Confianças parciais
Após 10 anos de percalços, era esperável algum desgaste das instituições
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Os últimos dez anos foram pródigos em eventos capazes de abalar o prestígio das instituições de governo brasileiras. A lista começa pela onda de protestos populares de 2013 e inclui o impeachment de Dilma Rousseff (PT), ascensão e queda meteóricas da Lava Jato, a pandemia de Covid-19 e o ensaio golpista de Jair Bolsonaro.
Na maior parte desse período, ademais, a economia do país oscilou entre a recessão —incluindo uma das mais longas e profundas da história nacional, de 2014 a 2016— e a semiestagnação. Assim, a renda média por habitante no ano passado ainda era inferior à medida uma década antes.
Não constitui surpresa, nesse quadro, que tenha caído a credibilidade de boa parte das instituições perante o eleitorado, como mostram pesquisas do Datafolha.
Essa queda foi especialmente pronunciada no caso da Presidência da República, na qual impressionantes 85% declaravam confiar em agosto de 2012 (33% diziam confiar muito, e 52%, um pouco).
Os percentuais desabaram durante a breve gestão de Michel Temer (MDB) e, mesmo com recuperação após a volta de presidentes eleitos, não retornaram aos antigos patamares. Na sondagem mais recente, em 12 e 13 deste mês, foram 64% (24% no grau mais elevado).
Após o julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal merecia em dezembro de 2012 a confiança ao menos parcial de 70% dos brasileiros aptos a votar, marca não superada desde então. Muitas decisões louváveis e outras controvertidas depois, hoje são 60%.
Curiosamente, o Congresso Nacional, por tradição mais criticado, ganhou protagonismo e algum prestígio na mesma base de comparação. Confiavam em deputados e senadores apenas 43% (muito, só 5%); agora, são 63% (9%, muito).
Pode-se ver o copo meio cheio nos números. Mesmo depois de tantos percalços, as instituições preservaram boa parcela de reputação ante a maioria do eleitorado.
Mais que isso, foram capazes de manter a estabilidade democrática em meio ao acirramento das tensões políticas. Quanto à economia, se os resultados foram ruins, ao menos se evitaram desastres como a insolvência da dívida pública e o descontrole inflacionário.
Nota-se que o descrédito nas instituições se concentra hoje entre eleitores de Bolsonaro, o que em certa medida é normal —sobretudo no caso da Presidência, na qual 61% deles dizem não confiar. A hostilidade se estende, porém, ao STF (63%), aos partidos (57%) e, menos, ao Congresso (41%).
Insatisfação e cobrança são parte necessária do jogo democrático, mas deixam de ser saudáveis quando fomentam pregações autoritárias. Aí está o copo meio vazio.
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