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Maria Carolina Cristianini

Como falar com as crianças sobre tragédias

Tentar preservá-las de Brumadinho é criar falsa bolha

Exemplar do jornal Joca, voltado para crianças e adolescentes - Arquivo pessoal - 28.ago.17

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Se você ainda tenta evitar, nos dias de hoje --a era da internet e das redes sociais--, que seu filho ou filha tenha contato com informações sobre tragédias como as de Brumadinho, o momento é de reflexão.
Vivemos o tempo do excesso de informação. Informação de qualidade e sem qualidade. Que chega por todos lados, em vídeo, áudio ou texto, em conversas dentro e fora de casa, sejam elas ao vivo ou por troca de mensagens no celular. A avalanche de informação não poupa as crianças, com seus ouvidos e olhos atentos, prontas para absorver o que estiver por perto.

Preservá-las diante de uma tragédia, ainda mais na atualidade, não é sinônimo de evitar o assunto, mas a tentativa de criar uma falsa bolha de proteção. A maneira mais eficiente de preservar uma criança quando o tema se mostra espinhoso inclui demonstrar respeito pelo cidadão que está diante de você, independentemente da idade. 

Dar a uma criança o direito de entender os fatos tem muito mais a ver com preservação do que fingir que nada aconteceu ou determinar, sem diálogo, que "isso não é assunto de criança". O assunto chegará à criança, quer você queira ou não. E ela tem o direito de entendê-lo. 

É importante responder às perguntas --e, você sabe, elas vão surgir. O que são essas imagens com barro por todos os lados? De onde veio tanta lama? Rejeitos --o que isso quer dizer? Por que coisas assim acontecem?

Quem nunca ficou sem palavras diante de tantos questionamentos? Quem nunca sentiu medo de chocar as crianças com respostas inadequadas? Mas de que adianta ignorar, esperar que seu filho esqueça o que viu ou ouviu? 

Nessa situação, dar o contexto faz toda a diferença. Explicar onde fica Brumadinho, o que é uma mineradora, o que são os tais rejeitos de minério de ferro... Tudo isso vai acalmar o coração de seu filho e abrir o diálogo em família. Sanar as dúvidas, e não jogá-las para debaixo do tapete, diminui a ansiedade. De todos, inclusive a sua. 

Feito isso, você terá diante de si um cidadão consciente dos fatos. Uma criança que, agora, compreende melhor a sociedade onde vive. E se sente parte dela. O pertencimento leva o ser humano a atitudes. Se eu vivo neste bairro e pertenço a ele, quero que seja um lugar melhor. Uma cidade melhor, um país melhor. Um planeta melhor. 

Sem entender o que se passa no mundo, uma criança não é estimulada a desenvolver o pensamento crítico. Hoje, ela é seu filho ou filha. Amanhã, num futuro que se aproxima em alta velocidade, será um adulto tomando decisões pelo Brasil.

Maria Carolina Cristianini

Editora-chefe do jornal Joca, voltado para crianças e jovens

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