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Lorice Scalise

Saúde não pode depender de CEP

O paciente no centro de tudo é essencial para priorizar ações e investimentos

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Lorice Scalise

Presidente da Roche Farma Brasil

Um novo governo é sempre convidado a encontrar equilíbrio entre ações de curto e longo prazo, atendendo às questões emergenciais da população —ao mesmo tempo em que desenvolve projetos estruturantes. Assumir a liderança de uma empresa pode ser uma experiência bastante semelhante.

Desde que regressei ao Brasil para ser a primeira mulher e pessoa latino-americana a assumir a presidência da afiliada de uma das principais farmacêuticas do mundo, esse mesmo desafio tem ocupado meus pensamentos: como trabalhar nossa agenda de urgências e prioridades ao mesmo tempo em que nos dedicamos a entender, propor e colaborar com soluções para promover mais eficiências aos sistemas de saúde?

A reflexão me faz lembrar uma conversa que tive com um de meus filhos no início de sua adolescência: "Mãe, quantos números existem entre 0 e 1?", ele perguntou, depois de ter escutado diferentes negativas minhas para algo que desejava fazer. "Nenhum", respondi com a voz de mãe que não quer ceder. "Errado! Infinitos, mãe, existem infinitos números entre o 0 e o 1!", rebateu ele. "Da mesma forma que existem infinitas possibilidades para o que eu quero fazer, você só precisa me ajudar a encontrar uma."

Se me perguntarem qual é minha função como líder da iniciativa privada, assim como a dos líderes da nação, essa será a minha resposta: encontrar as melhores oportunidades para que possamos alavancar os cuidados com a saúde, garantindo mais acesso aos pacientes, de forma mais rápida e com menos custo social. Afinal, assim como os infinitos números entre 0 e 1, existem infinitas possibilidades para alcançarmos essa visão.

As inovações somente chegarão a todos quando questões complexas como gestão de dados, soluções de financiamento, arcabouço regulatório para novas tecnologias e melhorias em infraestrutura e educação forem priorizadas, de forma comum, por todos os atores da saúde.

Se considerarmos apenas alguns dados em oncologia, já constatamos como o desafio é gigantesco. Li recentemente nesta Folha reportagem sobre a variação drástica da oferta de mamografias de acordo com a região do Brasil, baseada em dados do SUS. Outro estudo, publicado pelo Instituto Nacional de Câncer, mostra que, enquanto no Sudeste há projeção de redução de casos de todos os tipos de câncer em homens e mulheres, no Norte do país há expectativa de aumento.

É inconcebível que alguém tenha menor expectativa de diagnóstico precoce e tratamento adequado para uma doença em função do seu local de moradia, do seu CEP. Essas e tantas outras informações corroboram o compromisso moral de trabalhar para um SUS verdadeiramente equânime. Saúde é sinônimo de vida e pauta inadiável.

Não é preciso esperar. O potencial de transformação a partir de parcerias público-privadas é tangível e exequível. As empresas podem e devem acelerar o aprendizado sobre novas ferramentas de colaboração e modelos de gestão que garantam mais sustentabilidade aos sistemas, escalando experiências e programas para o ambiente público, de maneira a contemplar pessoas em suas diferentes necessidades.

Este sempre deve ser o nosso ponto de partida e o de chegada: as pessoas. O paciente é o ímã que une todos os que trabalham em saúde. Colocá-lo no centro de tudo o que fazemos é a direção mais justa e eficiente para que possamos priorizar ações, investimentos e potencializar o impacto na saúde. Sempre alertas de que as possibilidades são infinitas.

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