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Ideia vencida

Perspectiva de bloco a unir Brasil, Rússia, Índia e China apagou-se com o tempo

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os então presidentes da Rússia, da China e o então premiê da Índia, durante cúpula do Brics, em Brasília - Sergio Lima - 12.abr.10/Folhapress

Em 2001, um economista da finança global, Jim O’Neill, cunhou o acrônimo Bric com o intuito de alertar para a emergência de Brasil, Rússia, Índia e China. A ideia logo foi apropriada pelos governantes dessas nações. Sob os auspícios de Vladimir Putin, em 2006 eles fundaram uma associação, incorporando ao clube a África do Sul, e, sete anos depois, um banco conjunto.

O quarteto original àquela época já possuía poucos traços em comum, além de populações e territórios dilatados. A promessa de uma arrancada econômica centrada na China tornava-se a justificativa menos arbitrária para a aproximação dos países.

A primeira década do século 21 satisfez as expectativas otimistas. Todas as quatro economias cresceram a um ritmo relativamente forte, considerados os estágios de desenvolvimento de cada uma. O PIB brasileiro aumentou em média 3,7% ao ano, e o russo progrediu 4,8%. China e Índia, em rápida urbanização, cresceram 10,5% e 7,5% ao ano, respectivamente.

Esse quadro se alterou bruscamente a partir da segunda década do século. De 2011 a 2022, a produção brasileira mal superou o incremento populacional e cresceu em média apenas 0,9% ao ano; a russa, 1,4%. China (6,6%) e Índia (5,7%) mantiveram taxas robustas.

Concomitantemente, ocorreu uma deriva dos regimes de Moscou e Pequim rumo à concentração do poder nas mãos de seus chefes de governo. Voltou a reforçar-se a rivalidade econômica e geopolítica com as potências democráticas.

Frustrou-se a aposta econômica e complicou-se o quadro político que davam pretexto para a constituição dos Brics como associação capaz de proporcionar vantagens expressivas. Restou a conveniência idiossincrática dos governantes que passam pelo clube.

Conveniência idiossincrática é o que move o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na pressão sobre o banco dos Brics, dirigido pela correligionária Dilma Rousseff, para ajudar a salvar a Argentina de mais uma bancarrota externa às portas da eleição que porá à prova o governo Alberto Fernández, aliado ideológico do petismo.

Tão estropiada há 22 anos quanto agora nas contas domésticas e externas, a Argentina nunca deteve nem sequer a condição inicial de promessa econômica para integrar os Brics. A hipótese de oferecer um esparadrapo ao país sul-americano diz muito sobre a falta de propósito desse grupo.

editoriais@grupofolha.com.br

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