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Brasil, México e Colômbia pedem verificação imparcial de eleições na Venezuela

Nota foi divulgada após presidentes dos países, todos de esquerda, conversarem por telefone

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Brasília

Os governos do Brasil, do México e da Colômbia divulgaram, nesta quinta-feira (1), uma nota conjunta em que pedem divulgação de atas e uma verificação imparcial dos resultados da eleição na Venezuela.

O texto vinha sendo preparado desde horas depois da divulgação do resultado do pleito, contestado por opositores do ditador Nicolás Maduro —anunciado presidente eleito pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano (CNE)— e por diversos chefes de Estado.

A divulgação do comunicado só se deu, no entanto, após uma ligação telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus homólogos da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andrés Manuel López Obrador, na quinta.

"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", diz o comunicado.

"As controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional. O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados", afirmou ainda.

O presidente Lula (PT) em discurso na Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. - AFP

No texto, eles pedem ainda "máxima cautela e contenção" para evitar a "escalada de episódios violentos" no país, onde mais de mil já foram presas e ao menos 11 morreram em confrontos com as forças de segurança. "Manter a paz social e proteger vidas humanas devem ser as preocupações prioritárias neste momento", diz a nota.

Os três líderes adotaram tons diferentes ao comentar a situação. Petro afirmou ter "graves dúvidas" sobre a legitimidade do resultado publicado pelo regime de Maduro. Lula disse não ver nada de anormal em relação às contestações da eleição, descreveu a situação como "um processo" em curso e disse que a arbitragem final deveria caber à Justiça.

Por fim, AMLO, como o presidente mexicano é conhecido, declarouu que outros países não deveriam "meter as mãos nem o nariz" no processo, mas não reconheceu a vitória de Maduro, acrescentando que o faria quando a contagem final fosse divulgada —alinhado ao chavismo, o CNE proclamou o ditador o presidente eleito com 80% das urnas apuradas. Segundo o órgão, o ditador teria obtido 51,2% votos contra 44,2% do opositor Edmundo González, diferença o suficiente para tornar o resultado irreversível.

Os três dirigentes compartilham, porém, a demanda pela apresentação das atas eleitorais, documentos que garantem a lisura do processo eleitoral ao permitir o cruzamento do número total de votos computados com a quantidade de votos para cada candidato.

A principal coalizão opositora diz que teve acesso a um percentual significativo dessas atas e que elas dão vitória a González. Há ainda levantamentos diferentes, feitos com base em amostragens, que também apontam vitória do opositor.

A justificativa do regime para a não publicação das atas é um suposto ataque hacker ao sistema do CNE.

Mais cedo, AMLO já tinha mencionado a possibilidade da conversa com seus homólogos. Na ocasião, ele também criticou a postura da OEA (Organização dos Estados Americanos), que questionou o resultado eleitoral venezuelano em uma reunião de emergência na véspera.

"Nós atuamos com prudência para não nos intrometermos em um assunto que pertence, fundamentalmente, aos venezuelanos. Por isso, nos posicionamos de modo que, primeiro, não haja violência. Segundo, a vontade dos venezuelanos seja respeitada. Terceiro, que sejam apresentadas as provas, as atas, do resultado eleitoral. Quarto, que não haja ingerência", disse.

"O que aconteceu, lamentavelmente, com o secretário-geral da OEA", prosseguiu, referindo-se a Luis Almagro. Figura polêmica na política da América Latina, o uruguaio afirmou que pediria a prisão de Maduro ao TPI (Tribunal Penal Internacional), em Haia, após uma reunião extraordinária do organismo multilateral nesta quarta (31).

O mexicano disse que Almagro fez as imputações de maneira premeditada, "sem ter provas de nada".

Ocorridas no fim de semana, a eleições na Venezuela têm trazido desgastes ao governo Lula, segundo auxiliares do presidente.

Adversários do petista já vinham explorando a proximidade histórica de Lula com o chavismo logo depois do pleito. Mas a divulgação da nota do PT, que afirmou que o processo eleitoral venezuelano foi democrático e soberano, e a declaração de Lula de que não via "nada de anormal" nele alimentaram críticas até mesmo entre aliados.

O desconforto aumentou ainda mais diante da denúncia do Carter Center, um dos poucos observadores independentes que tiveram permissão para acompanhar a votação, de que a eleição não pode ser considerada democrática, uma vez que o regime persegue opositores, entre outros fatores.

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