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Checadores de fatos

Autoridades, parem de distorcer fatos

Duas batalhas estão sendo travadas no Brasil ao mesmo tempo: uma contra o coronavírus, e outra contra a desinformação

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Natália Leal
Tai Nalon
Edgard Matsuki
Gilmar Lopes
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Cristina
Tardáguila

Duas batalhas estão sendo travadas no Brasil ao mesmo tempo: uma, na seara da medicina, contra a expansão do coronavírus, e outra contra a desinformação produzida por ele. Enquanto na linha de frente da primeira há milhares de aguerridos profissionais de saúde, na segunda, o exército é composto por um grupo dedicado, mas ainda reduzido de checadores de fatos. Sem o apoio explícito e o comprometimento das autoridades com a verdade, o país corre o risco de perder a guerra contra os boatos sobre a Covid-19.

Desde 26 de fevereiro, quando o país registrou o primeiro caso de coronavírus, os “fact-checkers” brasileiros já identificaram mais de cem informações falsas sobre a pandemia —mais de três por dia.
De acordo com dados da base internacional de checagens sobre o coronavírus mantida pela International Fact-Checking Network, Facebook, WhatsApp e Twitter são os canais mais utilizados para distribuir desinformação no Brasil, mas a lista completa é longa.

Fake news "do borracheiro" é usada para desacreditar números de coronavírus - Reprodução

O que aflige os checadores é constatar que autoridades brasileiras, graças à influência de seus cargos, contribuem de forma expressiva para o avanço da desinformação. Desde o início da pandemia, políticos produziram, endossaram e compartilharam dados errados sobre vacinas, distanciamento social e a origem do novo coronavírus. Também usaram dados defasados e acabaram criando um ambiente de desconfiança econômica em que florescem golpes digitais.

Ao dar voz, espaço, pixels, imagens e caracteres a inverdades, as autoridades colocam em risco a vida dos brasileiros. Monitoramento feito pelos checadores mostra que, ao fazer ou compartilhar uma declaração falsa, autoridades têm conseguido inverter o sinal da mensagem ou inflar o que chega à população.

A hidroxicloroquina é um exemplo. Ao tratar como definitivos estudos ainda incipientes feitos com o medicamento, políticos o elevaram à condição de cura para a Covid-19. Não demorou para que a droga desaparecesse das farmácias, prejudicando os que, de fato, precisam dela, e expondo a efeitos colaterais os que a ingeriram em busca de proteção contra o novo coronavírus.

É urgente, portanto, que as autoridades tenham responsabilidade ao falar sobre a pandemia. Que se certifiquem de que o conteúdo a ser exposto tem base científica, é atual e se refere ao local sobre o qual estão falando. Que cessem já os discursos distorcidos, com contextos minimizados ou teses na contramão da ciência. O ruído dessas falas já teve consequências dramáticas.

No Irã, mais de 40 pessoas morreram envenenadas ao ingerir álcool puro para curar o coronavírus. No Reino Unido, torres de celular foram queimadas por quem acredita que a Covid-19 vem do sistema 5G de telefonia móvel. No Brasil, o isolamento social perde adesão ao ser atacado por autoridades que desconsideram o que é adotado mundo afora.

A transparência em relação ao que se sabe sobre a Covid-19 é inegociável. Cidadãos tomam decisões diárias com base nesses dados. Eles precisam ser atuais, fidedignos e acessíveis a todos.

Os checadores do Brasil ressaltam ainda que estão em contato permanente com as principais plataformas de tecnologia e redes sociais do mundo, em um esforço conjunto contra a desinformação.

Seguirão denunciando publicamente comportamentos irresponsáveis na divulgação ou na amplificação de discursos falsos sobre o coronavírus e a Covid-19. Venham eles de autoridades ou não.

Natália Leal (Agência Lupa)
Tai Nalon (Aos Fatos)
Edgard Matsuki (Boatos.org)
Gilmar Lopes (E-farsas)
Daniel Bramatti (Estadão Verifica)
Cristina Tardáguila (International Fact-Checking Network)

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