Eleições à russa
Fossilização do sistema político do país sob Putin avança com pleito parlamentar
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Um dos elementos da vida política na Rússia de Vladimir Putin, figura dominante no país desde 1999, era a busca constante de um legalismo formal por parte do presidente. Eleições e respeito ao regramento constitucional, por ilusórios que fossem, eram a regra.
Parte disso decorria do imperativo de popularidade para legitimar seu poder ante a elite, situando Putin num time de autocratas à parte de tiranetes mais vulgares.
Mas o cenário está mudando. A fossilização do sistema político sob o presidente deu largos passos quando Putin operou em 2020 uma mudança constitucional para ficar no poder até 2036. O dissenso, que nunca encontrou viabilidade orgânica num ambiente partidário controlado, passou a ser reprimido de forma implacável.
O ativista Alexei Navalni virou símbolo dessa realidade. Tendo mobilizado multidões inauditas contra o Kremlin desde 2017, ele passou a apostar em uma guerrilha. Seus aliados promoveriam quaisquer candidatos de partidos com chances de derrotar nome do Rússia Unida, a sigla do putinismo.
Deu certo pontualmente. No ano passado, Navalni acabou envenenado e teve de ser tratado na Alemanha, acusando Putin pelo crime. O mandatário deu de ombros, como em outros episódios de morte de rivais. Assim que o ativista voltou ao país, em janeiro, foi preso.
O que se viu depois foi uma campanha sistemática de repressão em reação a gigantescos protestos pró-Navalni. Focos de independência na mídia foram tachados de agentes estrangeiros, desculpa para multas pesadas e arbitrárias.
Em preparação à eleição parlamentar nacional finalizada domingo, dezenas de candidatos de oposição foram proibidos de concorrer por filigranas legais.
Para coroar o processo, foi implantada em Moscou e outras regiões a opção de voto online, um teórico avanço que, segundo a oposição consentida dos comunistas, promoveu uma fraude maciça.
Após atraso de 14 horas na tabulação dos votos, o Rússia Unida venceu na capital, usualmente mais refratária a Putin. O partido segue comandando a Duma (Câmara baixa do Parlamento), com 324 de 450 cadeiras.
O processo sugere o fim da era em que Putin edulcorava seu jugo com alguns temperos democráticos, mas também mostra que o presidente talvez já não confie tanto no apoio que claramente ainda reúne na sociedade russa.
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