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José Vicente: Valeu, presidente; se cuida, Joaquim Barbosa

Cota para jovens negros em estágios é boa medida

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José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em evento em São Paulo em 2017 - Mastrangelo Reino - 30.nov.17/Folhapress

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Os indicadores do abandono das escolas pelos jovens do ensino médio dão a dimensão da indigência da capacidade de entrega das políticas públicas para a juventude no nosso país. De cada cem jovens, apenas metade termina o ensino médio, sendo os negros 65% desse universo.

Não bastasse isso, temos ainda a crueldade da letalidade da violência social, criminal e policial sobre nossos Zumbis dos Palmares. Somos a sociedade e o país que mais matam jovens no planeta.

Nem todos os conflitos armados e ações terroristas da atualidade conseguem superar os números brasileiros de 60 mil vítimas por ano --a grande maioria de jovens entre 17 e 30 anos. Para cada jovem branco são assassinados três negros. Nem esquerda nem direita, nem governo, nem corporação, ninguém tem tempo ou interesse para tratar desse verdadeiro genocídio a céu aberto.

Além do lixo tóxico da escravidão, do racismo e da discriminação que aparta e diferencia as pessoas pelos quesitos raça e cor, os motivos do abandono têm como pressuposto a necessidade de trabalhar muito cedo para ajudar a família ou mesmo sobreviver. São 34% de jovens brancos até 14 anos que estão fora da escola para trabalhar, ante 64% de negros.

É bom lembrar que, num país de 54% de negros, ninguém nunca viu um presidente ou importantes executivos negros nas maiores e melhores empresas para se trabalhar que dizem respeitar a diversidade; imaginem nas demais.

Sem motivação para permanecer na escola, sem o treinamento e a preparação para concorrer em igualdade de condições, sem política pública que estimule a igualdade de oportunidades, qual poderia ser o destino desses jovens senão engrossar as fileiras da marginalidade social e criminal?

Diante dessa cruel e intocada realidade, era necessário ter coragem e ousadia de ir além e criar uma ação de emergência para vencer essa verdadeira batalha.

Tanto quanto os tanques nos morros cariocas, para desmobilizar, combater e vencer o crime e o tráfico, era preciso estender a mão para o jovem negro, valorizando seu talento e habilidades.

Assim, a cota de 30% para jovens negros nos estágios, trainees e aprendizado no serviço público, empresas, autarquias e fundações públicas, determinada por decreto assinado pelo presidente Michel Temer, tira o Estado da omissão e indiferença e o põe do lado de quem mais precisa e é mais vitimado pela indiferença e irresponsabilidade social; devolve a todos nós, sobretudo aos jovens negros, um mínimo de esperança e crença na República, no Estado democrático de Direito e na Justiça.

Que tenham a mesma ousadia e coragem o Ministério Público, o Poder Judiciário, os poderes públicos estaduais e municipais e, principalmente, nossas empresas e companhias privadas.

Se Neymar, Gabriel Jesus, Douglas Costa e Willian arrasam nossos oponentes e nos enchem de orgulho quando competem igualizados pelas regras justas, é de se imaginar o show de bola que esses novos talentos negros poderão proporcionar aos olhos da nação. Valeu, presidente. Se cuida, Joaquim Barbosa, pois agora terá concorrência.

José Vicente

Advogado, sociólogo e doutor em educação, é fundador e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e membro do Conselho Editorial da Folha

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