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Tarcísio tem maioria na Assembleia, mas base consolidada deve depender de cargos

Comando da Casa é disputado por partidos como PL e Republicanos, mas PT quer espaço na mesa

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São Paulo

Os deputados estaduais eleitos dos partidos que apoiaram a eleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Governo de São Paulo formam uma maioria de 63 das 94 cadeiras da Assembleia Legislativa, mas o governador eleito terá que dialogar e atrair as legendas se quiser manter essa base.

Deputados consultados pela Folha afirmam que o apoio na disputa eleitoral não significa necessariamente uma adesão ao governo, mas admitem que Tarcísio não deverá ter grandes dificuldades para aprovar seus projetos na Casa.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) discursa com aliados após ser eleito governador de São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

A maior bancada eleita é a do PL, com 19 cadeiras. O PT é o segundo, com 18 —chegando a 19 na federação com PC do B e PV. A federação PSDB/Cidadania é a terceira força da Casa, com 11. O partido de Tarcísio ocupa o quarto lugar, com 8, empatado com a União Brasil.

Basicamente, os deputados estaduais eleitos se dividem em três terços de cerca de 30 representantes —uma parte apoiou a candidatura de Fernando Haddad (PT), que foi derrotado; outra parte integrou a coligação que lançou Tarcísio; e o terceiro grupo é formado por aqueles que aderiram ao candidato do Republicanos depois que o governador Rodrigo Garcia (PSDB) foi derrotado no primeiro turno.

Ou seja, o primeiro terço, formado por partidos de esquerda e progressistas, é oposição declarada a Tarcísio, enquanto o segundo terço, formado por bolsonaristas e pelo centrão pragmático (PL, Republicanos, PSD e PSC), representa sua base fiel.

A posição do terceiro grupo, com PSDB, Cidadania, União Brasil, MDB, Podemos e PP, é que deve definir se o novo governador terá uma maioria folgada ou apertada —mas a tendência é de apoio.

A consolidação da ampla maioria depende de dois fatores, de acordo com deputados ouvidos pela reportagem. Primeiro, se Tarcísio irá abrigar todos esses partidos aliados na máquina pública paulista.

Como mostrou a Folha, além do PSDB, boa parte dos partidos (União Brasil, PP, Podemos e MDB) já estão inseridos no governo paulista e querem manter seus espaços.

Segundo aliados do novo governador, existe a disposição de avaliar indicações das siglas. Tarcísio prometeu um secretariado técnico e, por isso, os currículos, além da bênção partidária, também devem ser levados em conta.

A segunda questão diz respeito aos assuntos que Tarcísio levará para votação no plenário. Em temas de economia, em que o novo governador adota posição liberal e pró-mercado, ele deve ter o apoio de dois terços da Casa, já que o bloco alinhado a Rodrigo também defende uma agenda de direita.

O novo governador também pode conquistar o apoio dos deputados por meio do pagamento de emendas e da transferência de verba para cidades em que atuam, moeda de troca que foi usada de modo recorde por Rodrigo e João Doria (ex-PSDB).

A aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), por exemplo, exige aval de 57 dos 94 deputados.

Tradicionalmente os governadores do PSDB, partido que manteve a hegemonia no Palácio dos Bandeirantes por quase 30 anos, tinham base ampla na Assembleia. O partido costumava eleger a maior bancada, o que lhe garantia também a presidência da Casa —consolidando o total alinhamento entre Legislativo e Executivo.

Por isso, deputados da oposição, formada pela esquerda, apontam que a Assembleia se tornou um "puxadinho do Bandeirantes", por seu caráter homologatório.

Na legislatura atual, eleita em 2018, o quadro foi diferente, já que o PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro (PL) concorreu, teve a maior bancada com 15 eleitos, seguidos de PT (10) e PSDB (8). Ainda assim, o PSDB conseguiu garantir a presidência da Casa, mas Doria teve oposição à esquerda e à direita e enfrentou percalços para formar maioria em projetos polêmicos.

O ineditismo do domínio do Bandeirantes pelo centrão e pelos bolsonaristas gera dúvidas nos deputados sobre o futuro comando da Casa. Os eleitos assumem apenas em 15 de março de 2023, mas vários partidos, como PL, Republicanos e PSDB, já reivindicam o posto.

PSDB e PT, que costumavam ser as maiores forças na Assembleia, tinham um acordo de proporcionalidade, em que a presidência da mesa diretora cabia aos tucanos e a primeira secretaria, segundo posto mais importante, ficava com os petistas.

A mesa é formada ainda pela segunda, terceira e quarta secretarias, além das vice-presidências, o que possibilita abrigar vários partidos tendo como referência o tamanho das bancadas.

O PT vai defender que os deputados mantenham o acerto sobre a proporcionalidade, garantindo ao partido espaço na mesa que comanda a Casa. Segundo deputados de oposição, esse respeito ao tamanho dos partidos, em vez de isolar a esquerda, garantiria uma relação mais harmoniosa com Tarcísio.

Para o deputado Paulo Fiorilo (PT), a lógica da proporcionalidade é saudável e demonstra amadurecimento.

"Vamos manter a coerência, defendendo a proporcionalidade, que é um critério para dialogar com todos os partidos. A mesa representa as agremiações que elegeram parlamentares e precisam ter assento para conduzir os processos legislativos", diz à Folha.

O petista pondera que o bloco progressista, com 30 nomes, é expressivo e, por isso, Tarcísio terá que buscar pontes com o grupo.

As definições a respeito da base de Tarcísio e do comando da Casa dependem ainda do comportamento interno dos partidos da coligação do governador eleito, que misturam deputados mais ideológicos e ligados a Bolsonaro, como Gil Diniz (PL) e Frederico D'Avila (PL), e deputados mais pragmáticos.

A Assembleia terá características diferentes se PL e Republicanos escalarem deputados bolsonaristas ou não para postos de poder como a presidência e a liderança de governo. Na legislatura atual, houve racha entre deputados de direita alinhados a Bolsonaro e outros que aceitavam compor com o governo tucano.

Por isso, segundo deputados, é preciso medir o tamanho da bancada bolsonarista para direcionar o rumo das negociações.

O grupo inclui nomes reeleitos, como Gil, D'Avila, Major Mecca (PL), Tenente Coimbra (PL), Valéria Bolsonaro (PL), Danilo Balas (PL), Leticia Aguiar (PP), e bolsonaristas novatos, como Bruno Zambelli (PL), Tomé Abduch (Republicanos) e Lucas Bove (PL).

Colaborou Carlos Petrocilo

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