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Silvano Raia e Elias David-Neto

Novas fronteiras para a doação e o transplante de órgãos

Esforços para que sejam replicadas no Brasil enobrecem a condição humana

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Silvano Raia

Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Elias David-Neto

Diretor do Serviço de Transplante de Rim do Hospital das Clínicas da FMUSP

A substituição de órgãos representa o maior progresso da história da cirurgia. Estima-se que a partir de 2000, quando se iniciou o registro mundial, foram realizados mais de 2 milhões de transplantes.

Entretanto vários fatores contribuem para uma falta de órgãos suficientes para atender a demanda. Em consequência, muitos inscritos morrem na lista de espera antes de serem transplantados. Em 2022, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, sete pacientes faleceram por dia no Brasil nessas circunstâncias.

Recipiente térmico usado para transportar o coração doado é colocado em um canto de uma sala cirúrgica enquanto aguarda para ser transplantado em uma paciente no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo - Lalo de Almeida - 20.mai.2018/Folhapress - Folhapress

Toda doação representa um gesto de grande generosidade, que se expressa ainda mais na doação em vida de um órgão ou parte dele. Isso permite que o transplante intervivos seja responsável pelo tratamento de centenas de milhares de pacientes que, de outra forma, seriam condenados à hemodiálise crônica (no caso do rim) ou à morte (no caso de fígado, coração e pulmão), principalmente em países em que, por motivos religiosos ou tradições, é proibido retirar órgãos de cadáveres.

Considerando que não dispomos ainda de um sistema temporário de suporte da função hepática, como a hemodiálise para função renal, podemos deduzir que o transplante de fígado intervivos, desde 2000, salvou a vida dos mais de 86 mil pacientes, segundo a Global Observatory on Donation and Transplantation.

Nesse sentido, vale salientar uma recente legislação que nos EUA autoriza um tipo de doação inédita: permite que doadores salvem a vida de portadores de uma doença que pode evoluir no futuro para um estágio cujo único tratamento seja o transplante de rim. A lei autoriza que um doador parente de um eventual futuro candidato a transplante doe um dos seus rins ao primeiro candidato da lista de espera, que obviamente lhe é totalmente desconhecido. Ao fazê-lo, recebe um voucher de órgãos que confere prioridade para o receptor de sua escolha —que, se necessário, o usará futuramente mesmo após a morte do doador.

Aqui no Brasil, pelo contrário, é proibida até a chamada doação cruzada, na qual um doador cujo rim é geneticamente incompatível com o receptor que deseja atender doe um dos seus rins a um receptor desconhecido —o parente deste, por sua vez, doará o seu rim compatível ao ente querido do primeiro. Essa doação cruzada já salvou a vida de milhares de pacientes nos EUA, na Europa, no Japão e em outros países.

A falta de órgãos para transplante tem estimulado também a procura de outras alternativas para obter órgãos ditos adicionais. Trata-se do xenotransplante, que visa transplantar órgãos de animais em humanos.

Aqui no Brasil, há seis anos, pesquisadores da USP trabalham para atingir esse objetivo. Já sistematizaram as modificações genéticas, produziram os primeiros embriões e está previsto até o fim do ano o nascimento dos primeiros suínos geneticamente modificados.

Cabe agora às autoridades competentes, de um lado, adaptar a legislação vigente para que os candidatos a transplante possam se beneficiar dos novos tipos de doação e, de outro, subsidiar pesquisas capazes de aumentar o número de órgãos para transplante.

Todos esses esforços enobrecem a nossa condição humana, particularmente neste momento em que tanto se discute e valoriza a inteligência artificial para a tomada de decisões

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