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Retórica perigosa

França pareceu instrumentalizar reação de PM para contemplar seus propósitos eleitorais

A cabo Kátia Sastre e o governador de São Paulo, Márcio França (PSB) - Gilberto Marques/Divulgação

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A cabo Kátia Sastre, da Polícia Militar paulista, assumiu riscos ao sacar uma arma de sua bolsa e alvejar um homem que assaltava um grupo de mães e crianças na porta de uma escola, em Suzano.
Sua decisão, ainda que possa ser questionada, é compreensível. A PM portava uma pistola e tinha uma filha de sete anos sob ameaça.

O que não se pode endossar é a reação do governador do estado, Márcio França (PSB), que pareceu instrumentalizar o incidente para contemplar seus propósitos eleitorais —ele pretende manter o posto herdado de Geraldo Alckmin (PSDB), que renunciou para concorrer à Presidência da República.

A primeira manifestação do mandatário foi organizar uma homenagem à cabo no Dia das Mães (o caso ocorrera na véspera). Entregou-lhe flores em evento no Comando de Policiamento de Área Metropolitana-4, na zona leste da capital, e elogiou a demonstração de “destreza, técnica e coragem”.

A seguir, na segunda-feira (14), aproveitando-se dos desdobramentos do fato, afirmou, em evento no interior do estado, que ofensas ao uniforme da Polícia Militar podem representar risco de morte para os agressores. 

Num palavrório pontuado por hipérboles de civismo duvidoso, França declarou que a farda da PM é “sagrada” e deve ser vista como uma “extensão da bandeira do estado de São Paulo”. 

O governador, lamentavelmente, perdeu uma oportunidade de ficar calado —ou de abordar com mais propriedade a justa preocupação do eleitorado com a segurança pública. Não deveria ter exposto a cabo, muito menos demonstrado tamanho júbilo pela ideia de a polícia matar criminosos.

Não se discute que agentes da lei são alvo de atentados e precisam se defender em situações de risco, além de proteger terceiros. 

É fato, contudo, que a PM brasileira, a de São Paulo incluída, ultrapassa os parâmetros internacionais de letalidade. Esta, aliás, é uma preocupação do próprio comando da instituição paulista, que constatou em 2017 alta de 10% do número de mortes causadas por seus membros, com 943 casos.

Ao seguir uma linha de exaltação desmedida à reação letal da PM, França corre o risco de incentivar ações bem menos defensáveis do que a praticada pela cabo Sastre.

​editoriais@grupofolha.com.br

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