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Monique Rodrigues do Prado

O lugar da branquitude

Acostumada a desfrutar de locais de poder, convido-a ao papel de espectadora

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Monique Rodrigues do Prado

Advogada e integrante do corpo de advogados voluntários da Educafro e da Comissão de Direitos Humanos da OAB (subseção Osasco), é cofundadora do Afronta Coletivo e participante do Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil

O Dia da Consciência Negra foi impulsionado pelo movimento negro na década de 1970 como uma data símbolo da resistência negra e de resgate, livrando o imaginário brasileiro de que foi a branquitude do dia 13 de maio a responsável por libertar os ancestrais negros, os quais vergonhosamente remanesceram escravizados até 1888.

A data visa homenagear Zumbi dos Palmares, neto de Aqualtune, princesa congolesa e estrategista de guerra que passou o legado ao líder quilombola para que pudesse gerenciar o então quilombo dos Palmares.

A advogada Monique Rodrigues do Prado, do Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil - Divulgação

Pela lei nº 9.315/1996, Zumbi passou a ser reconhecido como herói da pátria. Entretanto, diferentemente do dia 18 de janeiro, feriado nos Estados Unidos que homenageia o líder negro Martin Luther King, aqui a branquitude brasileira não foi capaz de reconhecer a importância nacional do dia 20 de novembro à luz de uma escusa comercial.

Por outro lado, desde o Movimento Negro Unificado (MNU) até hoje, o movimento negro encontra-se a todo vapor, inclusive estendendo a discussão ao longo de todo o mês de novembro, cuja programação envolve painéis acadêmicos, palestras, webinars, produções audiovisuais e expressões artísticas, jogando luz às potências afrobrasileiras.

Neste ano, em razão dos protestos globais antirracistas, a discussão racial permaneceu aquecida. A Coalizão Negra Por Direitos, por exemplo, reuniu inúmeras instituições do movimento negro para formar o pacto “Enquanto houver racismo não haverá democracia”, alertando sobre os impactos da ascensão fascista e racista no presente governo.

O manifesto grifa o papel do negro como sujeito político e reforça a ausência de reparação histórica, bem como a desproporcionalidade de renda entre negros e brancos —além do genocídio e o massivo encarceramento dos jovens negros. Em outras palavras, o pacto chama atenção à “abolição inconclusa” .

As ações que ocorrem durante o mês da Consciência Negra servem como escopo para denunciar algo muito maior e arraigado: a estrutura de poder pautada na manutenção da hegemonia branca nas instituições brasileiras. Por isso, são louváveis ações como a da Magazine Luiza, pois certamente são capazes de criar um “shift” no mercado.

Neste mês, o papel do branco tem muito mais a ver com tornar-se espectador paradoxalmente ativo, sem utilizar o negro como manual de consulta. Aprofundar a leitura sobre autores negros, contemplar intelectuais negros no tocante às questões raciais e em outras esferas de produção de conhecimento; rever o seu papel na exotificação, subalternização e desumanização de pessoas negras também são alguns exemplos.

O convite é desafiador porque coloca a branquitude em um lugar de plateia, quando ela está acostumada a desfrutar do seu lugar de poder e circulação livre nos espaços. Todavia negros estão pensando, falando e produzindo coisas para além da escassez e sua racialidade. Lembre-se: se você fica neutro frente à opressão, você está com o opressor.

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