Racismo não é problema meu
Este texto é feito para você que concorda com a frase acima
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Este texto é feito para você que concorda com a frase do título. Que não é racista. Para quem todas as vidas importam e sabe, com razão, que alguns estão aproveitando a questão para fazer política eleitoral. Que não curte modinha. Que identifica com precisão os baderneiros e os radicais. Que detesta vitimização. Que sabe que acidentes de carro, assaltos e filas de hospitais são outros problemas graves do Brasil que não tiveram a mesma repercussão nestes dias. Que sabe que, às vezes, as pessoas voltam a falar do que já falaram. Isso às vezes cansa, né?
Você que é confundido injustamente com pessoas racistas. Que tem boa escolaridade e, racional que é, adora exemplos didáticos: veja se o exercício mental abaixo pode ajudar.
Em lógica argumentativa, se você defende, sei lá, a realização das pessoas, não pode ser contra alguém que defende especificamente o sonho olímpico, concorda? Se você defende a justiça para todos, naturalmente você não será contra os advogados trabalhistas. Se você ama seus três filhos, não pode ser contra o cônjuge que está ajudando o filho do meio no dever de casa.
Como você é inteligente, já se tocou que o atleta, o advogado e o cônjuge só não merecem seu apoio se exigirem exclusividade de direitos para si ou para o que ou quem defendem em específico.
Isso parece irrefutável. E é a razão pela qual eu diria que o mais sensato a fazer é deixar que todos defendam as pautas que preferirem, se elas foram justas.
Tudo bem, tudo bem, eu sei que é possível —embora seja esquisito— que existam atletas que defendam que apenas o esporte deva ser política pública. Ou advogados trabalhistas que, a pretexto de defenderem seus clientes, quebram o fórum ou ofendem injustamente o juiz. Ou mães que negam afeto a alguns de seus filhos. Pretos que quebram tudo e/ou só querem direitos para si e para mais ninguém. Mas todos os atletas, advogados, mães e pretos são assim? Podemos tirar o todo pela parte? Certamente você não fará isso, porque você é sempre ponderado.
Porque, se fizesse... iria parecer que, no fundo, não gosta de esporte, nem de advogados trabalhistas, nem do seu filho do meio. Nem de preto.
A você, para quem fiz este texto: cuidado com as aparências. Eu me importo verdadeiramente com sua vida, até porque todas as vidas importam: a minha, a sua, a de João Pedro Matos Pinto, a de George Floyd, a de Dandara, a de Marielle e as dos policiais mortos todos os dias.
Eu sei que, como você é perspicaz e também pode pagar o paywall da Folha, a esta altura já entendeu que, mesmo com ótimas intenções, pode estar atrapalhando uma luta legítima com generalizações. Esse foi o meu recado para você, de todo o coração, mas usando o que você mais gosta em si: a sensatez que nós achamos que (sempre) temos.
Enfim: use melhor o seu tempo e sua razão.
Aos outros que também leram —que não são racistas nem aparentam ser—, eu também tenho um recado: continuem, por favor. E sejam também insidiosos e estratégicos, como é o racismo neste país.
Você levou menos que 8 minutos e 46 segundos para ler esse texto. Esse foi o tempo que George Floyd suplicou para viver enquanto era garroteado pelo policial Derek Chauvin.
Vou repetir, mesmo sabendo que às vezes cansa: use melhor o seu tempo e sua razão.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters