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Descrição de chapéu Nicarágua

Nicarágua deporta 135 presos políticos para a Guatemala

Grupo inclui membros de organização cristã e estudantes, segundo EUA, que ajudaram na libertação dos ex-detidos

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São Paulo

A ditadura da Nicarágua amanheceu com 135 presos políticos a menos nesta quinta-feira (5) —eles foram enviados à Guatemala em mais uma onda de deportação do regime comandado por Daniel Ortega e sua esposa e número dois, Rosario Murillo.

"Os Estados Unidos saúdam a liderança e generosidade do governo da Guatemala por concordar graciosamente em aceitar esses cidadãos nicaraguenses", afirmou, em um comunicado, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Jake Sullivan ao falar sobre o acordo que permitiu a libertação dos detidos.

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega durante evento em Caracas, na Venezuela - Reuters

Os nomes dos recém-libertados não foram divulgados, mas a nota fala em estudantes e 13 membros da organização missionária evangélica Mountain Gateway, sediada no Texas —desde 2018, quando grandes manifestações tomaram as ruas da Nicarágua e deram início a atual fase repressiva do regime, a rixa entre Ortega e líderes religiosos no país aumentou.

Segundo Sullivan, os agora ex-detidos poderão pedir refúgio para tentar recomeçar a vida em território americano. "Os EUA mais uma vez pedem ao governo da Nicarágua que cesse imediatamente a prisão arbitrária e detenção de seus cidadãos por meramente exercerem suas liberdades fundamentais", diz o comunicado.

"O regime nicaraguense não obteve nada" em troca da libertação de 135 presos políticos que foram acolhidos nesta quinta-feira pela Guatemala, afirmou à AFP Eric Jacobstein, um alto funcionário do Departamento de Estado americano, envolvido nas negociações para a libertação deles.

"Foi uma ação unilateral", disse Jacobstein. Ele acrescentou que é o "resultado de meses de pressão pública e privada por parte dos EUA" sobre Ortega.

Em declarações ao jornal americano The New York Times, o fundador e presidente da Mountain Gateway, Jon Britton Hancock, agradeceu às autoridades americanas. "Membros do Congresso, do Departamento de Estado e do Departamento de Segurança Interna trabalharam incansavelmente para efetivar sua libertação de sua prisão injusta", afirmou.

Dos EUA, o pastor vinha denunciando nos últimos meses o que considera uma perseguição contra a organização que coordena. Em março, 13 membros da Mountain Gateway foram condenados pelo regime após serem presos em 2023 sob a acusação de lavagem de dinheiro —o que a entidade nega.

Antes do imbróglio, a organização era considerada uma aliada de Ortega em meio à perseguição de líderes católicos no país. Apenas um mês antes da detenção, a Mountain Gateway havia terminado uma campanha evangélica com o apoio do regime que percorreu oito cidades e terminou com um evento em Manágua para 200 mil pessoas. Dentre elas estavam a prefeita da capital e dois ministros do líder sandinista, segundo o jornal nicaraguense Confidencial.

Essa é a segunda grande expulsão de presos políticos do país em um ano e meio. Em fevereiro de 2023, Ortega libertou 222 pessoas, incluindo importantes jornalistas, políticos e até mesmo antigos parceiros de guerrilha que lutaram ao seu lado durante a Revolução Sandinista, que derrubou a ditadura da família Somoza no final da década de 1970.

Ao inaugurar a prática de deportação de adversários, no ano passado, Ortega aprovou a toque de caixa uma lei para permitir a perda de nacionalidade de nicaraguenses considerados "traidores da pátria" —punição vetada pela Constituição do país até então.

Uma reforma do tipo precisaria passar por comissão especial e por uma segunda apreciação dos legisladores para ser aprovada, mas tais regras não foram um empecilho. Após 17 anos no poder, o ditador tem controle de praticamente todas as instituições do Estado, incluindo a Assembleia Nacional e a Corte Suprema de Justiça.

Não está claro se a lei será aplicada aos presos políticos libertados agora, e o regime ainda não se manifestou sobre o assunto.

Segundo um comunicado conjunto de Guatemala e EUA repercutido na imprensa local, a libertação se deu após meses de negociação entre Washington e Manágua. Agora, diz a nota, os dissidentes terão acesso a alimentação, hospedagem, assistência médica e apoio psicológico promovidos por organizações humanitárias e autoridades guatemaltecas e americanas.

O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, deu as boas-vindas aos "hermanos nicaraguenses" em uma publicação na rede social X. "Nosso país mostrou sua firme convicção democrática, que rechaça rotundamente as ameaças de retrocesso autoritário. Hoje reafirmamos esse compromisso", disse ele.

Arévalo chegou ao poder em janeiro deste ano após meses de indefinição sobre a sua posse em meio à derrocada democrática que a Guatemala, como outros países centro-americanos, viveu nos últimos anos. Sua vitória no pleito de 2023, após passar para o segundo turno contra todas as previsões, foi considerada por analistas uma chance de respiro ao clima de perseguição contra promotores, juízes e jornalistas em que a nação estava mergulhada.

Nesta quinta, Sullivan citou os esforços do presidente na nota em que divulgou o número de libertados. "O presidente [Joe] Biden e a vice-presidente [Kamala] Harris são gratos ao presidente Arévalo por sua liderança contínua na região em questões humanitárias e de defesa da liberdade democrática", afirmou o porta-voz.

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