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Agilizar a burocracia

Atraso na distribuição de remédios para o câncer de mama aprofunda desigualdades

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A médica radiologista Sílvia Sabino analisa mamografias na tela de um computador
Médica radiologista analisa mamografias - Anderson Marques/Hospital de Amor

Segundo dados do Datasus levantados pela ONG Todos Juntos Contra o Câncer, parcela considerável dos tumores é detectada tardiamente no sistema público de saúde brasileiro. Em relação ao câncer de mama, 57% dos casos são diagnosticados nos estágios 1 e 2, ante 43% nos 3 e 4, os mais avançados.

Além do risco para a saúde das mulheres, o atraso gera impactos financeiros, pois uma única sessão de quimioterapia contra esse tipo de câncer no estágio 1 custa R$ 134,17 aos cofres públicos. Enquanto na fase 4, a mais evoluída, o valor desse tipo de tratamento salta para R$ 809,56.

Por óbvio, é urgente agilizar diagnósticos para salvar mais vidas, mas também há atrasos na incorporação de novas drogas pelo SUS. Causa espécie, por exemplo, que o Ministério da Saúde esteja protelando há cerca de dois anos a distribuição de três remédios inovadores contra o câncer de mama metastático —aquele nos estágios finais, quando geralmente a doença se espalha pelo corpo.

O palbociclibe (da farmacêutica Pfizer), o abemaciclibe (Eli Lilly), e o ribociclibe (Novartis) são medicamentos da classe dos inibidores de ciclina, uma proteína que atua no processo de reprodução celular.

Com o bloqueio, quebra-se o ciclo de crescimento do tumor. O ribociclibe, por exemplo, apresentou redução de até 25% da recorrência do câncer de mama.

Os remédios são administrados por via oral, podem ser consumidos em casa, sem afetar a rotina das pacientes, e causam menos efeitos colaterais do que a quimioterapia.

Há cerca de 600 dias, o Conitec, órgão que avalia drogas e tecnologias a serem incluídas no SUS, aprovou os medicamentos. A partir daí, o Ministério da Saúde teria 180 dias para definir a distribuição pelas redes de saúde pública no país.

Mas, até agora, apenas mulheres que podem pagar R$ 21 mil por mês para comprar uma caixa com 21 comprimidos ou aquelas com plano de saúde têm acesso ao tratamento —a Agência Nacional de Saúde Suplementar incorporou os remédios em 2021.

Inibidores de ciclina aumentam a sobrevida de pacientes —até dez meses a mais do que tratamentos convencionais. É inaceitável que esse tempo seja roubado por inépcia administrativa do Estado. O governo deve agilizar a burocracia para melhorar a qualidade de vida de pacientes e, principalmente, para diminuir desigualdades sociais que grassam na área da saúde.

editoriais@grupofolha.com.br

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