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O pacto que importa

Bolsonaro sepulta, como se previa, ideia de acordo entre os Poderes por reformas

Da esq. para a dir., os presidente Dias Toffoli (STF), Rodrigo Maia (Câmara), Jair Bolsonaro (Presidência da República) e Davi Alcolumbre (Senado), após se reunirem em café da manhã no Palácio da Alvorada, em maio - Marcos Corrêa/Presidência da República/AFP
 

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No dia 27 de maio, o presidente Jair Bolsonaro apresentou ao país uma proposta que, embora se mostrasse pouco realista, parecia ao menos conter um impulso positivo. Tratava-se de firmar um pacto entre os Poderes com vistas a assegurar o encaminhamento e a aprovação de um leque de reformas necessárias para o futuro do país.

Passado mais de um mês, na quarta (3) o mandatário cedeu às evidências de que o acordo, como foi aventado, não seria viável —e decidiu enterrá-lo. Em evento que marcou a troca de chefia no Comando Militar do Sudeste, Bolsonaro afirmou que “não precisamos de pacto assinado no papel”.

O importante, frisou, é que se votem matérias e proposições “que fujam ao populismo”. 

Em maio, quando foi formulada a ideia do entendimento formal entre os Poderes, o país passava por mais um dos momentos de acirramento de tensões que vêm pontuando a dinâmica do atual governo.

Bolsonaro havia divulgado um rumoroso texto de autor não identificado acerca da impossibilidade de governar o país sem ceder a conchavos. Na semana seguinte, foi a vez de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ameaçar deixar o governo, caso a reforma da Previdência se tornasse insatisfatória —com o que o presidente anuiu.

Por fim, no dia 26 daquele mês, bolsonaristas saíram às ruas em vaga defesa da Presidência, com protestos localizados contra parlamentares, o presidente da Câmara e membros do Judiciário. 
Nesse cenário, um gesto de pacificação entre os líderes dos Poderes poderia ser visto com simpatia —embora predominassem, naturalmente, as reações de ceticismo.

Agora, num período mais favorável, de avanços na tramitação das mudanças nas aposentadorias, as declarações presidenciais acerca dos objetivos que uniriam Executivo e Legislativo se revestem de ares de civilidade e equilíbrio.

Mas nem tudo foram flores na manifestação de Bolsonaro durante a cerimônia militar de quarta. A certo ponto de seu discurso, o mandatário voltou a despertar inquietações ao dizer que somente ao povo brasileiro, “mais importante que qualquer instituição nacional”, deve “lealdade absoluta”.

Difícil não interpretar tais palavras como um recado aos demais Poderes e um reforço ao pacto, este sim já consumado, do presidente com sua base política mais radical —uma parcela do eleitorado na qual alguns encaram as instituições da democracia como um obstáculo ao que seria uma imaginária revolução na maneira de governar.

Como se disse aqui na ocasião em que a proposta veio à luz, melhor faria o chefe do Executivo se esposasse, sem hesitações, os comandos basilares da Constituição e as regras de convívio democrático. A alternativa é condenar o governo e o país a um padrão estressante e desnecessário de instabilidade.

editoriais@grupofolha.com.br

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