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O que a Folha pensa Brics

O Brics de Pequim e Moscou

Com voz abafada, Lula expõe-se ao embaraço de ver Venezuela e Nicarágua no bloco, que se vale de antiamericanismo datado

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e demais representantes dos países do Brics, em Joanesburgo (África do Sul) - Gianluigi Guercia - 23.ago.23/Pool via Reuters

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Sob os dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil jamais ponderou se seu engajamento no Brics convinha aos interesses nacionais. O bloco de economias emergentes, com viés antiamericano datado, encaixou-se em sua ambição de conduzir uma diplomacia "ativa e altiva", com olhos postos no chamado Sul Global.

O grupo, formado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, recebeu a África do Sul em 2011.

Neste terceiro mandato, o governo brasileiro não teve forças para impedir a expansão dos Brics ditada por China e Rússia, que trouxeram Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Egito para o bloco em janeiro deste ano.

Não bastasse, vê-se agora diante do constrangimento de aceitar a possível inclusão da Venezuela e da Nicarágua no órgão.

Como reportou a Folha, Pequim e Moscou preparam a integração de ambas as ditaduras latino-americanas como parceiras em outubro, na reunião de cúpula da entidade em Kazan (Rússia).

Embora Venezuela e Nicarágua não estejam na lista de adesão plena, a medida será suficiente para criar embaraços ao governo Lula. Há algo de proposital nesse avanço, que leva em conta a voz diminuta do Brasil no bloco.

Não passa incólume às diplomacias de Xi Jinping e de Vladimir Putin a crise na relação do Brasil com a ditadura de Daniel Ortega. Tampouco é ignorada a decisão de Lula, reforçada na sexta (30), de reconhecer a vitória eleitoral de Nicolás Maduro somente se comprovada pelas atas do pleito.

É bem possível que o Itamaraty consiga convencer a Índia a somar-se ao veto brasileiro a essa iniciativa. A própria China pode recuar diante dos sinais emitidos por Lula de adesão do Brasil à Nova Rota da Seda —outra decisão controversa, sob o ponto de vista do interesse nacional.

O Itamaraty considera barganhar a inclusão de países sem viés antiamericano, como alguns do Sudeste Asiático, pela exclusão de Venezuela e Nicarágua. Ilude-se também com a adesão da Colômbia, que nunca pleiteou acesso, como prêmio de consolação.

Não deixa de causar mal-estar a Lula sua tardia constatação da essência ditatorial dos regimes de Maduro e Ortega, louvados por seu partido. Embora bem-vindo, esse giro não seria possível sem a pressão de forças democráticas consolidadas no país.

Mas ainda falta ao petista reconhecer que o Brics não passa de uma concertação regida conforme os estratagemas da China e, a rigor, de um infeliz acrônimo no qual o Brasil se meteu por pura conveniência ideológica e boa dose de ingenuidade geopolítica.

editoriais@grupofolha.com.br

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