Prometo não falar sobre "o" assunto até domingo. Vou congelar minhas preocupações e me anestesiar do risco do aceita-que-dói-menos de um amanhã incerto. Quero três dias para ser fútil, zen, paz & amor; ser ingênua, acreditar em tudo que ouvir. Vou me desligar de pesquisas incertas e debates turbulentos para me ligar na serenidade dos mares do nosso Brasil e na certeza das pessoas boas que só esse país tem.

Polarização para mim vai ser só na física, nas ondas eletromagnéticas, nos polos magnéticos, que unem e não separam. Vou adiar o encontro familiar para a semana que vem, para ninguém mais tentar me convencer de nada. Esquerda e direita só no Waze. Meu centrão vai ser no Mercado Municipal, na Zona Cerealista e no Theatro Municipal. A dúvida crucial vai ser se sorvete de flocos ou de limão com morango. Meu maior dilema, a roupa que vou escolher de manhã — vou de branco, imaculada, para não correr o risco de usar uma cor partidária. Não quero ser de nenhum partido, só quero ser um bom-partido.

Não vou abrir vídeos de WhatsApp. Vou me desintoxicar do Instagram. No jornal, vou pular as páginas de política e internacional (sim, porque lá eles estão falando de nós) e ir direto ao caderno de entretenimento; talvez o horóscopo que preveja anos melhores, ou trocar o fogo cruzado por palavras cruzadas. Vou me agarrar à democracia. Viver a disputa como se fosse igual às outras, onde quem vence é o melhor e que, no final, todos saem ganhando.

Vou dormir pesado. Sonhar um 2023 com mais bocas comendo do Norte ao Sul, mais árvores respirando na Amazônia, mais crianças na escola, mais igualdade, menos violência. Sonhar com o povo unido, e a ele me juntar para torcer por um único time, para a bola entrar num único gol. Vou me nutrir três dias desse milagre, para curar a anemia da minha esperança. Esses três dias têm que ter verdade, ser de verdade. E eu vou acreditar: vai dar certo!