Governo Bolsonaro

Em novo recado a Bolsonaro, Doria lamenta 'beligerância' e pede paz e harmonia

Governador paulista afirmou que colocações que geram confronto atrapalham aprovação de reformas

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Carolina Linhares

São Paulo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que criticou declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e disse não ter alinhamento político com o presidente, voltou a alfinetá-lo nesta quinta-feira (1º).

"Acho que o Brasil precisa de paz e harmonia. Os desentendimentos, a beligerância, colocações que geram confronto neste momento, principalmente, não fazem bem ao Brasil. Temos projetos importantes para serem aprovados", disse Doria após reunião com deputados estaduais na Assembleia Legislativa.

João Doria (PSDB) durante cerimonia de diplomação de governantes na Sala São Paulo. Ele superou Márcio França (PSB) na disputa pelo governo estadual. Folhapress/Zanone Fraissat - 18.dez.2018

Doria faz reverência durante cerimônia de posse como governador de São Paulo. Folhapress/Zanone Fraissat - 1º.jan.2019

Na primeira coletiva de imprensa de seu mandato, Doria aparece ao lado do vice, Rodrigo Garcia (DEM) e do secretário da Fazenda, o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB). Folhapress/Zanone Fraissat - 2.jan.2019

Em seus primeiros dias de mandato, Doria se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), ao qual procurou se associar no segundo turno da campanha eleitoral. O tucano, contudo, vive o desafio de se colocar como alternativa para 2022 sem antagonizar com o atual presidente. Folhapress/Pedro Ladeira - 10.jan.2019

O governador João Doria cumprimenta Cauê Macris (PSDB) após vitória do aliado na eleição para presidente da Alesp. Folhapress/Eduardo Anizelli - 15.mar.2019

Obras do Rodoanel com a rodovia Dutra. O governo João Doria (PSDB) vai contratar o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para fazer um pente-fino nas já atrasadas obras do Rodoanel Norte, que teve canteiros abandonados ainda na gestão Geraldo Alckmin (PSDB). O objetivo é avaliar a condição das obras feitas até agora. Folhapress/Danilo Verpa - 28.mar.2019

O governador de São Paulo, João Doria, em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes durante entrevista à Folha. Na ocasião, ele criticou o escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, e disse que "não estava colando, nem descolando" de Bolsonaro. Folhapress/Marlene Bergamo - 31.mar.2019

Dória é associado ao Fórum Empresarial Lide, do qual se afastou ao entrar para a vida pública. Na foto, o tucano discursa durante edição do Fórum em Campos do Jordão (SP), que reuniu governadores, parlamentares e o ministro Paulo Guedes (Economia). Folhapress/Bruno Santos - 5.abr.2019

O governador disse ser necessário finalizar a aprovação da reforma da Previdência na Câmara e depois no Senado e também a reforma tributária, que será pautada em seguida no Congresso.

"Para isso [aprovar as reformas] precisamos de paz, não podemos nos dispersar em desentendimentos e conflitos", concluiu. Doria não mencionou Bolsonaro, mas fazia referência à série recente de frases do presidente que geraram repercussão negativa.

O governador já havia dito que a declaração de Bolsonaro sobre o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, era inaceitável e infeliz. Para atacar o presidente da OAB, Bolsonaro disse saber como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar.

Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi um militante de esquerda da Ação Popular Marxista-Leninista, dissidente da Ação Popular. O grupo formado pela juventude católica foi fundado em 1962 e atuava contra a ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964. Acervo da família/

Fernando Santa Cruz e o irmão Marcelo em Bairro Novo, Olinda, em 1966. Os familiares de Fernando o viram pela última vez em fevereiro de 1974, um sábado de carnaval, quando o jovem estudante de direito avisou que, caso não voltasse, provavelmente teria sido preso. Acervo da família/

Fernando, com a esposa Ana Lúcia e o irmão Marcelo, em Escada, Pernambuco, em 1967. O desaparecimento de Fernando voltou a ser comentado após o presidente Jair Bolsonaro dizer que sabe como o militante desapareceu. Acervo da família/

Fernando Santa Cruz, de camisa escura, com o irmão Marcelo e com duas cunhadas, em Escada, interior de Pernambuco, em 1967. Bolsonaro disse saber como Fernando desapareceu em episódio de conflito com a OAB, conselho que o filho do militante hoje preside. Acervo da família/

Registro de identificação de Fernando Santa Cruz. Quando desapareceu, o estudante não estava clandestino. Ele tinha um domicílio conhecido e família constituída, na qual crescia o atual presidente da OAB, Felipe, que em 1974 tinha dois anos.. Acervo da família/

Única foto de Fernando Santa Cruz com seu filho Felipe, hoje presidente da OAB, nos braços. O registro é de 1972, dois anos antes do desaparecimento de Fernando. Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, tornou-se um símbolo da luta por notícias de desaparecidos políticos durante a ditadura militar. . Acervo da família/

Para saber o paradeiro do filho, Elzita chegou a enviar cartas ao presidente Ernesto Geisel e à primeira-dama, Lucy Geisel. Em sua casa, ela mantinha um quarto para guardar lembranças de Fernando, onde estava este quadro. O estudante desapareceu no último mês do governo Médici. Acervo da família/

Na carta a Geisel, a mãe de Fernando Santa Cruz escreve: "Por que, senhor presidente, se nega em um país democrata o direito de defesa, o respeito à vida de uma pessoa? Por quê?". À primeira-dama, diz que é "uma mãe que pede à outra mãe": "Não preciso dizer que a cada resposta negativa minhas lágrimas correm sem cessar, só conseguindo suavizar meu desespero a grande fé em Deus que tenho.". Acervo da família/

Título de eleitor de Fernando Santa Cruz. Após ataque, Bolsonaro disse que os próprios militantes da Ação Popular teriam matado o estudante, ao contrário do que concluiu a Comissão Nacional da Verdade: que ele foi preso e morto por agentes do Estado. Sobre os documentos oficiais, Bolsonaro disse: Nós queremos desvendar crimes. A questão de 64, não existem documentos de matou, não matou, isso aí é balela.". Acervo da família/

Para Pedro Dallari, ex-coordenador da comissão, Bolsonaro desautorizou as próprias Forças Armadas ao chamar de "balela" documentos oficiais. "A maior parte dos documentos provém do estado brasileiro, afirmou em entrevista à Folha. A foto registra um ato de 1984 na Câmara de Vereadores de Olinda, quando o desaparecimento de Fernando completou 10 anos. Nela estão familiares do militante. Acervo da família/

Certificado de Dispensa de Incorporação de Fernando Santa Cruz. Após fala de Bolsonaro, ex-militantes da Ação Popular estão se organizando para apresentar uma queixa-crime por calúnia contra o presidente ao STF. Felipe Santa Cruz, filho de Fernando e atual presidente da OAB, ingressou com uma ação no STF para que Bolsonaro esclareça as informações que diz ter a respeito da morte de seu pai. Acervo da família/

O governador paulista, que almeja ser candidato à Presidência da República em 2022, aproveitou a declaração de Bolsonaro, amplamente criticada por setores à esquerda e à direita, para marcar posição e descolar do presidente, a quem apoiou no segundo turno da eleição no ano passado.

Doria voltou a criticar Bolsonaro ao responder sobre a lei promulgada na quarta (30), que cria o Dia de Oração pelas Autoridades da Nação na terceira segunda-feira de cada mês. A intenção do deputado Reinaldo Alguz (PV), criador da norma, é "que se torne hábito orar, e não criticar, autoridades constituídas no estado de SP e por toda a nação brasileira”.

O governador disse ter promulgado a lei porque "mal não há, não traz custo" e por não ter visto intuito censurador na parte que fala sobre "não criticar" as autoridades. Doria disse que a lei tem o sentido de agregar e unir, e traz o bom sentimento da oração, seja qual for a religião.

"Se há uma coisa que o Brasil precisa neste momento é de oração, paz e entendimento", afirmou.

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