Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Momento é de desarmar, o inimigo do Lula é o mesmo do Bolsonaro, é o vírus, diz ministro das Comunicações

Fábio Faria afirma que governo federal não tem sido negacionista no combate à Covid, mas rejeita autocrítica

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Brasília

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirma que o governo de Jair Bolsonaro não tem sido negacionista no combate à Covid-19 e diz que o momento é de união contra a pandemia que já matou mais de 300 mil brasileiros.

"O momento é de desarmar, porque o inimigo seu é o meu. O inimigo do Lula é o mesmo inimigo do Bolsonaro. É o vírus", disse em entrevista à Folha nesta quinta-feira (25) no Palácio do Planalto.

Deputado federal pelo PSD-RN, Faria minimiza as declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), contra a condução da crise pelo governo federal. Segundo ele, Lira é "100% fiel" a Bolsonaro, e o centrão estará apoiando a reeleição do presidente em 2022.

Por que o presidente deu uma guinada e passou a defender a vacina, mudou o discurso da pandemia, depois de um período considerado de negacionismo e de várias omissões como chefe de Estado? Primeiro, eu abomino totalmente esse nome negacionismo. Estou dentro do governo e acompanho as ações. No ano passado, o presidente dizia que queria combater o vírus e o desemprego. E a frase dele foi criticada. O que foi feito? O auxílio emergencial, o maior programa emergencial do mundo, para que, com o fechamento das atividades, as pessoas pudessem sobreviver.

Para as empresas, houve incentivos para não demitirem funcionários. Mas, no final do ano, a economia caiu 4,1%. A previsão era 10%, e muitos outros países tiveram uma recessão maior que o Brasil. Então, terminamos o ano com um desempenho na economia favorável ao que era projetado.

E, em junho, o presidente fez um acordo para a compra de doses da AstraZeneca. Em agosto, foi feita a medida provisória que garantiu a produção de 100 milhões de vacinas para este ano, em parceria com a Fiocruz. Em setembro, houve outra medida provisória, de R$ 2,5 bilhões, que o governo assinou com a Covax Facility, que a gente já recebeu uma parte das doses.

E, quando começou a ter o debate da vacina do Butantan, foi ali que teve uma politização do debate. O que aconteceu em dezembro? O presidente disse: "Eu vou comprar qualquer vacina que seja aprovada pela Anvisa. Antes da Anvisa eu não vou comprar mais". Não tem jeito.

Mas o Ministério da Saúde demorou para fechar acordos com os laboratórios e recusou três ofertas da Pfizer. Não houve falha na negociação? O que houve foi ação. A Pfizer tinha três cláusulas na negociação. E uma delas era impossível de o governo resolver e foi preciso que o Congresso resolvesse o problema. Eu mesmo telefonei ao representante da Pfizer na América do Sul e muita gente do governo tentou resolver. Bolsonaro conseguiu 100 milhões. No primeiro semestre, vão ser 14 milhões. E, no segundo semestre, a Pfizer, em vez de entregar o restante até dezembro, garantiu até setembro. Então, não houve nenhum prejuízo.

Se tivesse fechado antes, mais pessoas já não teriam sido imunizadas? Eles não aumentaram essa capacidade de entrega e não liberaram essas cláusulas. A gente só negociou no dia seguinte quando o Congresso aprovou. E, recentemente, o TCU [Tribunal de Contas da União] teve uma decisão relevante de que os governantes podem comprar vacinas desde que tenham sido aprovadas por algum órgão internacional.

O que mudou, então, no comportamento do presidente? Nós tínhamos presidentes que faziam pouco e falavam muito. E nós temos agora um presidente de um governo que faz muito. Tanto é que a quantidade de vacinas fala por si só. Nós provavelmente encerraremos o ano como o quarto país que mais vacinou. Só atrás de Estados Unidos, Índia e China. Em breve, passaremos o Reino Unido. São vacinas já contratadas. Mas hoje temos um país dividido em debate. Primeiro temos de acreditar na vacina, que vai nos dar imunidade total ou, se alguém pegar a doença, não vai ter risco de piora ou óbito.

Então valeria uma autocrítica do presidente no reconhecimento de que ele errou ao ter criticado a Coronavac e estimulado aglomerações? Sou a favor da autocrítica de todo mundo. Se o governador de São Paulo, João Doria, fizer uma autocrítica por ter liberado o Carnaval e dito que não ia acontecer nada com a Covid. Se a gente fizer uma autocrítica de que deixou a campanha [eleitoral] acontecer, com aglomerações nas 5.700 cidades. Porque ali estamos sofrendo a nova cepa, que pode ter se originado ao longo desses episódios. Aí a gente pode começar a exigir uma autocrítica.

E qual seria a autocrítica? Sou a favor de que vocês todos publiquem as matérias negativas, mas deem espaço para as positivas. Entendo que o que vende é o negativo. Eu sei que normalmente não é uma questão de ser contra o Brasil. As pessoas leem muito mais de separação do que sobre casamento.

Permita-nos discordar, ministro. É papel da imprensa mostrar as falhas que estão ocorrendo. Qual autocrítica valeria fazer? Eu acho que a gente tem de desarmar. Todo mundo. O momento é de desarmar, porque o inimigo seu é o meu. O inimigo do Lula é o mesmo inimigo do Bolsonaro. É o vírus. Então, por que a população está desacreditada?

Por que tudo o que o Bolsonaro defende a oposição a ele diz que não presta? Por que tudo o que vem da esquerda os apoiadores do Bolsonaro dizem que não funciona? Se tivesse uma união para que a gente pudesse enfrentar o vírus e deixar o ano que vem para o ano que vem, seria muito melhor. Por isso que eu falo que a autocrítica tem de ser de todos.

O senhor defendeu que é necessário desarmar. Não acha que é o momento também de desarmar esse embate do presidente com governos estaduais e municipais? Eu acho. A reunião do conselho [nesta quarta, no Alvorada] foi isso.

Mas não foram muitos governadores. Mas estavam todos representados. Havia sete governadores. O comitê está instalado. Foi combinado que pode ter renovação de outros integrantes durante o comitê. A ideia é que a gente encontre um caminho. Hoje, a própria Angela Merkel decretou o fim do lockdown, pediu desculpa e disse que foi um erro. É a chanceler da Alemanha.

Mas a situação na Alemanha está mais controlada. Ela falou que foi um erro. A gente tem de acreditar no que ela falou. Se ela dissesse que não foi um erro, tudo bem, apenas parou o lockdown. Mas ela parou e disse que foi um erro.

O senhor elogiou a Merkel por ter admitido que errou. Quando vamos ouvir do presidente: 'Eu errei'? Não é possível que não tenha um erro. Por que então a gente não fala dos acertos?

Em relação ao pronunciamento da última terça-feira (23), a Folha apontou que o presidente mentiu sobre sua condução na pandemia. Eu discordei integralmente da manchete da Folha. O pronunciamento foi 100% a linha do tempo e teve como intuito tranquilizar os brasileiros, que eles teriam vacina. Então, não teve nada que não tivesse sido amplamente divulgado pela imprensa. Nós estávamos falando de fatos.

Nós falamos da AstraZeneca, da Covax Facility e sobre a medida provisória dos R$ 20 bilhões. E tranquilizou os brasileiros. E ele manifestou sentimento às vítimas, que chegaram a 300 mil pessoas. Eu queria entender no que ele mentiu. Eu fiquei muito chateado quando vi [a notícia]. Se teve alguma mentira, eu quero que me apontem. Se não teve, eu quero que digam que não teve.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez um discurso duro em relação ao governo, falando em remédios amargos, fatais. É um sinal de que o bloco do centrão pode romper com o governo? Ele esteve hoje [quinta] com o presidente no Planalto. Ele viu que a reação da imprensa e do mercado foi diferente do que quis dizer. E ele já conversou com o presidente. O que o Arthur deixou claro para o presidente foi de que é 100% fiel ao presidente. É favorável às pautas governistas e está alinhado. Agora, ele tem críticas, como qualquer deputado, porque é presidente da Câmara.

Na reunião no Palácio da Alvorada, Lira cobrou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele se reuniu com empresários que cobraram erros na condução diplomática. A troca do chanceler não é uma forma de acalmar os ânimos? Eu não participei dessa conversa do Arthur com o presidente. Eu vi o que ele falou na reunião e o foco dele é total na condução da pandemia.

Ele disse que estava tentando contato com embaixadores e achava que o Brasil deveria manter uma relação muito próxima com os Estados Unidos, Índia e China, os três países que poderiam colaborar muito com a nossa vacinação. Um ministro jamais pode dar algum tipo de opinião em relação a outra pasta. Eu não gostaria que fizessem isso comigo.

Até que ponto a decisão do ministro do STF que permite até o momento a candidatura de Lula em 2022 contribuiu para a mudança de discurso de Bolsonaro? O efeito Lula não muda nada no PT ou no Bolsonaro. O PT continua como um player de oposição que tem capilaridade em todos os estados e municípios. E que foi para o segundo turno em 2018, já governou o país e continua sendo um partido que dialoga com os nossos opositores. Bolsonaro continua sendo presidente e, se for candidato à reeleição, e eu espero que seja, tem forte chance de vitória. Até porque temos muito o que mostrar e acreditamos que o período eleitoral é a hora em que as pessoas avaliam o que o governo fez de bom ou não.

A volta do Lula pode rachar o centro na disputa eleitoral de 2022? Para o centrão, mudou muito. Quando você tem dois políticos populares, o mais popular da direita e o mais popular da esquerda, você não dá espaço para uma candidatura de centro, é esmagada logo na saída.

O presidente se irritou em uma live presidencial com aqueles que o chamam de genocida. Como o senhor vê as acusações? Eu vejo uma guerra em que nós estamos vivendo. Tudo o que vier da pessoa que você não gosta é ruim. E tudo o que vem da pessoa que você gosta é bom. E vamos defender tudo dos nossos amigos e rebater tudo dos nossos inimigos.

Mas uma coisa me conforta. Eu vejo o artigo, por exemplo, da Mariliz [Pereira Jorge, colunista da Folha]. Ele tem 120 adjetivações contra o presidente, mas não tem nem ladrão nem corrupto. Então, isso nos deixa muito feliz. Se você for ver todas as críticas em relação ao presidente, não tem isso. Nós temos um governo que não teve nenhum escândalo de corrupção. Isso é uma conduta que o brasileiro sabe que ele é honesto, bem intencionado e quer ajudar o Brasil.

Mas tem a investigação das rachadinhas, que envolve a família do presidente. Não tem nenhum caso que esteja sendo investigado sobre o governo. Eu disse que não existe nenhum caso de corrupção no governo sendo investigado. Quem fala sobre a vida jurídica do deputado federal Jair Bolsonaro, antes de exercer o cargo no Poder Executivo, é o jurídico dele.

Raio-X

Fábio Mesquita de Faria, 43
Empresário, está em seu quarto mandato de deputado federal pelo PSD do Rio Grande do Norte e, desde o ano passado, é ministro das Comunicações

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