Entre a cruz e a arma de fogo
Que o bom senso reine, e que avancemos na paz
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Votei no atual presidente da República deixando claro, durante a campanha, minha discordância frontal à sua política de armas de fogo. O covarde atentado que sofreu foi gravíssimo, e por um milagre divino a sua vida foi poupada.
Quando passamos por experiências traumáticas, abre-se uma grande oportunidade para refletir sobre o sentido da vida e seus conceitos. Foi o que aconteceu com a minha família no ano passado. Meus dois filhos mais velhos vivenciaram uma tragédia na escola em que estudavam, na Flórida. Um adolescente, que comprou legalmente uma arma, matou 14 colegas e 3 professores —um deles na sala em que estava minha filha. Mais uma triste consequência da frouxa lei de armamentos nos EUA. Não queremos isso para o Brasil.
Quando declaramos nossa confiança em Deus, como cristãos, é fundamental buscar em Jesus uma referência para nossas ações —especialmente as que vão contra a paz prometida por Ele. O caminho de Jesus não pode combinar com políticas de armamento civil, que espalharão “gasolina para apagar o incêndio” da segurança pública no Brasil.
Os argumentos contra a liberação de armas são convincentes, de âmbito jurídico, econômico, social, político, científico, filosófico e moral. As estatísticas são cristalinas em provar que, com mais armas, há mais violência e mortes. Como já mostrou o Ipea, para cada aumento de 1% na circulação de armas de fogo há um aumento de 2% nos homicídios.
Somos a nação mais católica, mais espírita e mais evangélica do mundo, e quero tocar em uma abordagem pouco refletida: como seria o comportamento de Jesus diante da perspectiva do seu povo de se armar para “se defender” da violência?
Cristo revolucionou quando surpreendeu a todos, no Jardim das Oliveiras, ao repreender Pedro, que, tomado pela consternação e querendo defendê-lo da prisão, sacou sua espada e cortou a orelha do soldado romano. Rapidamente, Jesus interpelou, com firmeza: “Pedro, embainha a tua espada, pois quem lança mão da espada, pela espada morrerá!” (Mateus 26:52). Jesus ousou quebrar paradigmas: “Amai vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Bendizei os que vos amaldiçoam e rezai pelos que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada em uma face, dá também a outra. Se tomarem o teu manto, permita levar também a túnica. Dá a quem pedir e, se tirarem o que é teu, não peças que o devolva” (Lucas 6, 27-38).
Com esses ensinamentos, a defesa do uso de armas de fogo cai por terra. Em algum momento, uma arma na mão terá sempre um grande potencial de destruição. Um cristão sempre será fraco ao se nivelar aos violentos. Sua força não é física ou material, mas espiritual. O avanço civilizatório caminha para uma circulação de armas cada vez menor.
A Câmara pretende votar um projeto que afrouxa o Estatuto do Desarmamento, que já poupou 121 mil vidas, segundo o Mapa da Violência. Até respeito a posse em casa, mas sou totalmente contra o porte nas ruas. Espero que o bom senso reine entre os parlamentares, que avancemos na cultura de paz e que não caiamos na tentação de ressuscitar a famigerada lei de talião. “No olho por olho e dente por dente, a humanidade acabará cega e sem dentes”, afirmava o pacifista Mahatma Gandhi.
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