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Aliados comemoram avanço do centrão no governo, mas apontam ruídos de Bolsonaro

Com indicação de Flávia Arruda, bloco tem representante no Planalto, em cargo responsável por articulação com Congresso

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Brasília

Em um tumultuado dia com trocas de ministros, parlamentares comemoraram a saída do chanceler Ernesto Araújo e o espaço dado ao centrão no governo Jair Bolsonaro, mas reclamaram do ruído das mudanças em bloco em meio ao agravamento da pandemia da Covid.

Bolsonaro promoveu nesta segunda-feira (29) mudanças em seis ministérios: Relações Exteriores, Defesa, Justiça, Casa Civil, Secretaria de Governo e Advocacia-Geral da União.

O dia começou com a saída de Ernesto Araújo, resultado de uma grande pressão do Congresso. O estopim foi uma publicação do chanceler em suas redes sociais no último domingo (28), no qual atacou a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Araújo insinuou uma ligação do Senado com o lobby chinês pelo 5G, o que, segundo ele, estaria por trás da pressão para derrubá-lo do posto. O chanceler já havia sido exposto a cinco horas de cobranças e pedidos para a sua demissão, durante participação em sessão do Senado.

A saída de Ernesto provocou euforia em parte dos parlamentares. Em suas redes sociais, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o chanceler “já vai tarde”.

Mesmo senadores de bancadas governistas comemoraram a saída do chanceler.

“Achei ótimo que ele tenha saído. Fiquei mal impressionado só de ouvi-lo no Senado. Péssima oratória. Imagino em outra língua como deve ser. Dá pra ver que era um péssimo interlocutor”, afirmou Carlos Portinho (PL-RJ), líder do PL no Senado.

Parlamentares também comemoraram a abertura de espaço para o centrão no governo, com a indicação da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, no lugar de Luiz Eduardo Ramos, que vai para a Casa Civil.

O centrão havia externado frustração com o anúncio do cardiologista Marcelo Queiroga, há duas semanas, para substituir Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. A maior parte dos parlamentares do bloco esperava que o cargo fosse ocupado pelo deputado Doutor Luizinho (PP-RJ).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia também endossado a médica Ludhmila Hajjar, que também acabou preterida.

Com a indicação de Flávia Arruda, o centrão tem uma representante no Palácio do Planalto, em um cargo responsável justamente pela articulação com o Congresso, aumentando o poder de barganha do bloco.

Um líder do bloco lembra que a indicação de Flávia Arruda é a primeira que foi resultado de sugestão de parlamentares do centrão. Lembram que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, também integrante do bloco quando deputado pelo PSD-RN, foi uma escolha pessoal de Bolsonaro.

Com a escolha de Flávia Arruda, argumenta esse líder do centrão, Bolsonaro dá um aceno ao PL e a outros partidos do bloco sobre a importância dessas siglas para o governo e ainda melhora a interlocução com eles. No entanto, ressalta, esses partidos já vinham apoiando o governo, independente de cargos.

Por outro lado, líderes reclamaram das mudanças, em formato de bloco, e que não estavam no radar.

Defendiam modificações pontuais em posições que avaliavam que não estavam bem desempenhadas e provocavam assim prejuízos no combate à pandemia. Mas foram contra uma mudança generalizada, tirando a vaga de ministros bem avaliados pelos parlamentares.

“Eu entendo como tudo que não deveria acontecer, infelizmente está acontecendo neste momento tão difícil, tão terrível, de enfrentamento da pandemia do Covid-19”, afirmou o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS).

“É um momento de união, de darmos as mãos, de dar cada um um pouquinho mais de si para a gente poder fazer jus ao menos sofrimento dessas milhares de vidas e famílias que estão sendo ceifadas nessa pandemia."

"Mas já que teve que fazer [mudanças], que aquele que vai entrar no governo que possa ter a noção exata da responsabilidade que vai pesar sobre os ombros e que em todas essas situações devem se exercitar muito o entendimento, o diálogo, a parcimônia para que a gente possa atingir os objetivos."

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também criticou as trocas em série, principalmente o dia de avanços, recuos e rumores em torno das mudanças de ministro no pior momento da pandemia da Covid-19.

“Num só dia, cai, não cai, chanceler; cai-cai ministro da Defesa, sem causa aparente. Agora, AGU sai e ainda podemos ter novo nome na Justiça. O Brasil precisa, urgente, de sedativos nos hospitais e de antissedativos no Congresso para acompanhar a dinâmica da política brasileira”, afirmou.

A oposição, por sua vez, aproveitou para atacar a disfuncionalidade do governo Bolsonaro.

"O presidente parece que decidiu fazer um PDV [plano de demissão voluntária] no governo. Teve ministros saindo aos borbotões. Mas até agora não é possível enxergar nenhum ganho para os brasileiros que, em última análise, são os patrões desta turma”, afirmou o líder da minoria do Senado, Jean Paul Prates (PT-RN).

“Entra ministro e sai ministro e a incompetência deste governo deve continuar em alta: faltam vacinas, medicamentos, leitos de UTI e, principalmente, falta o compromisso do governo com salvar vidas nesta pandemia. Infelizmente, a população deve continuar sofrendo porque não adianta trocar os funcionários do segundo escalão, quando o problema está no chefe deles", completou.

Na mesma linha, o líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que as trocas não vão resolver o problema do governo

"Acuado pelo desastre de seu governo no enfrentamento à pandemia e na política externa, Bolsonaro substitui ministros para tentar garantir apoio político no Congresso”, disse Molon.

“Não será suficiente, porque não há partido que esteja disposto a apoiar até o fim um governo que aposta no caos. É uma questão de tempo: outras trocas virão, e não resolverão a causa do problema, que é o próprio Bolsonaro."

Vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) disse que é preciso torcer por melhores tempos.

“Amanhã, virar a página e voltar pro que interessa: oxigênio, leitos de UTI, kits de intubação, auxílio emergencial e VACINA, VACINA e VACINA”, escreveu em uma rede social. “Com tantos mortos a pauta do país não pode ser troca de ministros.”

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