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O que a Folha pensa União Europeia

Extremismos emergem na Alemanha

Primeira vitória de um partido de ultradireita desde o nazismo e avanço da esquerda radical em pleitos locais preocupam

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Concentração de pessoas com bandeiras preta, vermelha e amarela da Alemanha e azuis e vermelhas do partido Alternativa para a Alemanha durante um dia ensolarado. Atrás, casario antigo e uma torre de igreja
Apoiadores da AfD durante evento do partido em Erfurt, capital da Turíngia (Alemanha) - Karina Hessland - 31.ago.2024/Reuters

Ecos do passado se fizeram presente na democracia alemã no fim de semana, com resultados em pleitos locais que favoreceram partidos extremistas à direita e à esquerda.

O destaque foi a vitória projetada para a AfD (Alternativa para a Alemanha) na eleição legislativa da Turíngia; na vizinha Saxônia, a legenda ficou em segundo lugar.

É o melhor resultado de uma sigla de extrema direita desde março de 1933, quando os nazistas chegaram ao poder com 43% dos votos —ante 2,6% em 1928— e deram início a um governo totalitário que só chegaria ao fim com a obliteração da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Apesar da tentação de associar ambos os eventos, o contexto atual é outro. A AfD é um saco de gatos unidos por uma agenda anti-imigração e de rejeição ao projeto de integração da União Europeia. Não há também, a exemplo do fascismo de manual, uma única liderança carismática.

Muitos de seus membros demonstram simpatias públicas pelo neonazismo, num país que criminaliza qualquer elegia ao regime violento de Adolf Hitler, que levou à guerra, ao Holocausto e à divisão do país em metades comunista e capitalista por 45 anos.

Isso é preocupante, por mais que haja esforços de normalização de discurso. Não é certo, contudo, que a AfD consiga governar, dado que com 33% de votos projetados precisaria de um parceiro de coalizão ora inexistente.

Mas o que importa é a disposição do eleitor para ouvir os radicais. Evidencia disso também é o bom desempenho de uma agremiação de extrema esquerda, a BSW (Aliança Sahra Wagenknecht, nome em homenagem à sua líder), que ficou em terceiro lugar nos dois estados.

Uma colcha de retalhos política, o grupo mistura ojeriza a imigrantes, agenda econômica que beira o comunismo, conservadorismo de costumes e russofilia.

Divide bandeiras com a AfD, lembrando a dualidade paradoxal dos anos 1930, quando nazistas e comunistas se digladiavam nas ruas e urnas alemãs. Em comum com aquele tempo, o esvaziamento da política tradicional.

Os resultados, se não servem para projetar uma onda nacional, estão em linha com insatisfações registradas em outros cantos da Europa e do mundo.

Turíngia e Saxônia são estados que integravam a antiga Alemanha Oriental e têm padrão de vida inferior ao da porção capitalista do país. Pesquisas apontam ressentimento com isso, o que implica, como ocorreu no pleito francês deste ano, peculiaridades às suas escolhas —sem lhes privar do caráter de advertência.

editoriais@grupofolha.com.br

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