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Karine Karam

A publicidade das apostas online deveria sofrer restrições mais severas? SIM

Questão de saúde pública; urge limitar exibições, proibir patrocínios esportivos e incluir alertas de risco

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Karine Karam

Professora de comportamento do consumidor e pesquisa de mercado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)

As apostas online, ou bets, se tornaram presença constante no cotidiano, sejam em anúncios televisivos, instigando o desejo, sejam em banners que pipocam a cada clique ou patrocinando o futebol, paixão nacional. Ao invadirem o cotidiano, trouxeram preocupações alarmantes.

O mercado de apostas online movimenta bilhões de reais no Brasil. Isso demonstra não apenas a popularidade dessas plataformas, mas também destaca o potencial de danos financeiros.

Jovem menor de idade manuseia sites de apostas em celular, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

A preocupação se torna mais aguda quando analisamos o perfil dos apostadores brasileiros: 4 em cada 10 faz apostas esportivas online, sendo 54% da classe C e 44% jovens, conforme reportagem publicada nesta Folha ("Apostadores deixam de comer pizza e ir ao cinema e até adiam compra de cama para gastar com bets", 13/7).

Quase dois terços dos entrevistados (64%) usam a renda principal para apostas. Desses, 63% disseram que já se sentiram prejudicados por serem usuários de bets, já que estão abrindo mão de hábitos importantes do seu dia a dia para fazer as apostas online —19% não adquiriram itens de supermercado, 15% deixaram de fazer refeições fora e 11% não pagaram contas básicas. As apostas mensais já apresentam cerca de 20% do orçamento das famílias de renda mais baixa.

A publicidade tem um papel central nessa problemática. A maneira como as apostas são promovidas muitas vezes mascara os riscos associados. Anúncios glamorizados inundam os espectadores com imagens de vitórias fáceis e diversão, enquanto silenciam as histórias de perda e dependência que frequentemente seguem. Essa representação tem muito apelo, especialmente para populações vulneráveis, como os jovens, os de menor renda e aqueles com predisposição a comportamentos compulsivos.

A internet mudou a percepção de tempo. Ganhar dinheiro com trabalho é algo demorado e que demanda esforço. E essa geração alfabetizada com vídeos curtos não quer esperar muito por nada, deseja soluções mágicas. Neste cenário, as apostas online surgem associando o prazer, a excitação dos jogos com a possibilidade de ganhos financeiros aparentemente rápidos e fáceis.

Um exemplo claro do impacto da propaganda em comportamentos de risco é o caso das restrições impostas à publicidade do tabaco. Com a regulamentação de propagandas de cigarro nas últimas décadas, acompanhada por advertências explícitas sobre os riscos à saúde, testemunhamos uma queda significativa nas taxas de tabagismo.

De forma semelhante, ao restringir a publicidade de apostas online, estamos escolhendo proteger os consumidores de práticas publicitárias potencialmente prejudiciais. Medidas como limitar os horários de exibição de anúncios, proibir patrocínios esportivos de empresas de apostas e incluir mensagens de alerta sobre os riscos do jogo em todas as publicidades são estratégias que podem ser empregadas para mitigar os impactos negativos.

Restringir a publicidade de apostas online não é cercear a liberdade de mercado, mas sim uma questão de saúde pública. Trata-se de proteger indivíduos e famílias dos efeitos devastadores que o vício em jogos de azar pode causar. Países que adotaram regulamentações rigorosas, como a Suécia e a Itália, já mostram sinais de redução de danos associados ao jogo.

Os desfavoráveis à regulação da publicidade dirão que o mercado gera emprego, que incentiva o esporte, aumenta a arrecadação fiscal e promove o desenvolvimento econômico. Isso tudo é verdade. Mas não vale a pena diante dos danos aos jovens e mais vulneráveis.

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