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Jerson Kelman

Precisamos de um mercado de carbono?

Devemos investir em nichos onde podemos liderar inovações tecnológicas

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Jerson Kelman

Engenheiro, professor e doutor em hidrologia, dirigiu duas agências reguladoras federais (ANA e Aneel) e três concessionárias de serviço público (Light, Enersul e Sabesp)

Uma pessoa rica em geral aceita incorrer em algum custo imediato, sem maiores consequências para o seu padrão de vida, em troca de menores custos futuros. Por exemplo, faz check-up preventivo para aumentar a expectativa de vida.

Já uma pessoa miserável, sofrendo provações, não tem como sacrificar o presente em benefício de um futuro melhor. Seria colocar em risco a própria existência do futuro. No contexto do exemplo, não economizaria o dinheiro das refeições para pagar o check-up preventivo. Em termos econômicos, o rico e o pobre tomam decisões, ainda que inconscientemente, utilizando taxas de desconto respectivamente pequena e grande.

A mesma diferença separa as nações ricas das pobres. É natural que os países ricos, preocupados com os efeitos da mudança climática, estejam mais propensos a pagar o "green premium" (custo extra) embutido em produtos e serviços descarbonizados do que os países pobres. Ou seja, tendem a aceitar retardo no crescimento econômico, ainda que não para sempre. Têm a expectativa de que as inovações tecnológicas não apenas diminuirão o "green premium" como criarão um ciclo econômico de maior produtividade, permitindo que mantenham a liderança mundial.

Já os países pobres têm dificuldade de se preocupar com desastres climáticos anunciados para as próximas décadas enquanto parcela significativa da sua população vive no presente sujeita a toda sorte de insegurança, inclusive alimentar.

Como o Brasil está mais para pobre do que para rico, temos que responder à seguinte pergunta: Faz sentido imitar os europeus, engajando a economia na descarbonização e pagando o correspondente "green premium"?

A resposta é... "Depende!". Se houver oportunidade de uma ampla parceria com os países desenvolvidos, tomando partido das complementaridades, para a retomada do desenvolvimento econômico e aumento da produtividade do país... ótimo! Por exemplo, contratos de longo prazo para exportação de hidrogênio verde produzido com energia renovável injetada no Sistema Interligado Nacional. Porém não seria sensata a criação de um mercado de carbono no Brasil descontextualizado da agenda de maior inserção no mercado mundial.

Dito isso, ainda que não haja ambiente para nos beneficiarmos da preocupação das nações desenvolvidas com as mudanças climáticas, devemos perseguir a nossa própria agenda, subordinada à meta da retomada do desenvolvimento e do combate à pobreza. É nosso interesse, independentemente da pressão internacional, eliminar a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa do Brasil —o desmatamento ilegal— porque se trata de um processo que desperdiça recursos naturais. Também devemos investir em nichos nos quais temos chance de liderar inovações tecnológicas. Por exemplo, veículos elétricos que usem etanol como fonte primária de energia.

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