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Rosane Borges

Politicídio e tecnologia: o X da questão

Suspensão do X está relacionada a uma gestão tecnológica que atravessa as fronteiras do perímetro civilizatório

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Rosane Borges

Jornalista, escritora e professora da PUC-SP e da USP

Como somos testemunhas, vem causando espécie a suspensão "imediata, completa e integral" do X por determinação de Alexandre de Moraes. Se não estivéssemos sob a atmosfera das eleições municipais, com figuras regressivas intoxicando o ambiente cívico, a medida já seria motivo de um exame detido em torno da ação comunicativa que a tecnologia subscreve.

Venho defendendo que a suspensão do X no Brasil não pode ser comparada a um cenário de terra arrasada, como muitos analistas vêm afirmando solenemente. Amparados no argumento segundo o qual a extinção do brinquedo perigoso de Elon Musk por aqui representaria uma verdadeira hecatombe, esses analistas enxergam um desastre de proporções bíblicas que afetaria o fluxo de informações e dados com o qual figuras públicas como jornalistas, instituições públicas e privadas, políticos e alguns intelectuais azeitam as engrenagens do referido brinquedo. É preciso matizar esses argumentos, pois X não é WhatsApp, este sim com potencial para paralisar o Brasil e os brasileiros.

Montagem mostra o bilionário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), ao lado do ministro do STF Alexandre de Moraes - Etienne Laurent e Evaristo Sá/AFP

Considero a decisão do ministro acertada porque o X se tornou, como disse o historiador e jornalista espanhol Pablo Elorduy, "um terreno baldio superpovoado, hierarquizado e dominado pela extrema direita".

De visionário e "avant la lettre", Elon Musk converteu-se para muitos em Doutor Destino —o supervilão das histórias em quadrinhos da Marvel. E por que o é?

Porque fez do politicídio a dinâmica de uma rede que abdicou da transparência e fez da cultura do troll e dos memes um terreno fértil para a proliferação de fake news. A suspensão do X não está relacionada a expedientes como liberdade de informação e de expressão, mas à possibilidade de incidirmos sobre uma gestão tecnológica que vem atravessando as fronteiras do perímetro civilizatório. Com quem atravessa essas fronteiras, é preciso recorrer às formas de regulação que interditam a aberração e a anomalia.

Um homem mimado de meia-idade com muito dinheiro no bolso vem mostrando até onde se pode chegar quando se ocupa um terreno baldio superpovoado despido de qualquer princípio de transparência.

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