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Entenda caso de petista morto por bolsonarista em Foz do Iguaçu (PR)

Policial penal federal bolsonarista invade festa de aniversário e mata a tiros guarda municipal e militante petista

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São Paulo

Um policial penal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR).

Durante a ação, o petista reagiu e efetuou disparos contra seu agressor, identificado como Jorge José da Rocha Guaranho.

A Polícia Civil do Paraná a princípio disse que Guaranho também tinha morrido, mas a informação depois foi corrigida. Ele permanece internado em estado grave, mas estável.

Veja a seguir o que se sabe até agora sobre o crime.

Como e onde ocorreu o crime? O ataque ocorreu durante o aniversário de 50 anos de Marcelo de Arruda, comemorado com uma festa temática do PT.

Segundo os relatos à polícia, Guaranho passou de carro em frente ao salão de festas dizendo "Aqui é Bolsonaro" e "Lula ladrão", além de proferir xingamentos. Ele saiu após uma rápida discussão e disse que retornaria.

De acordo com as testemunhas, Arruda então foi ao seu carro e pegou uma arma para se defender.

Guaranho de fato retornou, invadiu o salão de festas e atirou em Arruda. O petista, já ferido no chão, também baleou o bolsonarista. Uma câmera de segurança registrou o crime.

Ele foi velado e enterrado nesta segunda-feira (11).

O que a polícia sabe sobre o caso? A Polícia Civil do Paraná anunciou na sexta-feira (15) a conclusão do inquérito que investigou em menos de uma semana o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho.

De acordo com a polícia, o crime teve motivo torpe e, tecnicamente, não será enquadrado como crime de ódio, político ou contra o Estado democrático de Direito, por falta de elementos para isso.

A polícia admite que tudo começou com uma provocação do bolsonarista seguida de discussão por questões políticas e ideológicas. Mas diz que, para enquadrá-lo como um crime político, seriam necessários requisitos para isso, como o de tentar impedir ou dificultar outra pessoa de exercer direitos políticos.

Jorge foi indiciado sob a suspeita de homicídio duplamente qualificado. Segundo a polícia, na tarde de sábado, Jorge estava em um churrasco regado a bebidas, lá ficou sabendo da festa temática do PT e, diante disso, decidiu agir —um outro convidado do churrasco era funcionário do clube no qual Marcelo havia alugado o salão de festas e, por isso, tinha acesso às câmeras de segurança.

O guarda municipal Marcelo Arruda, 50, em sua festa de aniversário com o tema PT - Arquivo pessoal

Qual a ligação do militante morto com o PT? Arruda era tesoureiro do PT municipal. No partido havia mais de dez anos, ele concorreu a vereador e a vice-prefeito pela sigla em eleições recentes.

O Partido dos Trabalhadores divulgou nota lamentando a morte e afirmando que ela se deu por crime de ódio por um bolsonarista.

A presidente nacional do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), divulgou fotografias do militante em sua festa de aniversário. Ele aparece posando ao lado de decorações temáticas em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao partido.

O caso pode ser federalizado? A ​PGR (Procuradoria-Geral da República) informou que compete à Justiça estadual no Paraná a investigação sobre o assassinato do petista Marcelo Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR).

Nesta segunda-feira (11), a cúpula do PT anunciou um pedido ao órgão para a federalização do caso. Na avaliação da PGR, porém, as apurações seguem curso normal naquele estado, sem indícios, até o momento, de omissão por parte das autoridades locais.

O PT defende que até hoje não houve conclusão das investigações estaduais sobre um ataque a tiros contra ônibus da caravana do ex-presidente Lula no interior paranaense, em 2018, e que o caso de Foz do Iguaçu não é uma situação isolada.

O que aconteceu com o agressor? Nesta segunda-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva de Guaranho. A decisão veio após a prisão em flagrante do atirador, no domingo e pedido do Ministério Público do Paraná e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que acompanha as investigações.

De acordo com o MP-PR, a Justiça entendeu que o policial penal coloca em risco a ordem social, "se revelando necessária a contenção cautelar para evitar a reiteração criminosa".

Segundo a Promotoria, a decisão judicial aponta que, "aparentemente por motivos de cunho político", Guaranho "praticou atos extremos de violência contra a vítima, que sequer conhecia".

Nos autos, a Justiça diz que o fato do atirador ser policial penal federal "eleva ainda mais a gravidade do delito considerando que este age (ou deveria agir) em nome do Estado, em prol dos interesses da coletividade".

Lula se manifestou sobre o caso? Sim. O ex-presidente comentou o caso em suas redes sociais e afirmou que Arruda "evitou uma tragédia maior".

Nesta segunda-feira, o ex-presidente disse que o brasileiro é "um povo de paz" e que é preciso "recuperar a normalidade" no país.

O crime pode acirrar ainda mais a disputa eleitoral? Sim. Outros episódios de violência contra o PT têm sido registrados nos últimos dias. Na quinta-feira (7), um evento com apoiadores do petista na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo de um artefato explosivo.

A bomba caseira, aparentemente feita de garrafa PET, foi lançada do lado de fora da área isolada em frente ao palanque, antes da chegada de Lula.

No último dia 15, apoiadores do ex-presidente foram alvo de drone com um líquido antes de um ato com a presença de Lula em Uberlândia, Minas Gerais.

Como a Folha mostrou, a Polícia Federal decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança do ex-presidente Lula.

O que o presidente Bolsonaro disse sobre o crime? Em sua primeira manifestação sobre o assassinato do militante petista Marcelo Arruda por um bolsonarista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que dispensa o "apoio de quem pratica violência contra opositores", mas, no mesmo pronunciamento, atacou a esquerda.

"Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", escreveu o chefe do Executivo.

A manifestação do presidente foi publicada em seu perfil nas redes sociais somente após as 19h, depois que praticamente todos os espectros políticos já haviam se manifestado em repúdio, sem condicionantes, ao episódio.

A maioria dos aliados do presidente, geralmente bastante ativa nas redes sociais, preferiu o silêncio.

"É o lado de lá que dá facada, que cospe, que destrói patrimônio, que solta rojão em cinegrafista, que protege terroristas internacionais, que desumaniza pessoas com rótulos e pede fogo nelas, que invade fazendas e mata animais, que empurra um senhor num caminhão em movimento", disse Bolsonaro.

"Falar que não são esses e muitos outros atos violentos mas frases descontextualizadas que incentivam a violência é atentar contra a inteligência das pessoas", acrescentou.

O policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho ao lado de Eduardo Bolsonaro, em 2021 - @Twitterjorgeguaranh no Twitter

Quem é o assassino do político petista? O policial penal [trabalha em unidades prisionais] bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, que matou o guarda municipal petista Marcelo de Arruda, é um dos diretores da associação onde o crime aconteceu, segundo a Polícia Civil do Paraná.

Guaranho, que foi baleado, se define como conservador e cristão. Ele usa as redes sociais principalmente para defender Bolsonaro, se diz contra o aborto e as drogas e considera arma sinônimo de defesa.

O que mostram as postagens de Guaranho nas redes sociais? Em junho de 2021, ele aparece sorrindo em uma foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do mandatário. "Vamos fortalecer a direita", escreveu em 30 de abril numa corrente da "#DireitaForte" para impulsionar perfis de conservadores com poucos seguidores.

Sua última postagem antes do crime é um retuíte de uma publicação do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, dizendo: "Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós".

Xingamentos e palavrões de cunho sexual também são comuns. "Sua bunda" e "meus ovos", respondeu a postagens da colunista Mônica Bergamo, da Folha, e do influenciador Felipe Neto em setembro do ano passado.

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