policy experience than most new US presidents

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Independent Thinking: What would a Harris presidency mean for the world?

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