Os brasileiros reconhecem hoje alguma melhora nas condições econômicas, mas se mostram mais temerosos a respeito do futuro. É o que indica pesquisa do Datafolha.
A parcela da população que declara ver melhoria atingiu 35%, pico da série histórica, mesmo patamar de 34% em outubro do ano passado, mas bem acima do verificado nos dois levantamentos anteriores —26% em dezembro de 2022 e 23% em março deste ano.
O padrão se repete na pergunta a respeito da situação pessoal: os que relatam melhora caíram de 34% em dezembro para 23% em março, subindo agora para 30%.
É plausível que o pessimismo no início do ano refletisse tensões políticas, as incertezas mais altas quanto ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a inflação concentrada em itens de primeira necessidade, como alimentos, energia e combustíveis —o que onerava sobretudo pobres e classe média.
É também compreensível o alívio recente, dado o desempenho da economia superior ao esperado no início do ano, quando as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto estavam em 0,7%. Hoje se fala em 3%.
Há alguns fatores relevantes para o alento. O choque positivo no campo com a safra recorde, o aumento nas transferências sociais e a recuperação da renda disponível (com 5% de alta ante 2022) conforme amainou a inflação contribuem para os bons resultados recentes do consumo das famílias.
Mas há sensação de insegurança sobre a durabilidade dessas condições. Os juros ainda estão altos e tendem a desacelerar a atividade.
Tem crescido a parcela dos que esperam alta da inflação (de 39% em dezembro de 2022 para 54% em setembro), piora do poder de compra (de 1% para 33%) e aumento do desemprego (de 37% para 46%).
De modo geral, além disso, a parcela dos que esperam melhora na economia caiu de 62% em dezembro para 41% agora. Os que anteveem piora passaram de 13% para 28%, mesmo patamar do grupo que crê em estabilidade.
Preocupam sinais de polarização política. Entre eleitores de Jair Bolsonaro (PL), houve alta do pessimismo —de 43% para 52%. Entre quem votou em Lula, o índice dos que esperam que a economia vá melhorar passou de 79% para 66%.
A combinação de condições razoáveis no momento com certa insegurança futura são um alerta para o governo não desviar de prudência na gestão econômica.
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