País realiza metade dos transplantes necessários em 2022, aponta relatório

Mesmo com arrefecimento da pandemia, cirurgias continuam em queda, enquanto recusa familiar e contraindicações médicas sobem

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São Paulo

Mesmo com o arrefecimento da pandemia de Covid-19, as taxas de doação de órgãos continuam abaixo do que era visto antes da emergência de saúde. Só em 2022, quase metade dos transplantes de cinco órgãos deixaram de ser atendidos no Brasil.

A estimativa é do RBT (Relatório Brasileiro de Transplantes) de 2022. Segundo o documento, eram necessários mais de 40 mil transplantes de córnea, rim, fígado, coração e pulmão. No entanto, somente cerca de 21 mil de transplantes desses órgãos foram realmente feitos no ano passado.

Recipiente térmico usado para transportar o coração doado é colocado em um canto de uma sala cirúrgica enquanto aguarda para ser transplantado em uma paciente no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo
Recipiente térmico usado para transportar o coração doado é colocado em um canto de uma sala cirúrgica enquanto aguarda para ser transplantado em uma paciente no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo - Lalo de Almeida - 20.mai.2018/Folhapress

A queda no número de doadores e de órgãos doados já era visto desde o início da pandemia de Covid-19. Gustavo Fernandes Ferreira, presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), entidade responsável pelo relatório, explica que, antes, o Brasil vinha apresentando um aumento no número de doadores.

Em 2019, foram 18,1 doadores efetivos por milhão de pessoas, índice maior do que de anos anteriores. Mas o cenário foi interrompido com a emergência de saúde causada pelo Sars-CoV-2. Em 2020, a taxa caiu para 15,8 e, depois, caiu ainda mais em 2021.

Era de se esperar que, em 2022, as doações de órgãos voltassem aos patamares semelhantes aos de antes da pandemia. Mas não foi isso que aconteceu: no ano passado, o país até registrou um aumento no número comparado ao ano anterior, chegando a 16,5, mas ainda abaixo da tendência observada pré-Covid-19.

A percepção faz com que outros fatores possivelmente estejam associados com a lenta recuperação no número de transplantes. Uma das explicações pode estar relacionada com a recusa familiar, o que ocorre quando a família nega a doação de órgãos do doador.

Segundo os dados de 2022, a taxa de recusa foi de 47%, a maior nos últimos dez anos. Em 2019, antes da pandemia, esse percentual era de 40%. Ferreira afirma que o índice é preocupante porque, se não houvesse a negação dos familiares em 2022, "a gente poderia praticamente dobrar a capacidade de doadores".

Esse aumento na recusa desemboca em uma menor taxa na efetivação de uma doação. Em 2022, essa efetivação foi de quase 27%, enquanto que, em 2019, era registrado aproximadamente 33%.

Outro aspecto que se relaciona com a queda na efetivação são as contra indicações médicas. O relatório informa que esse índice foi de 17% em 2022. O percentual representa uma queda em comparação com 2021, quando 23% das doações potenciais passaram por contra indicação. No entanto, o índice ainda está acima dos 15% que foram observados em 2019, antes da pandemia.

O presidente da ABTO explica que essas contra indicações são feitas pelo centro de doação quando se avalia que o doador não é adequado para o paciente em busca do órgão. Mas essa ressalva também pode ocorrer por outra razão: quando o centro de transplante não conta com a capacidade plena para realizar o transplante.

O ponto tem relação com a dificuldade que o Brasil encara de não só aumentar o número de doadores, mas também melhorar a capacidade de realizar os transplantes. Ferreira cita como isso pode ser problemático com exemplos de 2022.

"Se você observar, o número de doadores aumentou mais do que o número de transplantes. Então existe um gap que a gente precisa entender melhor o que está acontecendo de por que conseguimos recuperar mais a doação do que o transplante", exemplifica.

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