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Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski aprovou ataque a Nord Stream e recuou a pedido da CIA, diz jornal

General ucraniano acusado de seguir com plano nega ao Wall Street Journal envolvimento do país em ação contra gasoduto

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São Paulo

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, inicialmente aprovou o plano para explodir o gasoduto russo Nord Stream, mas recuou da decisão a pedido dos Estados Unidos, afirma uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal publicada nesta quarta-feira (14).

Bolhas são observadas na superfície do mar Báltico após explosões no gasoduto Nord Stream - via AFP

A explosão de dois ramais do gasoduto, símbolo da integração energética entre a Europa e a Rússia, ocorreu em setembro de 2022, em áreas marítimas pertencentes aos territórios da Dinamarca e da Suécia.

Embora os dois países tenham concluído que o episódio foi produto de um ato de sabotagem, até hoje não se sabe com certeza quem foram os mandantes da operação.

No final do ano passado, porém, uma colaboração entre o Washington Post, outro jornal americano, e a revista alemã Der Spiegel indicou que o responsável por coordená-la foi um militar ucraniano, o ex-agente de inteligência Roman Tchervinski, 48. Ele, que é alvo de um processo judicial em Kiev cujo conteúdo não tem relação com o Nord Stream, nega a acusação.

A reportagem desta quarta detalha o planejamento do ataque com base em depoimentos de quatro militares ucranianos que dizem ter tido conhecimento das ações ou participado delas.

Em andamento há quase dois anos, uma investigação policial sobre o ataque conduzida pela Alemanha —a embarcação usada no crime teria sido alugada na cidade alemã de Rostock, banhada pelo mar Báltico— corrobora diversos pontos dos relatos desses militares feitos ao jornal. A investigação não conecta, no entanto, Zelenski ao plano.

Segundo os militares afirmaram ao Wall Street Journal, o ataque custou cerca de US$ 300 mil (R$ 1,7 milhão na conversão atual) e envolveu um iate alugado com uma tripulação de seis pessoas.

Entre elas estariam mergulhadores profissionais sem ligação com o Exército ucraniano, incluindo uma mulher cuja presença buscava criar a ilusão de que aquele era apenas um grupo de amigos se divertindo.

Os militares afirmam que o plano, concebido por um grupo de oficiais e empresários durante um encontro regado a álcool em maio, quatro meses antes da ação, foi a princípio aprovado verbalmente por Zelenski.

Quando a CIA, a agência de inteligência americana, teve conhecimento dele por meio de alertas de sua homóloga na Holanda, porém, avisou ao presidente ucraniano para interrompê-la, e ele o fez.

Mas o general Valerii Zalujnii, que tinha sido encarregado da ação, prosseguiu com ela, dizem os militares.

Segundo três dos militares que falaram ao jornal, o presidente ucraniano chegou a repreender o comandante, mas este respondeu que, depois que a equipe de sabotagem foi enviada, ficou incomunicável e não podia ser chamada de volta porque qualquer contato poderia comprometer a ação.

Zalujnii foi afastado de seu posto no Exército este ano. Sua nomeação como embaixador da Ucrânia no Reino Unido garante a ele imunidade contra processos judiciais.

Procurado pelo Wall Street Journal, ele afirmou ao veículo americano que não tem conhecimento de nenhuma operação de sabotagem do gasoduto e que qualquer sugestão diferente disso era uma "mera provocação".

Ele ainda disse que as Forças Armadas ucranianas não poderiam ter se envolvido na ação porque não tinham autorização para conduzir missões no exterior.

Um alto funcionário do SBU, agência de espionagem doméstica ucraniana, negou que seu governo tenha qualquer relação com as explosões e afirmou que Zelenski não aprovou a execução de qualquer ação desse tipo no território de terceiros.

De todo modo, as informações divulgadas pelo jornal têm potencial de abalar as relações entre Kiev e Berlim, segundo maior patrocinador militar dos ucranianos na guerra, atrás apenas dos EUA.

A explosão do gasoduto fez os preços da energia dispararem na Europa. Só a Alemanha paga cerca de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões) por dia só para alugar terminais flutuantes de GNL (gás natural liquefeito) que supriram apenas em parte os fluxos de gás russo que chegavam ao país via Nord Stream.

Enquanto isso, o ato de sabotagem beneficiou financeiramente a Ucrânia, uma vez que transformou os gasodutos que atravessam seu território na única via de envio do gás russo para o resto da Europa.

Mesmo com a guerra e as sanções ocidentais, países do continente ainda compram gás de Moscou, que paga pedágio a Kiev para o trânsito pelo território.

Um funcionário do alto escalão do governo alemão afirmou ao jornal que um ataque da escala daquele sofrido pelo Nord Stream seria razão suficiente para acionar a cláusula da defesa coletiva da Otan, a aliança militar ocidental que Berlim integra —não fosse a contradição de que o país aparentemente responsável pelo ataque, a Ucrânia, recebeu bilhões em dinheiro e remessas de armas dos germânicos.

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