Siga a folha

Descrição de chapéu Eleições 2020 Lava Jato

Réu na Lava Jato, ex-deputado do PP acusado com Lira reconstrói carreira como prefeito no RS

José Otávio Germano, um dos primeiros delatados na operação, se elegeu em Cachoeira do Sul

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Um antigo líder do PP intensamente alvejado pela Lava Jato no auge da operação ressurgiu para a política na eleição municipal de 2020 e agora irá reconstruir sua carreira como prefeito no interior do Rio Grande do Sul.

José Otávio Germano, 58, se elegeu à Prefeitura de Cachoeira do Sul, município de 82 mil habitantes a 200 km de Porto Alegre, dois anos após fracassar na tentativa de se manter na Câmara dos Deputados, em meio à onda de renovação do pleito de 2018.

Ele ainda é réu em processo da Lava Jato no qual é acusado de receber dinheiro de empreiteiras com contratos na Petrobras.

O ex-deputado José Otávio Germano tira foto com uma eleitora, durante a campanha municipal, em outubro - Reprodução Facebook José Otávio Germano

A ação decorre de denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) em 2017, ano de ápice da investigação iniciada no Paraná, contra um grupo de congressistas do PP que incluía Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e hoje candidato à presidência da Câmara com o apoio do governo Jair Bolsonaro.

O trecho da acusação contra Lira foi rejeitado, enquanto as imputações contra Germano e outros três ex-deputados do partido receberam aval do STF (Supremo Tribunal Federal) para seguir tramitando.

Segundo o Ministério Público Federal disse à época, Germano era um dos integrantes do PP mais envolvidos com o esquema do partido na Petrobras, que tinha como pilar o então diretor Paulo Roberto Costa, mantido na área de Abastecimento da estatal com o apoio da sigla.

Em uma segunda acusação, o novo prefeito foi incluído, ao lado de Lira, na denúncia de organização criminosa contra o chamado "quadrilhão do PP".

Sob os holofotes da Lava Jato, Germano se recolheu e pouco aparecia ou fazia manifestações públicas. Na eleição de 2018, teve um terço dos votos obtidos no pleito anterior e não se reelegeu deputado. Saiu da Câmara após seu quarto mandato consecutivo.

Antes de deixar o cargo, pediu aposentadoria por invalidez no Congresso, rejeitada posteriormente pelo comando da Câmara.

Em 2018, quando ainda era deputado, viveu uma situação de constrangimento. O PP gaúcho decidiu afastá-lo de atividades partidárias por causa de um vídeo em que transexuais cobravam, em frente a seu prédio, um pagamento. O então parlamentar dizia que era alvo de extorsão e armação.

Quando parecia fadado ao ostracismo, resolveu apostar sua força política em seu reduto eleitoral, em contraposição a um prefeito desgastado que tentava a reeleição. Primeiramente, passou por prévias do partido.

Ex-cartola do Grêmio e de família de tradição política, teve como uma de suas vitrines as verbas de emendas parlamentares que destinou para a localidade por meio de obras.

Outro mote eleitoral foi o seu alegado conhecimento sobre órgãos federais e a obtenção de verbas em Brasília.

Em entrevista, disse ser amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu ex-colega na Câmara e no partido. Uma adversária chegou a afirmar que esse seria um método de política "do pires na mão".

Contou ainda com a estrutra do PP no interior gaúcho, onde a sigla é tradicional e costuma ser campeã de prefeitos eleitos. Declararam apoio líderes como os senadores Luís Carlos Heinze (RS) e Esperidião Amin (SC), além da ex-candidata a vice-presidente Ana Amélia Lemos.

Sua condição de favorito alimentou ataques de adversários a respeito de seu histórico na Justiça e de um eventual dano à imagem da cidade.

"Eu não poderia nem ser candidato se não fosse ficha-limpa", disse o ex-deputado, em um dos debates.

Dizia que "toda a bancada do PP" tinha sido envolvida nas suspeitas levantadas pela Lava Jato e sempre negou irregularidades. Foi eleito com 31,7% dos votos válidos, ante 21,5% do prefeito Sérgio Ghignatti (PL).

A Folha procurou José Otávio Germano e pediu entrevista, mas não obteve resposta.

Ao tomar posse, na última sexta-feira (1º), o novo prefeito disse que o retorno à política municipal, depois de décadas de carreira fora, foi vontade de Deus. Também prometeu uma gestão transparente e honesta.

"Não aceito corrupção. Quem souber, quem tiver notícia, de algo que não esteja dentro dos mais sagrados princípios éticos e morais, por favor, me fale ou fale para a cidade, de alto-falante", disse, em discurso.

Uma de suas primeiras medidas no cargo agora foi ampliar o horário de funcionamento de restaurantes, limitado por causa da pandemia do coronavírus.

Além do processo criminal em tramitação, sua maior dor de cabeça na Lava Jato ainda é uma ordem de bloqueio de bens até o valor de R$ 11,8 milhões em uma ação civil de improbidade, ajuizada pela União, na qual é cobrada a devolução dos recursos supostamente recebidos no esquema na Petrobras. Nesse processo, Arthur Lira também é réu.

Nesses processos, pesa contra Germano o recebimento de doações de campanha da empreiteira Queiroz Galvão, em 2010, que seriam propina disfarçada decorrente do esquema na estatal, conforme apontado pelo doleiro Alberto Youssef, delator e articulador do caixa paralelo do PP.

O operador diz que o ex-deputado estava em uma lista de mesadas. Uma planilha de pagamentos de um auxiliar de Youssef, constavam três entregas ao então parlamentar em 2012, totalizando R$ 200 mil.

A acusação criminal apresentada em 2017 foi inicialmente enviada do Supremo para a Vara Federal de Curitiba responsável pela operação quando ele perdeu o foro especial, em 2019.

Posteriormente, os acusados conseguiram ordem no STF para transferir o caso para a Justiça Eleitoral do Distrito Federal, sob a argumentação de que as acusações tratam de financiamento eleitoral. O processo agora está sob sigilo.

À Justiça a defesa do ex-deputado negou que ele tenha cometido irregularidades. Afirmou que não há indícios concretos da prática de crimes e que as acusações se baseiam apenas nas palavras de delatores não confirmadas por outros elementos de prova. Também disse que ele recebeu de boa-fé doações eleitorais declaradas que eram consideradas lícitas na época.

Já a acusação sobre o "quadrilhão do PP" teve a parte que envolvia Germano enviada à Justiça Federal no DF, com o fim do mandato dele. Em relação a parlamentares que permanecem no Congresso, o julgamento caberá ao STF.

Uma terceira denúncia criminal contra o político, por suposto pagamento de propina da empresa Fidens, acabou rejeitada pelo STF em 2018, sob argumento de que se baseava apenas no relato de delatores.

Antes da Lava Jato, o novo prefeito já havia sobrevivido a uma crise política estadual. Chegou a ser denunciado acusado de desvios no Detran gaúcho na época em que foi secretário estadual, de 2003 a 2006.

A investigação sobre o órgão de trânsito à época causou uma das maiores crises na gestão da então governadora Yeda Crusius (PSDB), que governou de 2007 a 2010, e motivou pedidos de impeachment, também barrados.

Em 2013, o Supremo rejeitou abrir o processo contra Germano.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas