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Gilberto Zancopé

Os 'Fiscalistas Puros dos Últimos Dias' e a presidência do Banco Central

Seita platônica exige taxa de juros punitiva para o fiel malcomportado

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Gilberto Zancopé

Fundador do Ordervc.com, que investe em 18 empresas na economia real

Somos descendentes e dependentes de primeira hora dos filósofos gregos. Em especial da revolução do mundo helênico. Platão defendia o mundo das ideias, perfeito, com o homem perfeito e as relações perfeitas. Aristóteles, seu opositor, dizia o contrário. O homem é imperfeito. O mundo idem. As ideias de Aristóteles foram menos charmosas, e Platão moldou grande parte da civilização ocidental. Entrou nas universidades, especialmente nos cursos de economia

Os fiscalistas puros da economia são, hoje, uma seita platônica. Exigem do Brasil uma performance perfeita que não tem correspondente no mundo real; nem nos países em desenvolvimento, nem nos desenvolvidos. Como a performance exigida não aparece, impõem uma taxa de juros punitiva para o fiel malcomportado. Buscam o mundo ideal, imaginando que é possível evitar com juros as ameaças do futuro.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apresenta relatório de inflação - Paulo Pinto - 28.mar.24/Agência Brasil

As seitas dialogam com fatalidades. O mundo está prestes a acabar e existe, após esse fim, um mundo perfeito. Possuem fiéis escudeiros, embalados em uma cultura desleixada com a realidade.

Olhando somente para os dados —e aqui vamos compreender que durante a pandemia de Covid-19 a discussão foi a de que deveríamos adotar a ciência, os fatos—, fica evidente que os fiscalistas consideram que a inflação está fora de controle, quando na realidade ela não está.

Olhando para a realidade, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses é de 4,23%. Já o IPCA acumulado de 2024, até o momento, é de 2,48%. Os nossos fatalistas do Banco Central construíram uma ideologia do caos e criaram uma seita. Alguns sentam-se nos bancos à esquerda. Outros sentam-se à direita. Mas ambos realizam as mesmas previsões. Essas são sempre amargas. A penitência? Juros absurdamente altos —Selic parada em 10,5% ao ano e agora com ameaça de aumento— para controlar uma inflação hipotética que pode destruir o sonho do mundo ideal. Não bastam os dados. Não basta a realidade. Os platônicos querem prever o futuro, e a realidade que se dane.

O Banco Central deve, claro, agir para conter descontroles da economia. Mas deve fazer isso abaixando os livros sagrados inflados pelo apocalipse. Decidir baseado na realidade para garantir a qualidade e a quantidade de empregos, em vez de punir a população de baixa renda com juros altos e condenar empresas e agronegócio a baixos investimentos.

Uma passada de olhos em jornais e artigos de economia mostra as dificuldades do Brasil no quesito produtividade. No ranking do World Competitiveness Ranking (WCR), do International Institute for Management Development (IMD), em 2024 o Brasil caiu para a 62ª posição, ficando à frente apenas de Peru, Nigéria, Gana, Argentina e Venezuela. Dentro desse mesmo ranking, no quesito eficiência empresarial, ficamos na 61ª posição. Honestamente, qual empresário se dispõe a investir em equipamentos com esses juros? Colocar os juros dentro de seus custos eliminará boa parte de sua receita. A solução? Produzir na China, na Índia ou em outros locais. E os empregos? Bem, para os fiscalistas, empregos talvez não importem. Sem empregos todos poderão contemplar a natureza no mundo ideal.

A inflação está controlada. A taxa Selic no Brasil é mais de duas vezes a inflação acumulada em 12 meses. Por quê? Porque os fatalistas decidiram que o futuro é uma ameaça constante. No mundo real, população, empresários, empreendedores, agricultores, trabalhadores e donas de casa sentem os efeitos negativos dos juros altos. Os economistas debatem suas visões.

É preciso dar um basta e retirar do Banco Central qualquer sacerdote fiscalista. Ter um presidente com autoridade e convivência com o mundo real. Alguém vinculado ao sistema produtivo, não ao rentismo. Alguém que compreenda os mecanismos de investimentos que aumentem competitividade, gerem postos de trabalho e parem de arrancar dinheiro da população pauperizada.

Não fazer isso conduzirá ao apocalipse ameaçado pelos fiscalistas. Dirão: "Nós avisamos". Na verdade, não avisaram nada, foi muito pior. Empurraram o país para o atraso. E isso sim é um erro fatal.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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