Um dia depois de ser indiciado pela Justiça por supostas agressões contra a ex-primeira-dama Fabiola Yáñez, o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández renunciou nesta quinta-feira (15) à liderança do Partido Justicialista. O peronista, que nega as acusações, justificou a decisão sob o argumento de que a legenda deve ser preservada diante do que ele chamou de linchamento midiático.
O Ministério Público argentino acusou Fernández, na véspera, de lesões graves, ameaças e abuso de poder. As denúncias foram formalizadas depois que Yáñez prestou depoimento na terça (13).
Fernández já havia se afastado da presidência de seu partido em março, após virar alvo de duas investigações por desvio de verbas durante seu mandato à frente do país. Nesta quinta, pressionado até por aliados, ele apresentou uma carta à liderança da legenda para formalizar a renúncia em definitivo.
"Tenho o dever e a necessidade de manifestar que a decisão foi tomada com o único propósito de não envolver o partido, em que eu sempre militei, nos fatos que me são falsamente acusados", escreveu Fernández na carta, segundo o jornal argentino La Nacion.
"Espero que nenhum estilhaço do linchamento midiático ao qual estou sujeito possa prejudicar este partido em que militam homens e mulheres que tanto fazem pela igualdade de gênero e pelo respeito à diversidade", acrescentou.
O escândalo ganhou projeção internacional no último dia 8, quando o portal Infobae publicou fotos de Yáñez machucada, nos olhos e nos braços, após as supostas agressões de Fernández. A própria ex-primeira-dama teria enviado as imagens ao ex-presidente por um aplicativo de mensagens.
No tribunal, ela disse que as agressões físicas e verbais eram frequentes. Também acusou o peronista de cometer terrorismo psicológico, "assédio telefônico com mensagens intimidatórias" e disse que ele a pressionou a abortar em 2016, quando o relacionamento de ambos ainda era recente.
Após o depoimento, o promotor Ramiro González solicitou cerca de 30 medidas probatórias que incluem a coleta de depoimentos de ex-funcionários do peronista, além da análise das câmeras de segurança da Quinta de Olivos, a residência oficial da Presidência. Também disse que Yáñez teve uma "relação caracterizada por assédio e agressões físicas em contexto de violência de gênero e doméstica".
Fernández, por sua vez, vem reiterando as alegações de inocência. Na carta enviada ao partido, ele disse ter ficado com a "alma ferida" devido ao escândalo. "Os fatos dos quais me acusam são falsos. Continuo esperando que a Justiça aja como tal, pare de divulgar dados irregulares e me permita exercer o legítimo direito de defesa", escreveu o ex-presidente. "Com a alma ferida por tanto ridículo e sendo vítima de uma operação cruel que fere também os meus filhos, saúdo cada colega com o meu compromisso de sempre."
Logo após a divulgação da carta, a representação do Partido Justicialista em Buenos Aires também publicou uma nota para repudiar qualquer ato de violência, "independentemente de quem a tenha cometido".
O caso abalou a política argentina. Tanto o atual presidente, Javier Milei, rival político, quanto aliados de Fernández, que governou a Argentina de 2019 a 2023, criticaram o líder pelas supostas agressões.
A ex-presidente e ex-vice de Fernández Cristina Kirchner aproveitou o escândalo para escrever nas redes sociais que seu companheiro de governo "não foi um bom presidente". Disse também que as imagens sobre o caso que vieram à tona revelam "os aspectos mais sórdidos e obscuros da condição humana".
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.