Siga a folha

Raquel Lyra vê afastamento definitivo de presidente da Assembleia de PE, agora rival

Grupo político de Álvaro Porto vai migrar para Republicanos, comandado pelo ministro Silvio Costa Filho

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Recife

O presidente da Assembleia de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), consolidou seu afastamento político da governadora Raquel Lyra (PSDB) após a filiação da sua esposa a um partido aliado do prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Esposa de Álvaro, Sandra Paes é prefeita de Canhotinho (210 km do Recife) e ingressou no Republicanos. Em Pernambuco, a legenda é liderada pelo ministro de Portos e Aeroportos do governo Lula (PT), Silvio Costa Filho.

Canhotinho é reduto político do presidente da Assembleia, que já foi prefeito da cidade, assim como seu pai e sobrinho. A cidade tem 24 mil habitantes e fica no agreste.

Deputado Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, e a governadora Raquel Lyra - Lucas Patrício / Divulgação

Desde o início de 2023, a relação política entre Álvaro Porto e Raquel Lyra é marcada por tensões. O governo atribui ao parlamentar as derrotas em votações importantes, como na discussão do Orçamento de 2024. Já o presidente do Legislativo estadual diz haver problemas na articulação política do Executivo.

O impasse levou a governadora a entrar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro André Mendonça atendeu parcialmente ao pedido de Raquel e derrubou, de forma liminar (provisória), trechos do projeto orçamentário aprovado pela Assembleia.

No início de fevereiro, o vazamento de um áudio expôs a relação desgastada entre os chefes do Legislativo e do Executivo estaduais. Na gravação, Álvaro Porto ironizou um discurso feito pela governadora na reabertura dos trabalhos na Assembleia, o que gerou reações públicas de Raquel e do PSDB, partido dos dois.

"O [discurso] dela eu não entendi nada, conversou merda demais e não disse nada", disse em um dos trechos. Em nota após o áudio vazado, Porto disse que "usou uma expressão não condizente com o contexto e local". Raquel classificou o episódio como "violência política", e o PSDB falou em "comentários agressivos".

A ida da esposa de Álvaro Porto para o Republicanos selou, segundo aliados de ambos, o rompimento político entre as duas partes. A avaliação é que já havia alguns meses que a relação era apenas institucional, o que deve continuar, segundo sinalizações mútuas.

O Republicanos é o partido mais próximo do prefeito João Campos, adversário de Raquel e cotado para ser candidato a governador em 2026 pela oposição.

Integrantes do PSB marcaram presença no evento de filiação em Canhotinho, como o deputado federal Pedro Campos, irmão de João Campos. O presidente estadual do partido, o deputado estadual Sileno Guedes, disse que o PSB está "à disposição para integrar a base aliada da prefeita de Canhotinho".

Para o entorno da governadora, Álvaro Porto está definitivamente na oposição ao governo, o que deputados próximos ao presidente da Assembleia refutam. Os aliados do deputado dizem que ele seguirá defendendo a independência do Legislativo e apoiará pautas do Executivo que interessem à população.

Um dos temores de aliados da tucana é que Álvaro tente assumir o comando do Executivo. Isso porque, até 2026, ele será o segundo na linha sucessória do estado, já que articulou a antecipação da eleição da Mesa Diretora do biênio 2025/26 para novembro de 2023, quando foi candidato único.

Aliados de Álvaro descartam a possibilidade de ele tentar assumir o Executivo, mas admitem que a antecipação da reeleição se deu por temor de que Raquel lançasse um candidato em 2025 e usasse a máquina estadual para conquistar votos na Assembleia.

O presidente da Assembleia não deixou o PSDB rumo ao Republicanos para não ter chances de perder o mandato por infidelidade partidária em caso de eventual ação de aliados de Raquel na Justiça Eleitoral.

No final de novembro, ela indicou o empresário Fred Loyo, um dos financiadores da sua campanha de 2022, para sucedê-la na presidência do PSDB em Pernambuco. Álvaro se colocou à disposição para assumir o partido, mas foi ignorado e alegou ausência de diálogo da governadora na escolha do sucessor.

A aproximação do deputado estadual com João Campos acontece de forma gradativa desde o ano passado. Os dois apoiaram a indicação do então deputado estadual Rodrigo Novaes (PSB), de oposição a Raquel, para o Tribunal de Contas do Estado.

Além disso, em dezembro, João Campos renunciou a repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para o Recife em prol de municípios menores, atendendo a um pedido de Álvaro para ajudar na arrecadação das cidades em 2023.

O movimento marca uma guinada política para o presidente da Assembleia, que foi oposição aos 16 anos de governo do PSB no estado, inclusive no auge da popularidade de Eduardo Campos (1965-2014), pai do prefeito do Recife.

No plano ideológico, Álvaro Porto, que é de direita, se alia ao partido comandado por um ministro do governo Lula em Pernambuco. Silvio Costa Filho, chefe da pasta de Portos e Aeroportos, foi aliado do atual presidente mesmo em momentos de tensão, como durante a Operação Lava Jato.

O sobrinho de Álvaro, Felipe Porto, que o sucedeu na prefeitura de Canhotinho entre 2013 e 2020, tem cargo no escritório da Infraero em Pernambuco por nomeação de Silvio Costa Filho.

Costa Filho se articula para disputar o Senado nas eleições de 2026 e quer contar com Álvaro Porto como um dos porta-vozes em defesa da possível candidatura. O ministro e o prefeito João Campos são definidos no meio político como "uma coisa só", em razão das ações políticas combinadas entre ambos.

Além da esposa, Álvaro deve filiar outros prefeitos e vereadores aliados ao Republicanos. O movimento agrada a Campos, que ganha espaço no interior se for candidato a governador daqui a dois anos.

No plano da articulação com a Assembleia, a relação de Raquel Lyra com os deputados e Álvaro Porto segue tensa.

Por outro lado, junto às cúpulas partidárias, a governadora impôs reveses a João Campos atraindo partidos que eram aliados ao PSB para o seu entorno, como PDT e PSD, o que deve enfraquecer o tempo de propaganda eleitoral do prefeito no rádio e na televisão na busca pela reeleição.

O movimento deixou o prefeito dependente do PT, que quer a vice na chapa, para ter tempo de propaganda expressivo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas